Topo

Esse conteúdo é antigo

Covid-19: Israel fecha espaço aéreo por uma semana para afastar mutações

Netanyahu disse que a medida significa um "fechamento hermético" dos céus, mesmo que estejam previstas exceções - AMMAR AWAD/Reuters
Netanyahu disse que a medida significa um "fechamento hermético" dos céus, mesmo que estejam previstas exceções Imagem: AMMAR AWAD/Reuters

Daniela Kresch

Correspondente da RFI em Tel Aviv

26/01/2021 06h10

Israel fechou o maior a aeroporto internacional do país por uma semana para evitar a chegada de variantes mais contagiosas do coronavírus. O fechamento do Aeroporto Internacional Ben Gurion, nos arredores de Tel Aviv, entrou em vigor à meia-noite. A partir de hoje nenhum voo comercial internacional poderá desembarcar em Israel ou embarcar para o exterior.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que a medida significa um "fechamento hermético" dos céus, mesmo que estejam previstas exceções como casos urgentes ou humanitários e voos que já estavam no ar quando o fechamento ocorreu. Por motivos jurídicos, também será permitida a movimentação de aviões particulares.

Israel tem um outro aeroporto internacional no sul do país, perto do balneário de Eilat, mas ele está praticamente às moscas por causa da ausência quase total de turistas estrangeiros.

Na semana passada, Israel já havia proibido voos do Brasil e da África do Sul por causa das novas variantes do coronavírus detectadas nesses países. Israel também já havia decretado quarentena de 14 dias para todo e qualquer visitante, com exceção de quem mostrasse testes negativos de detecção do vírus de no máximo 72 horas antes do embarque.

Mas agora, a ideia é fechar o máximo possível as fronteiras até o fim de janeiro, prazo esse que pode até ser estendido. A chefe dos serviços de Saúde do governo, Sharon Alroy-Preis, disse que o melhor seria fechar as fronteiras por algumas semanas para evitar que as variantes mais contagiosas do coronavírus entrem no país.

O temor é que essas variantes atrapalhem a campanha de vacinação, que é uma das mais avançadas do mundo. Ainda não se sabe se essas mutações do Sars-Cov-2, o vírus que causa a Covid-19, são resistentes à atual vacina da Pfizer, a que está sendo ministrada nos israelenses.

A vacina parece ser eficaz contra a variante britânica, que já é responsável por 40% das infecções por coronavírus em Israel. Mas parece ser menos eficaz contra a variante da África do Sul, que chegou ao país através de turistas israelenses que foram a Dubai depois do recém-firmado acordo de paz com os Emirados Árabes Unidos.

O objetivo, então, é tentar vacinar a maior parte dos moradores do país para tentar evitar que essas variantes coloquem a vacinação em risco.

Terceiro lockdown

Paralelamente à vacinação, que começou em 20 de dezembro, Israel entrou em seu terceiro lockdown no final de 2020, mas esse fechamento se tornou mais severo há duas semanas, em meio a um aumento no número de infectados e de mortes.

Muita gente se infectou depois de receber a primeira dose da vacina, na ilusão de que já estava imunizado. Mas a vacinação leva tempo para funcionar. Só depois de receber duas doses, com três semanas de diferença entre uma e outra, é que os vacinados se tornam quase que totalmente imunes.

Mesmo assim, a campanha de vacinação já começa a mostrar resultados. Segundo um dos maiores serviços de saúde do país, dos 128 mil pacientes que já receberam a segunda dose da vacina em suas clínicas, só 20 adoeceram com Covid-19 e nenhum precisou de assistência médica.

A média diária de infectados, que havia chegado a 10 mil em todo o país, já caiu para cerca de 8.000. O número de mortos diários, no entanto, continua alto: ontem, foram 67.

No total, mais de 2,6 milhões israelenses receberam a primeira dose da vacina, o que representa mais de 30% da população de 9,3 milhões de pessoas. Dos vacinados, 1,2 milhão já receberam a segunda dose, em geral pessoas com mais de 60 anos ou equipes médicas.

Confrontos com ultraortodoxos

Quase 4,5 mil morreram desde o começo da pandemia, em março do ano passado, mas, apesar de todo o perigo de contaminação pelo vírus, ainda tem gente que não respeita as instruções de distanciamento social.

Por essas regras, escolas e a grande maioria dos estabelecimentos comerciais - com exceção de supermercados e farmácias - deveriam estar fechados. As pessoas deveriam usar máscara em todo e qualquer local público, manter 2 metros de distância e não se afastar por mais de 1 quilômetro de suas casas.

Mas há bairros ou cidades inteiras onde isso quase não existe. É o caso de algumas cidades da minoria árabe de Israel (21% da população) e principalmente da minoria judaica extremamente religiosa do país, os ultraortodoxos (12%).

Entre os ultraortodoxos, a situação saiu do controle e descambou para a violência, nos últimos dias. Líderes religiosos insistem em manter escolas e seminários rabínicos abertos, além de realizar eventos com centenas de convidados. E, quando a polícia aparece para fechar e multar, há confrontos.

A polícia tem usado gás lacrimogêneo para tentar retirar multidões das ruas, enquanto jovens religiosos ateiam fogo em pneus e latas de lixo e atacam os policiais com pedras e outros objetos. No domingo, um grupo ultraortodoxos chegou a colocar fogo em ônibus na cidade de Bnei Brak em protesto. O relato do motorista, que ainda estava dentro do veículo e está traumatizado com o que chamou de tentativa de linchamento, chocou o país.