Topo

Esse conteúdo é antigo

Coronavírus: Argentina estende quarentena até 7 de junho, a mais prolongada do mundo

03.abr.2020 -  Idoso em frente a um banco, aberto pela primeira vez desde a quarentena obrigatória em Buenos Aires, na Argentina - Agustin Marcarian/Reuters
03.abr.2020 - Idoso em frente a um banco, aberto pela primeira vez desde a quarentena obrigatória em Buenos Aires, na Argentina Imagem: Agustin Marcarian/Reuters

Márcio Resende, correspondente em Buenos Aires

24/05/2020 04h30

Mesmo com um baixo número de vítimas em relação aos países vizinhos, o presidente argentino anunciou uma nova extensão da quarentena com endurecimento de restrições em Buenos Aires e com foco nas favelas da capital argentina.

Apesar de a Argentina registrar 11.353 casos e 445 mortes, o presidente Alberto Fernández anunciou que o isolamento social obrigatório vai agora até o dia 7 de junho, levando a Argentina, ao lado de Nova Yok, a ter a mais prolongada quarentena do mundo. Iniciado em 20 de março, o confinamento argentino terá, por enquanto, 80 dias de duração, acima de França, Itália, Espanha e até mesmo de Wuhan, na China.

"Vamos prorrogar até o dia 7 de junho, inclusive", anunciou Alberto Fernández, quem se irritou contra os que o acusam de promover a mais prolongada quarentena do mundo.

"O que me importa quanto vai durar a quarentena se, nas duas últimas semanas, quintuplicamos os contágios? A quarentena vai durar o que tiver de durar para que os argentinos tenham saúde", rebateu energicamente. "São especulações e análises. Na hora de escreverem teorias é muito fácil", acusou.

A decisão de estender e até de aprofundar a quarentena também vai no sentido contrário da flexibilização adotada por países da região que, assim como a Argentina, têm baixo índice de casos e de mortes, como Colômbia, Paraguai e Uruguai.

Preocupação com Buenos Aires

Mas enquanto o interior do Argentina manterá uma flexibilidade das atividades que, segundo o presidente, permite que a economia dessas províncias tenha recuperado mais de 80% da sua capacidade, a parte mais rica e motor econômico do país, terá um endurecimento das restrições devido à multiplicação dos casos, especialmente nas favelas da capital argentina.

"Nos últimos 15 dias, do total de casos confirmados, 87,5% foram na área metropolitana de Buenos Aires. Isso mostra o grau de concentração do problema que temos nessa zona", diferenciou Fernández.

Na capital argentina vivem três milhões de pessoas. Nos municípios vizinhos, sem divisão com a capital, mais dez milhões. A área metropolitana de Buenos Aires, que tinha experimentado uma ligeira flexibilização, há duas semanas, passará agora por rígidos controles na circulação em transporte público e no recuo da incipiente reabertura de comércios.

O atual movimento nos transportes públicos representa 25% do habitual registrado antes da quarentena. Mesmo assim, para evitar um aumento dos contágios, somente os trabalhadores de atividades consideradas essenciais poderão usar ônibus, trem e metrô. Também haverá um recadastramento das permissões de circulação para carros particulares com maior rigidez nas autorizações.

Foco nas favelas

O foco de preocupação do governo é com as favelas de Buenos Aires, aqui chamadas de "bairros populares", onde o vírus começou a ser detectado há duas semanas. Desde então, foram registrados 2.116 casos. Mais da metade das pessoas testadas diariamente tem resultado positivo.

"Nos últimos 15 dias, vimos que o vírus entrou nos bairros populares, onde a densidade demográfica é mais alta, aumentando a velocidade de contágio. Vamos concentrar esforços nesses bairros populares onde há muita gente em pouco espaço", apontou o presidente.

Enquanto a duplicação de casos acontece a cada 33,7 dias no resto do país, na área metropolitana de Buenos Aires, a média cai para 11.6 dias. Mesmo fora das favelas, o número de casos em Buenos Aires multiplicou-se por cinco nas duas últimas semanas.

Na área metropolitana de Buenos Aires, morreram 327 pessoas. Atualmente, o nível de ocupação das UTIs do país é de 50%, sendo 5% com casos de coronavírus. Na capital, os casos de coronavírus ocupam 15% das UTIs.

Quarentena desproporcional

A América do Sul, novo epicentro do coronavírus no mundo segundo a OMS, divide-se hoje entre países onde o contágio e as mortes aumentam vertiginosamente como Brasil, Peru, Equador, Chile e Bolívia, e aqueles países que conseguiram conter o avanço da doença como Uruguai, Paraguai, Colômbia, e Argentina.

Mas, mesmo com a Argentina no segundo grupo, Alberto Fernández preferiu comparar o país ao primeiro para justificar uma nova extensão da quarentena. A estratégia de comparar o mau desempenho do Brasil e do Chile para exaltar o bom desempenho argentino já lhe valeu respostas dos governos vizinhos.

Comerciantes, empresários, economistas e a oposição têm acusado o presidente de "estar apaixonado" pela quarentena que lhe proporcionou altos índices de popularidade e destruir a economia em vez de administrar uma flexibilização paulatina, a exemplo dos países europeus que pior situação tiveram.

"Na Europa e nos Estados Unidos, não existem esses bairros populares como na América Latina", justificou.

Confrontado com fato de os argentinos estarem angustiados psicologicamente por estarem confinados desde 20 de março, Alberto Fernández irritou-se com os jornalistas que destacam essa angústia nos seus comentários.

"Deixem de semear angústia. Angustiante seria se o Estado não cuidasse das pessoas. Aqui estão acontecendo coisas sérias", sentenciou.