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Reino Unido, país com mais mortos pela covid-19 da Europa, abre economia com cautela

Reino Unido é o país mais afetado pela pandemia do novo coronavírus na Europa                              - TOLGA AKMEN / AFP
Reino Unido é o país mais afetado pela pandemia do novo coronavírus na Europa Imagem: TOLGA AKMEN / AFP

Vivian Oswald

Correspondente da RFI, em Londres

11/06/2020 05h01

Criticado pela demora para determinar a quarentena, o Reino Unido reabriu mais um pouco a economia. O ritmo é certamente mais lento do que gostariam os britânicos, mas os números de contaminações e mortes por Covid-19 no país, o mais afetado da Europa, ainda exigem cautela, como salientou o próprio primeiro-ministro, Boris Johnson.

Até a próxima segunda-feira, todo o comércio volta a funcionar. Mas ainda não há previsão para bares, restaurantes, nem os tradicionais pubs. Ainda não se sabe quando a vida poderá voltar ao normal tão cedo. Só quando a situação estiver sob controle, o que não aconteceu.

As escolas, por exemplo, só serão totalmente reabertas em setembro. O Reino Unido demorou mais para fechar a economia do que os outros europeus. É cedo para se fazerem ilações, mas o fato é que o país acabou se tornando a nação mais afetada da Europa em número de mortes. Já são mais de 41 mil óbitos, de acordo com números oficiais divulgados diariamente pelo Ministério da Saúde.

Mas, na terça-feira, o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS) informou que as mortes no país podem chegam a 50 mil. A diferença teria sido computada a partir dos óbitos nas casas de repouso da Irlanda do Norte e País de Gales. Essa semana, o especialista Neil Ferguson, ex-chefe das pesquisas da Imperial College, afirmou que, se tivesse fechado tudo uma semana antes, o país poderia ter poupado milhares de vidas.

Vale lembrar que essa é a universidade britânica que convenceu os governos de Boris Johnson e de Donald Trump, nos Estados Unidos, a mudar suas estratégias e partir para o isolamento social. O primeiro-ministro britânico rebateu o cientista e disse que não é hora se de pensar a posteriori.

Bolhas de apoio familiar

Parte do comércio está sendo reaberta a partir desta quinta-feira. O restante volta a funcionar na próxima semana. Esses são os chamados estabelecimentos não essenciais, que estavam fechados desde o dia 23 de março, quando começou o confinamento oficialmente. Foram 82 dias sem abrir para o público, "o maior desafio da história para o setor", segundo Johnson.

Também reabrirão as portas na semana que vem atrações em espaços abertos, como safaris, cinemas drive-in e os jardins zoológicos. Todos eles poderão funcionar desde que respeitem as novas regras de isolamento e higiene.

Uma outra novidade que passa a valer neste fim de semana é o que eles resolveram chamar de "bolhas de apoio" - a permissão para que, quem vive sozinho em casa, ou pais solteiros com filhos menores de 18 anos, possam frequentar os integrantes de outra casa, como se vivessem todos debaixo do mesmo teto. Mas é preciso escolher uma família apenas. A medida foi tomada para reduzir a solidão de quem mora sozinho. E não vale para as pessoas que estão no grupo de risco.

A partir desta quinta-feira, quase todos os países da Europa reabrem as suas fronteiras entre si. Há algumas exceções. E o Reino Unido é uma delas, pois decidiu impor uma quarentena de 14 dias a todos os estrangeiros e nacionais que chegarem no país por terra, água e ar. Na contramão do resto do mundo, o governo britânico resolveu impor só agora essa quarentena.

Foi a primeira medida tomada pela maioria das nações do mundo para conter as contaminações pelo novo coronavírus logo no início da pandemia. A explicação, segundo a equipe de Johnson é que, agora que as infecções domésticas diminuíram, é preciso evitar as importadas. A iniciativa desagradou as três maiores companhias aéreas britânicas, que foram à justiça contra a medida, que acham um tiro no pé. O setor foi um dos mais abalados da economia mundial.

Os voos no Reino Unido nunca foram totalmente suspensos, mas os passageiros estavam impedidos de fazer viagens que não fossem consideradas essenciais. A nova restrição deve fazer as pessoas pensarem duas vezes antes de tomar um avião para o país.

Executivos das empresas dizem não entender que diferença faz obrigar as pessoas a deixarem um número de celular com as autoridades para garantir que estão cumprindo a quarentena. "Elas podem atender de um campo de golfe ou da praia, disse a Ryanair em um comunicado. Essas pessoas, segundo a companhia, poderão tomar o transporte público para chegar aos seus destinos e não há nada que as impeça de ir ao supermercado no caminho antes de começada a contagem da quarentena.

"Uma vez que cheguem ao endereço da quarentena, o governo britânico vai ligar para menos de 1% dos visitantes, mas apenas em um número de celular, que poderá ser respondido de um campo de golfe, da praia, de um parque ou de um supermercado, o que faz dessa quarentena medusa ineficiente e inútil", diz o documento da aérea.

Tudo isso cria ainda mais ansiedade num momento em que o país tenta retomar a economia. A previsão é de uma queda importante para o ano, de 14%, o pior resultado desde 1706, segundo o Bank of England, que é o banco central britânico.

Governo avalia reabertura das fronteiras

Há muitas críticas sobre a velocidade dessa reabertura britânica. E também sobre a estratégia de combate ao novo coronavírus como um todo no país. É cada vez mais frequente ouvir por aqui que, passado o pior da crise, deve-se abrir uma investigação para avaliar como o governo conservador de Boris Johnson conduziu a resposta britânica à pandemia. Isso explica, em boa medida, por que tanta cautela agora.

As autoridades sabem que os números ainda não são bons, e, por isso, não querem arriscar. No dia 4 de julho, o governo deve reavaliar se poderá abrir outros setores da economia. E, em três semanas, a questão das fronteiras. É possível que crie corredores de viagens com os países que considerar mais seguros.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do publicado no titulo, o Reino Unido não integra mais a União Europeia. A informação foi corrigida.