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'Crise mostra necessidade de soberania europeia', dizem Macron e Merkel na Alemanha

"Depois da pandemia, o mundo será diferente do que era", observou a chanceler alemã - AFP
"Depois da pandemia, o mundo será diferente do que era", observou a chanceler alemã Imagem: AFP

29/06/2020 16h46

Emmanuel Macron foi o primeiro líder internacional a ser recebido pela chanceler alemã, Angela Merkel, após a reabertura das fronteiras, que haviam sido fechadas para combater a propagação da covid-19. O presidente desembarcou em Meserberg, na Alemanha, praticamente na véspera de o país assumir a presidência da União Europeia (UE). No encontro, os dois destacaram a importância da coesão franco-alemã diante dos desafios futuros.

Em entrevista coletiva que reuniu os dois líderes, a anfitriã disse que estava feliz de poder receber o presidente francês. "Vivemos numa época difícil", observou a chanceler, referindo-se à epidemia de covid-19 e à crise econômica enfrentada pela União Europeia, e destacando que "França e Alemanha irão unir esforços e se apoiar mutuamente".

Merkel e Macron citaram a criação do fundo de relance da economia na União Europeia como uma oportunidade para trabalharem juntos. "Queremos que a França e a Europa estejam unidas nesse desafio", disse Merkel. "Vamos ser fortes e poderemos exercer o nosso papel no mundo", acrescentou, citando as mudanças climáticas e a revolução digital como grandes desafios no futuro próximo.

"Essa crise terá efeito ainda por muito tempo", completou a alemã, lembrando que a Alemanha assumirá a presidência da União Europeia em 1º de julho, ao lado de Portugal e da Eslovênia. A chanceler ainda destacou a "importância do conselho Europeu de 17 e 18 de julho", em que os estados poderão tratar do orçamento e do plano de relance da economia.

"Depois da pandemia, o mundo será diferente do que era", observou a chanceler alemã. "Mais do que nunca é preciso investir no futuro, nos grandes desafios como a luta contra o aquecimento global", acrescentou, lembrando que, no outono, o bloco pretende aumentar esforços para a redução da emissão de gases de efeito estufa até 2030.

Soberania

Sobre a transição digital, Angela Merkel afirmou que o bloco deve trabalhar por uma "maior soberania europeia". "Soberania digital não quer dizer que devemos ser capazes de fazer tudo, mas que é importante sabermos o que devemos conhecer", afirmou. "Enquanto UE, devemos trabalhar nossa relação com o resto do mundo, com África e China", citou.

De acordo com Merkel, a situação da Líbia também estava na pauta do encontro com Emmanuel Macron, onde seriam abordados, ainda, diversos assuntos bilaterais. Os dois líderes ainda têm um jantar na noite desta segunda-feira.

Emmanuel Macron começou falando aos jornalistas sobre a "transformação profunda por que a sociedade passou, o choque econômico e sanitário" a que os dois países foram submetidos, desde o último encontro com Merkel, há dois anos, na Alemanha.

"Durante a crise, mostramos nossa força e resiliência", disse Macron. "Selamos um acordo histórico no dia 18 maio, que resulta não só de três semanas de discussão, mas de três anos de trabalho", ressaltou.

Momento da verdade

Macron citou os avanços feitos sobre um orçamento comum, medida que era considerada muito difícil antes da crise sanitária. "Chegamos a um momento da verdade para a Europa, com um engajamento franco-alemão determinado e podemos fazer desse momento da verdade, um momento de sucesso", para uma "Europa mais solidária e soberana", disse.

Emmanuel Macron comemorou "o empréstimo comum de pelo menos — 500 bilhões de subvenções orçamentárias para as regiões mais atingidas" pela covid-19.

Entre outros assuntos importantes a serem tratados pela Europa no futuro próximo, o presidente citou o Brexit e a relação com o Reino Unido, que deverá ser "cooperativa e justa". De acordo com ele, "nunca poderemos aceitar que estar fora da União Europeia permita acessar nosso mercado sem respeitar nossas regras, o que seria o inverso de uma Europa soberana".

O desafio do clima também esteve na pauta. "Devemos estar atentos para que o plano de relance Europeu e nacional respeite os objetivos de redução de emissões de gases de efeito estufa", rumo a uma "neutralidade de carbono, até 2050", afirmou. O presidente francês ainda citou as propostas da convenção Cidadã do Clima, aprovadas na França, e que segundo ele "combinam com uma Europa forte, com soberania alimentar e industrial".

"A crise acelerou a conscientização coletiva, ao revelar nossas fragilidades e, às vezes, dependência", completou Emmanuel Macron, citando os medicamentos contra a covid-19 fabricados, em sua maioria, fora da Europa. "Isso tudo mostra uma mudança de modelo e o fim da inocência", disse.

A relação com a China e a presença da Europa em zonas de conflito mundial também estavam na agenda. Em conclusão, o presidente francês pediu aos cidadãos europeus que percebam a importância de o bloco estar afinado em suas ideias.

"Em outros países afetados pela covid-19, a ajuda às empresas e aos cidadãos não foi maciça" como aconteceu na Europa. "Em muitos lugares, a epidemia foi sinônimo de suspensão da vida democrática, mas não na Europa", reiterou o presidente, destacando o que considera um exemplo de "solidariedade e liberdade".