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Em recessão, Alemanha cria regras para sair do confinamento e da crise

Angela Merkel, chanceler alemã - Clemens Bilan - Pool/Getty Images
Angela Merkel, chanceler alemã Imagem: Clemens Bilan - Pool/Getty Images

15/04/2020 16h51

A Alemanha, que entrou em recessão econômica devido à pandemia do novo coronavírus, vai afrouxar suas medidas restritivas ao reabrir lojas e, a partir de 4 de maio, escolas e estabelecimentos de ensino secundário.

Contudo, outras medidas de distanciamento social para evitar a propagação da covid-19 serão mantidas, como explicou a chanceler Angela Merkel hoje.

Reuniões de grande público, como competições esportivas ou concertos, continuarão proibidas pelo menos até 31 de agosto, anunciou a chefe de governo após uma reunião com os líderes dos 16 estados regionais.

O "sucesso" da Alemanha contra a covid-19 permanece "frágil", alertou a chanceler em uma entrevista coletiva. Por isso, agrupamentos de mais de duas pessoas permanecerão proibidos até 3 de maio e regras de distanciamento de pelo menos 1,5 metro continuarão em vigor, acrescentou Merkel.

As escolas alemãs poderão começar a reabrir em 4 de maio, inicialmente para os estudantes mais velhos. Para acompanhar esse relaxamento das regras, o governo alemão recomenda fortemente o uso de máscaras de proteção nas lojas e nos transportes públicos.

Remédio contra a epidemia, veneno contra a economia

Fechamento de restaurantes, lojas não essenciais e distanciamento social são medidas que "funcionam" contra a epidemia, mas que, como em outros países, prejudicaram a economia alemã. Essa é a avaliação do Instituto Robert Koch, responsável pelo monitoramento epidemiológico no país.

A Alemanha está em recessão "desde março", disse o ministro da Economia nesta quarta-feira, alertando que essa situação poderá durar "até o meio do ano", sem contar com a possibilidade de um agravamento da situação em abril.

Já bastante enfraquecida ao longo de 2019 pelas tensões do comércio internacional, que minaram as oportunidades de um modelo econômico baseado nas exportações, a economia alemã está sobrecarregada há vários meses pela crise do coronavírus.

O PIB alemão deverá cair 10% no segundo trimestre, algo inédito na história recente do país, segundo projeções conjuntas dos principais institutos econômicos publicadas na semana passada. Segundo essas mesmas fontes, a taxa de desemprego deve subir para 5,9% da população ativa, ou 2,5 milhões de desempregados.

Grandes grupos ameaçados

A indústria de exportação, principal pilar da economia alemã, tem sido particularmente afetada pela crise, que atinge pontos de venda e diminui significativamente o comércio internacional.

A situação é desastrosa para o setor automotivo, que sofre sua pior queda em quase 30 anos devido à pandemia mundial. De acordo com a diretoria da montadora BMW, a crise ameaça até a existência de grandes grupos. Vários fabricantes fecharam parte de suas fábricas na Alemanha em março, como a Volkswagen e a Daimler.

A produção alemã caiu 37% no total em março, enquanto a demanda doméstica teve uma queda de 30%, segundo a federação de fabricantes alemães. Diante da crise, mais e mais vozes se levantaram nas últimas semanas para aliviar as restrições impostas pelo confinamento, a fim de retomar a força produtiva do país.

O influente líder da região da Renânia do Norte-Vestfália, o conservador Armin Laschet, pressionou recentemente Angela Merkel pedindo "uma perspectiva de normalização" para uma saída drástica das restrições impostas à população.

Mesmo que as medidas de contenção sejam possivelmente relaxadas, a situação só deve melhorar gradualmente, como alertou nesta quarta-feira o Ministério da Economia.

Ajuda bilionária

Para lidar com a crise, Berlim adotou um plano de recuperação no valor de várias centenas de bilhões de euros, incluindo medidas de garantia de empréstimos públicos e ajuda direta às empresas.

Representando um volume de 1,1 bilhão de euros, esse plano é "sem precedentes para a Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial", de acordo com Berlim. O dispositivo de desemprego parcial foi facilitado pelas autoridades e cerca de 725.000 empresas em todo o país se inscreveram para receber o benefício.

Em outras partes da Europa, vários países, como Espanha e Áustria, também começaram a diminuir as restrições para determinadas empresas, a fim de evitar uma crise econômica muito grave.

A Alemanha tem 127.584 casos declarados de coronavírus e 3.254 mortes, segundo balanço do Instituto Robert Koch.