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Iranianos vão às urnas em eleição que deve ser dominada por parlamentares de linha-dura

Por Parisa Hafezi e Babak Dehghanpisheh
Imagem: Por Parisa Hafezi e Babak Dehghanpisheh

21/02/2020 13h58

Por Parisa Hafezi e Babak Dehghanpisheh

DUBAI (Reuters) - Os iranianos votaram nesta sexta-feira em uma eleição parlamentar que provavelmente ajudará os aliados linha-dura do líder supremo a aumentarem seu controle do poder, e que ocorre num momento em que o país enfrenta uma pressão crescente dos Estados Unidos por causa de seu programa nuclear e um descontentamento cada vez maior em casa.

A televisão estatal disse que a votação foi oficialmente encerrada após ter sido estendida várias vezes para permitir que eleitores atrasados votassem. Tais extensões são comuns em eleições iranianas.

No meio da tarde, uma autoridade do Ministério do Interior disse à TV estatal que cerca de 11 milhões dos 58 milhões de eleitores registrados haviam depositado seus votos para os candidatos ao Parlamento de 290 cadeiras.

Mais cedo as autoridades iranianas previram um comparecimento de cerca de 50%, em comparação com 62% e 66%, respectivamente, nas votações de 2016 e 2012.

O descontentamento entre muitas mulheres e jovens --que compõem a maioria dos eleitores-- devido ao alto desemprego, à inflação crescente e às restrições às liberdades pessoais na República Islâmica pareciam minar a participação.

A eleição é vista como um referendo da popularidade do establishment clerical, dado que a maioria dos candidatos moderados e importantes conservadores foi proibida de concorrer.

Como milhares de candidatos em potencial foram desqualificados em favor dos aliados do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, não se espera que o pleito arrefeça o impasse nuclear iraniano com os EUA ou abra caminho para uma política externa mais amena.

O poder do Parlamento é limitado, mas o avanço de falcões da segurança pode enfraquecer pragmáticos e conservadores que apoiam a teocracia governante, mas também um engajamento mais economicamente benéfico com o Ocidente, com o qual Teerã está rompido desde a Revolução Islâmica de 1979.

Um aumento no número de radicais na assembleia também pode ajudá-los na disputa de 2021 para presidente, um cargo com amplo controle do dia a dia do governo. O presidente pragmático Hassan Rouhani venceu as últimas duas eleições prometendo abrir o Irã ao mundo exterior.

A retirada dos EUA do acordo nuclear do Irã com potências mundiais em 2018 e sua reativação de sanções atingiram duramente a economia iraniana e vêm provocando transtornos generalizados.

Um drone norte-americano matou o comandante militar mais destacado do Irã, Qassem Soleimani, no Iraque em 3 de janeiro. Teerã retaliou lançando mísseis contra alvos dos EUA em solo iraquiano que não mataram ninguém, mas causaram lesões cerebrais em mais de 100 soldados.

Estimulando os iranianos a votar, a TV estatal transmitiu imagens de pessoas em fila nas zonas eleitorais, montadas principalmente em mesquitas.

"Estou aqui para votar. É meu dever seguir o caminho do mártir Soleimani", disse um eleitor jovem em uma mesquita situada em um cemitério da cidade-natal de Soleimani em que ele está enterrado.

Os iranianos que aderiram aos protestos em novembro pediram a seus líderes que se concentrassem na melhoria da economia e no combate à corrupção estatal, além de fazer um apelo para que Khamenei renuncie.

"Não me importo com essa eleição. Moderados ou linhas-duras, todos são parecidos. Estamos ficando mais pobres a cada dia que passa", disse Pouriya, estudante universitário de 24 anos, por telefone da cidade de Isfahan. "Estou saindo do Irã em breve. Não há empregos, nem futuro para nós."

Os iranianos contatados pela Reuters em várias cidades por telefone relataram que o comparecimento dos eleitores nesta sexta-feira foi baixa.