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Genocídio indígena: Mourão diz que Bolsonaro não deve ser comparado a Hitler

Vice-presidente também retrucou as críticas sobre a gestão do desmatamento da Amazônia, afirmando que "desde maio, as queimadas caíram 7%" no país - Francisco Stuckert/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Vice-presidente também retrucou as críticas sobre a gestão do desmatamento da Amazônia, afirmando que "desde maio, as queimadas caíram 7%" no país Imagem: Francisco Stuckert/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Martin Bernard, correspondente da RFI em São Paulo

04/08/2020 11h45

O vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, conversou com os correspondentes da imprensa internacional ontem. Por meio de videoconferência, ele defendeu Jair Bolsonaro (sem partido) e disse que o chefe de Estado não compactua com o extermínio dos povos indígenas, como vem sendo acusado. Para ele, o líder brasileiro não deve ser comparado a ditadores.

A entrevista foi dada no momento em que o Brasil contabiliza 95 mil mortos vítimas da pandemia de covid-19 e que a estratégia de saúde pública do governo é criticada dentro e fora do país.

Os 800 mil índios do Brasil estão particularmente vulneráveis diante da pandemia. Morando em zonas isoladas, onde o acesso aos serviços de saúde é muitas vezes difícil, eles são muito mais expostos ao vírus. Segundo a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), 17.071 casos de contaminação e 544 mortes foram registrados entre os povos autóctones.

Foi nesse contexto que o vice-presidente decidiu convocar os correspondentes da imprensa internacional no Brasil para uma entrevista. Mourão disse que as críticas visando a gestão brasileira da pandemia são fruto de análises errôneas. "O país apresenta 1,7 milhão de curados, o índice de óbitos baixou de 8% para 4%, o país está agindo de acordo com todos os protocolos, embora só se fale da cloroquina e da hidroxicloroquina", explicou o militar.

Segundo ele, Jair Bolsonaro é vítima de uma perseguição, que tem contribuído para a imagem negativa do Brasil no exterior. Principalmente no que diz respeito à relação do governo com as comunidades indígenas e quilombolas. O chefe de Estado chegou a ser alvo, ainda no ano passado, de uma acusação formal de genocídio apresentada pelo Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos e pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns no Tribunal Penal Internacional (TPI).

"Um verdadeiro absurdo", retrucou Mourão. "Genocídio? Genocídio fez Hitler com os judeus, os turcos com os armênios, fez Ruanda nos anos 1990, fez o Stalin na União Soviética. Há um compromisso do governo com a proteção dessas populações, de acordo com a Constituição", disse o vice-presidente. Ele insistiu que "o combate ao coronavírus é diferente de país para país. O Brasil é muito desigual geográfica e socialmente", martelou.

Queda nas queimadas e eleição de Trump

Mourão declarou ainda que a situação dos indígenas é melhor que a do restante da população brasileira, tanto em porcentagem de pessoas contaminadas quando em porcentagem de mortes provocadas pelo novo coronavírus. O vice-presidente também retrucou as críticas sobre a gestão do desmatamento da Amazônia, afirmando que "desde maio, as queimadas caíram 7%" no país.

Ao falar sobre a política externa, Mourão se mostrou sereno diante do contexto norte-americano. Segundo ele, o resultado da corrida pela Casa Branca em novembro pouco mudará a parceria entre Brasília e Washington. "Os Estados Unidos são aliados históricos do Brasil. Uma aliança baseada em valores como a democracia, o capitalismo, o estado de direito, uma sociedade civil forte. Caso Joe Biden ganhe as eleições, as relações entre os países continuarão as mesmas", concluiu.