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Três dias após incêndio que matou 14, Putin admite que submarino tinha propulsão nuclear

Por Andrew Osborn e Andrey Kuzmin

Em Moscou

04/07/2019 09h33

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, revelou nesta quinta-feira pela primeira vez que um submarino militar secreto atingido por um incêndio fatal três dias atrás tinha propulsão nuclear, levando o ministro da Defesa russo a garantir que o reator foi preservado de forma segura.

Autoridades russas foram acusadas de tentarem acobertar os detalhes completos do acidente, que matou 14 marinheiros que realizavam o que o Ministério da Defesa definiu como um estudo do leito do mar perto do Ártico.

A divulgação lenta de informações de Moscou a respeito do incidente rendeu comparações com a maneira opaca com que a União Soviética lidou com o desastre na usina de energia nuclear de Chernobyl em 1986 e com outro acidente fatal com um submarino, o naufrágio do Kursk, também de propulsão nuclear, em 2000, que deixou 118 mortos.

A Rússia, que diz que os detalhes do submarino envolvido no acidente mais recente são confidenciais, disse que o incêndio aconteceu na segunda-feira, mas só foi revelado oficialmente na noite de terça-feira.

Até esta quinta-feira nenhum comunicado oficial havia esclarecido se a embarcação tinha um reator nuclear, apesar do grande interesse das autoridades da vizinha Noruega.

Durante uma reunião no Kremlin com o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, Putin reconheceu o fato de que o submarino tem propulsão nuclear ao perguntar a Shoigu sobre o estado do reator após o incêndio mortal.

"O reator nuclear da embarcação está completamente isolado", respondeu Shoigu a Putin, segundo uma transcrição do Kremlin. "Todas as medidas necessárias foram tomadas pela tripulação para proteger o reator, que está em pleno funcionamento", acrescentou.

O incêndio irrompeu no compartimento de baterias do submarino, explicou Shoigu, e se espalhou. Embora o Kremlin tenha divulgado o encontro Putin-Shoigu na manhã desta quinta-feira, não ficou claro de imediato quando os dois se reuniram.

"Não houve nenhuma comunicação formal da Rússia a nós sobre isso", disse Per Strand, diretor da Agência Norueguesa de Radiação e Segurança Nuclear, à Reuters quando indagado se esta foi informada de que o submarino tem propulsão nuclear.

"Entendemos que eles controlaram a situação rapidamente em condições difíceis, e que não houve um incidente nuclear propriamente dito do qual eles tivessem obrigação de nos contar", acrescentou.

(Reportagem adicional de Tom Balmforth e Gabrielle Tétrault-Farber, em Moscou, e Gwladys Fouche, em Oslo)