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Venezuelanas se prostituem para sobreviver em cidade fronteiriça na Colômbia

4.jun.2018 - Centenas de venezuelanos passam diariamente pela Ponte Internacional Simón Bolívar, que liga a Colômbia à Venezuela, em busca de melhores oportunidades -  Juan Pablo Bayona / Folhapress
4.jun.2018 - Centenas de venezuelanos passam diariamente pela Ponte Internacional Simón Bolívar, que liga a Colômbia à Venezuela, em busca de melhores oportunidades Imagem: Juan Pablo Bayona / Folhapress

Anastasia Moloney

Em Cúcuta (Colômbia)

11/06/2018 13h29

Cânticos religiosos na missa da noite saem de uma igreja aberta em uma praça movimentada na cidade de Cúcuta, na fronteira da Colômbia com a Venezuela, enquanto aproximadamente 20 prostitutas venezuelanas esperam clientes. 

Sentadas nos degraus de uma estátua e cercadas por motéis imundos, lanchonetes e bares, Andrea e Carolina dizem que deixaram a Venezuela para escapar da fome. 

Elas agora vendem seus corpos para sustentar suas famílias. 

"Se eu não fizer isso, eu e meus filhos não comemos. É simples assim", disse Andrea, 26, que chegou na Colômbia há quatro meses, deixando suas três crianças e sua mãe. 

"O dinheiro que eu mando de volta é o que eles usam para sobreviver." 

Seu país natal sofre os efeitos de uma crise econômica com severo desabastecimento de alimentos e remédios, situação descrita pela Organização dos Estados Americanos (OEA) como "crise humanitária". 

Aproximadamente 672 mil venezuelanos cruzaram a fronteira para a vizinha Colômbia, tanto legalmente quanto ilegalmente, desde 2015, de acordo com as autoridades colombianas. 

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O êxodo a partir do país exportador de petróleo representa o maior fluxo migratório de pessoas na história recente da América do Sul, e mostra poucos sinais de diminuição. Para algumas mulheres, a prostituição é a última e mais desesperada opção. 

Na praça Mercedes em Cúcuta, jovens venezuelanas vestindo calças apertadas e blusas decotadas --algumas não parecem nem ter 18 anos-- se espalham pelos bancos enquanto a polícia patrulha a região. 

Para Carolina, de 30 anos, um bom dia de trabalho significa conseguir três clientes, o que representa cerca de 30 dólares. Um terço disso é gasto em um quarto de motel para levar os clientes, e também em preservativos, alimentos e aluguel em um quarto dividido com quatro outras mulheres. 

"O que eu ganho aqui em um dia dura mais do que um mês para a minha família na Venezuela", disse a mãe de quatro crianças. 

A desvalorização e hiperinflação da moeda venezuelana, o Bolívar, significa que ela se tornou virtualmente inútil. 

Carolina diz que o salário mínimo na Venezuela cobre apenas o custo de um kilo de arroz ou um pacote de ovos. A situação estava tão ruim que ela finalmente decidiu pagar 9 dólares a uma gangue para fazer a travessia até a Colômbia através de um caminho ilegal. 

Até recentemente, ela nunca havia imaginado que poderia acabar vendendo seu corpo na Colômbia. 

"Eu não era prostituta na Venezuela. Eu tinha um emprego normal", disse Carolina que já trabalhou como recepcionista em uma empresa.