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Otimismo sobre hipotético fim da epidemia preocupa autoridades francesas

Hospital de campanha montado perto de Mulhouse, no leste da França, em março - Sebastien Bozon/AFP
Hospital de campanha montado perto de Mulhouse, no leste da França, em março Imagem: Sebastien Bozon/AFP

24/05/2020 17h02

Ainda é cedo para deixar de lado a prudência e os gestos que protegem do coronavírus, principalmente a distância física, alertam autoridades sanitárias no país.

Nos últimos dias, estudos publicados em revistas científicas e declarações de especialistas em doenças infecciosas trouxeram otimismo sobre um possível fim da pandemia ou pelo menos de uma circulação restrita do vírus, que impediria uma segunda onda de contaminações e um novo confinamento da população.

Além das pesquisas, a queda diária no número de hospitalizações na UTI desde o dia 11 de maio, quando o governo francês anunciou a flexibilização das medidas de confinamento, gera otimismo na população.

Mas, segundo as autoridades sanitárias francesas, ainda é cedo para comemorar e relaxar nas medidas de prevenção. "Tudo o que posso dizer é que hoje, não há sinais de alerta. Mas ainda é cedo para afirmar que daqui para a frente tudo correrá bem", declarou à agência France Presse o epidemiologista Daniel Lévy-Bruhl, responsável da unidade de infecções respiratórias da Agência Nacional de Saúde Pública francesa.

Ele também considera prematuro apostar na "imunidade cruzada". De acordo com essa hipótese, citado em um estudo recente, da revista Cell, muitas pessoas não seriam sensíveis ao coronavírus por conta de outros anticorpos não-específicos à doença.

"Existe um descompasso entre o que podemos medir hoje e o que esses dados representam: o que medimos hoje, ainda corresponde aos benefícios do confinamento", lembra. "Hoje, ninguém pode afirmar o que vai acontecer", diz Nicolas Hoertel, psiquiatra do hospital Corentin-Celton, em Issy-les-Moulineaux, na região parisiense.

"Talvez na semana que vem teremos mais elementos", diz Lévy-Bruhl. Segundo ele, o retorno da epidemia em sua fase de pico não pode ser descartado, o que acarretaria um novo confinamento. Em entrevista à rádio francesa France Info, o virologista Christian Bréchot acredita que a França esteja no bom caminho, mas seria irresponsável "comemorar vitória por antecipação."

O médico Yonathan Freund, que trabalha no Pronto Socorro do hospital Pitié-Salpetrière, em Paris, e defende a tese de que a epidemia pode de fato estar chegando ao fim, respondeu às críticas. "Entendo que todos evitem fazer uma nova profecia, porque todo mundo se enganou no começo da epidemia, inclusive eu", declarou à rádio francesa.

No Twitter, ele publicou uma mensagem dizendo que, na sua opinião, não haverá uma segunda onda."Essa é minha impressão como cientista, pesquisador, professor e não vejo porque não dizer. Temos que parar de infantilizar as pessoas."

Manter as contaminações num nível aceitável

Para as autoridades sanitárias francesas, o fim do confinamento deverá automaticamente provocar um aumento do número de infecções, já que os contatos entre as pessoas se multiplicam. A questão é manter esse aumento num nível aceitável, diz. Dr Lévy-Bruhl. "O risco de uma segunda onda existe. Cabe a nós, coletivamente, evitar que ela aconteça", conclui.