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Ofensiva turca contra curdos na Síria pode gerar ressurgimento do grupo Estado Islâmico

Tanques de guerra turcos circulam na fronteira com a Síria - Bulent Kilic/AFP
Tanques de guerra turcos circulam na fronteira com a Síria Imagem: Bulent Kilic/AFP

10/10/2019 06h49

Um dia depois do início da operação militar turca no nordeste da Síria, que tem como alvos combatentes curdos aliados dos ocidentais, o país é acusado de ter atacado, nesta quarta-feira (9), uma prisão onde estão detidos vários jihadistas membros do grupo Estado Islâmico.

Os curdos alertam a comunidade internacional contra uma "catástrofe", que possibilitaria o "ressurgimento" do grupo EI, dizendo que o ataque à prisão foi uma "tentativa evidente" de ajudá-los a fugir. Em um comunicado, as autoridades curdas da Síria afirmam que o bombardeio teve como alvo um setor da prisão de Chirkin, na cidade de Kamichli, onde estão detidos jihadistas de mais de 60 nacionalidades diferentes. "Os ataques a prisões que abrigam terroristas do grupo Estado Islâmico conduzirão a uma catástrofe e o mundo não conseguirá administrar as consequências no futuro", diz o texto do comunicado.

A Turquia considera os combatentes curdos das Unidades de Proteção Popular (YPG) como "terroristas". O governo turco condena os vínculos dos YPG com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que está realizando uma guerra de guerrilha contra a Turquia. Já a comunidade internacional condenou a operação militar turca, que gera incertezas com relação à sorte de jihadistas presos controlados pelas YPG, aliados das forças ocidentais na luta contra o grupo EI. Regiões próximas à Turquia, especialmente os setores de Tal Abyad e Ras al Ain, foram bombardeadas pela aviação e artilharia turca.

A ofensiva é a terceira que a Turquia realiza na Síria desde 2016. Ela abre uma nova frente neste conflito que já deixou mais de 370.000 mortos e milhões de deslocados desde 2011. A operação deve permitir a criação de uma "zona de segurança" destinada a separar a fronteira da Turquia das posições curdas e a acolher refugiados, segundo o governo turco.

Conselho de Segurança da ONU se reúne nesta quinta-feira

Ao menos 16 integrantes das FDS (Forças Democráticas da Síria) morreram nas primeiras horas da ofensiva, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), que acrescentou que "milhares de deslocados" fugiram das áreas bombardeadas. A ofensiva provocou uma avalanche de críticas internacionais. O Conselho de Segurança da ONU se reunirá na quinta-feira (10) em caráter de urgência.

A Liga Árabe também anunciou na noite desta quarta uma reunião de emergência para o sábado, 12 de outubro, a ser realizada no Cairo, para abordar a situação. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, considerou que a operação era uma "má ideia" e disse esperar que o presidente Recep Tayyip Erdogan, atue de forma "racional" e o "mais humana possível".

A retirada das tropas americanas das regiões fronteiriças na Síria no começo da semana abriu o caminho para a ofensiva contra as milícias das YPG. Dois senadores norte-americanos, o republicano Lindsey Graham e seu colega democrata Chris Van Hollen, anunciaram a iniciativa de aplicar duras sanções à Turquia, caso o país não retire seu exército da Síria.

Este projeto imporia ao governo Trump congelar bens nos Estados Unidos dos principais dirigentes turcos, incluindo o presidente Erdogan, imporia sanções a qualquer entidade estrangeira que venda armas a Ancara e visaria também o setor energético turco. O senador Graham, um peso-pesado dos republicanos e ligado a Trump, acusou o presidente de ter "abandonado vergonhosamente os curdos" e disse ser favorável a que "Erdogan pague muito caro".

França condena ofensiva

A França condenou com veemência os ataques. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, exigiu que Ancara abandonasse a ofensiva e a Alemanha afirmou que a operação poderá "causar o ressurgimento" do EI. Já o Reino Unido expressou sua "grave preocupação". Antes do início da ofensiva, o presidente russo Vladimir Putin pediu ao seu colega turco que "avaliasse a questão."

O Egito julgou o "ataque inaceitável" e Riad condenou essa "agressão" da Turquia na Síria. O Irã também pediu nesta quinta-feira (10) que a Turquia interrompa os ataques.Em Damasco, o governo sírio anunciou quarta-feira que frustrará qualquer ataque turco ao seu território "por todos os meios legítimos" e também denunciou o reforço militar na fronteira.