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Após dois dias de reunião, Europa chega a acordo vago sobre imigração

O premiê italiano, Giuseppe Conte, fala com a imprensa após reunião da cúpula europeia - Aris Oikonomou/AFP
O premiê italiano, Giuseppe Conte, fala com a imprensa após reunião da cúpula europeia Imagem: Aris Oikonomou/AFP

Gabriela Baczynska

Bruxelas

29/06/2018 20h40

Líderes da União Europeia reivindicaram sucesso nesta sexta-feira (29) ao chegarem em um acordo para controlar a imigração. O pacto, no entanto, enfrentou críticas instantâneas, sendo considerado vago, difícil de ser implementado e uma possível ameaça aos direitos humanos.

A imigração irregular tem diminuído no continente desde 2015, quando mais de um milhão de pessoas entrou na União Europeia, mas pesquisas de opinião mostram que o tema ainda é uma grande preocupação para os 500 milhões de cidadãos da União Europeia.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o novo primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, estão sob grande pressão em seus países para garantir que menos pessoas do outro lado do Mediterrâneo cheguem em seus territórios, e líderes do leste europeu são radicalmente contra aceitar esses imigrantes.

A cúpula de todos os 28 líderes da UE quase esteve perto de ser encerrada sem chegar a lugar algum, conforme os líderes seguiam em direções diferentes, concordavam e discordavam repetidamente durante a noite de quinta-feira (28), incapazes de alcançar um acordo até a manhã desta sexta.

Por fim, eles concordaram em reforçar as fronteiras externas da UE e gastar mais dinheiro em projetos na África com objetivo de impedir a imigração. Mas a redação do comunicado conjunto foi considerada confusa.

"A Europa decidiu, mesmo que tenha levado um tempo. A Europa quer proteger seus cidadãos, mas também quer cumprir suas leis e sua história e proteger mais vulneráveis", disse o presidente da França, Emmanuel Macron, que ajudou a selar o acordo após nove horas de conversas.

Problemas em casa

Merkel tem buscado espaço em uma disputa com seu parceiro de coalizão, a União Social Cristã, que exige controles mais rígidos de imigração. Ela chamou o acordo da cúpula de um "passo certo na direção certa".

"O que nós alcançamos aqui juntos é talvez mais do que eu havia esperado", disse a jornalistas Merkel, a líder da UE há mais tempo no cargo.

O italiano Conte, que exige que os outros Estados da UE façam mais para ajudar seu país com imigrantes, paralisou a cúpula por diversas horas. Ele negou mais tarde ter prometido a Merkel receber de volta pessoas que chegaram à Alemanha após passarem pela Itália.

A "imigração secundária" não deveria acontecer sob regras da UE, mas se mostrou imparável dentro da zona europeia de viagens sem controle.

Conte iniciou sua primeira cúpula da UE com uma ameaça inicial de bloquear quaisquer e todos os acordos do encontro --que também envolviam comércio, segurança, Brexit e reforma da zona do euro.

Isso forçou as negociações por toda a noite e gerou elogios de seu ministro do Interior em Roma, o linha-dura Matteo Salvini.

No final, Conte disse que a Itália não será a única responsável por todas as pessoas resgatadas no mar, enquanto Merkel recebeu garantias de combate à imigração secundária, que precisava em Berlim.

O presidente das cúpulas da UE desde 2014, Donald Tusk, disse que essa foi uma das rodadas mais difíceis de conversas em sua carreira.

"É muito cedo para falar sobre sucesso", disse Tusk em entrevista coletiva. "Nós conseguimos chegar a um acordo, mas essa é, na verdade, a parte mais fácil da tarefa, comparada ao que nos aguarda quando começarmos a implementá-la."

(Reportagem de Gabriela Baczynska, Jan Strupczewski, Elizabeth Piper, Alissa de Carbonnel, Richard Lough, Robert-Jan Bartunek, Philip Blenkinsop, Jean-Baptiste Vey, Andreas Rinke, Peter Maushagen, Noah Barkin, Robin Emmott e Francesco Guarascio)