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Brigitte Macron volta a dar aulas para adultos que abandonaram escola

Brigitte Macron volta a dar aulas para adultos que abandonaram escola - Reuters
Brigitte Macron volta a dar aulas para adultos que abandonaram escola Imagem: Reuters

16/09/2019 11h33

A primeira-dama da França, Brigitte Macron, retoma a partir de hoje (16) sua carreira de professora. Ela criou um projeto educacional para adultos que abandonaram a escola, o Instituto Vocacional para o Emprego (Live), e dará aulas de francês e literatura, uma a duas vezes por mês, para desempregados de 25 a 48 anos.

26 anos depois de conhecer Emmanuel Macron no Lycée Providence de Amiens, onde o atual presidente foi seu aluno de teatro quando tinha 15 anos, Brigitte retoma o caminho da escola. A primeira-dama inaugura hoje (16) a primeira unidade desse projeto de educação para adultos em Clichy-sous-Bois, a 24 quilômetros de Paris. Um segundo estabelecimento irá abrir as portas nos próximos meses na periferia de Valence.

Para preparar seu retorno ao ensino, Brigitte Macron fez cerca de dez visitas a Clichy-sous-Bois e participou do desenvolvimento do programa com toda a equipe educacional. Esta cidade do departamento de Seine-Saint-Denis, ao norte da região parisiense, é uma das mais pobres da França, com elevado índice de desemprego (22%).

A localidade tornou-se internacionalmente conhecida após uma onda de violência que durou várias semanas, em 2005, depois que dois adolescentes morreram ao fugir de uma perseguição policial. O município recebeu, desde então, milhares de euros em investimentos, mas a situação daqueles que abandonaram a escola e, por isso, não conseguem encontrar um emprego ou desenvolver uma atividade autônoma continua sem solução.

Maioria dos alunos são mulheres

O instituto de ensino projetado pela primeira-dama francesa vai oferecer 35 horas de aulas e oficinas temáticas semanais para adultos não qualificados, num programa de 9 meses de duração.

A primeira turma reúne 56 alunos previamente selecionados, que abandonaram a escola e estão ausentes há mais de dois anos do cadastro do Pôle Emploi, a agência nacional de empregos. A maioria são mulheres (77%) chefes de família. Os estudantes terão cursos de matemática, francês, literatura, inglês, história, e a "master class" com a mulher do presidente da República, que também é diretora-presidente do comitê pedagógico. Durante os nove meses de treinamento, atletas, artistas e personalidades irão intervir pontualmente.

Para incentivar os adultos recalcitrantes a acreditar na importância da educação, os estudantes que não faltarem às aulas receberão no final da formação um prêmio em dinheiro, além do diploma. A primeira-dama também prometeu uma visita VIP ao Palácio do Eliseu.

Brigitte Macron sempre gostou de lecionar. Ela foi professora de francês, latim, literatura e teatro de 1986 a 2015, quando interrompeu a carreira para acompanhar a ascensão política do atual presidente. Ex-alunos se referem a ela como uma professora cativante, aberta e competente, atenta ao potencial dos estudantes.

Financiamento privado

O projeto Live é financiado pelo grupo de marcas de luxo LVMH (Louis Vuitton, Christian Dior, Fendi, Sephora etc.), do empresário francês Bernard Arnault, segundo homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 103 bilhões, de acordo com a revista Forbes. A proposta foi bem recebida por profissionais da educação e tem vocação para se transformar em política pública, se demonstrar bons resultados.

Eric Charbonnier, especialista em educação na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), nota que a França registra um atraso na escolarização de adultos. Os cursos existentes são bem concebidos, mas o Estado não investe o suficiente em sua propagação em áreas necessitadas. A ministra do Trabalho, Muriel Pénicaud, disse que o país precisa desse tipo de iniciativa para incentivar pessoas que foram excluídas do sistema tradicional. Os ex-ministros socialistas Vincent Peillon e Najat Vallaud-Belkacem, do governo de François Hollande, implantaram políticas bem-sucedidas de educação de adultos, mas ainda resta muito a fazer.