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Oposição enfrenta obstáculos para formar coalizão contra Netanyahu em Israel

No poder de Israel há 12 anos, Benjamin Netanyahu deve ter seu destino definido no máximo até quarta (2) - Nir Elias/Reuters
No poder de Israel há 12 anos, Benjamin Netanyahu deve ter seu destino definido no máximo até quarta (2) Imagem: Nir Elias/Reuters

31/05/2021 15h01Atualizada em 31/05/2021 15h45

A dois dias da data-limite para a formação de um governo em Israel, o líder da oposição, Yair Lapid, afirmou nesta segunda-feira (31) que ainda há "muito obstáculos" para alcançar uma coalizão que permita afastar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu do poder.

As equipes do centrista Lapid e da direita radical de Naftali Bennett continuam negociando os termos do que chamam de "governo de mudança" para acabar com o mandato de Netanyahu, o mais longo da história de Israel.

O destino de Netanyahu, no poder desde 2009, e que também foi primeiro-ministro de 1996 a 1999, deve ser definido no máximo até quarta-feira (2), às 23h59 (17h59 de Brasília), prazo concedido pela lei a Lapid para anunciar se conseguiu, ou não, formar um governo.

"Ainda há muitos obstáculos. É nosso primeiro teste: ver se conseguimos encontrar compromissos inteligentes nos próximos dias para alcançar um objetivo maior", disse Lapid, prudente, nesta segunda-feira.

"Em uma semana, Israel pode entrar em uma nova era", acrescentou, dirigindo-se aos integrantes de seu partido e a jornalistas no Parlamento, em Jerusalém. Após 11 dias de guerra entre Israel e o movimento palestino Hamas e de uma trégua política, Naftali Bennett, líder da direita radical, anunciou no domingo (30) o apoio a um "governo de unidade nacional" que Lapid, rival de Netanyahu, tenta organizar com urgência.

À frente do partido Yesh Atid ("Há um futuro"), Lapid recebeu a missão do presidente Reuven Rivlin, no início de maio, de tentar formar uma coalizão para tirar Israel de dois anos de crise política, a mais longa da história do país. Lapid e Bennett - do Partido Yamina -, os dois novos aliados, reuniram-se no domingo para formalizar a aliança. As negociações prosseguem nesta segunda-feira. Mas o jogo não acabou.

Lapid ainda precisa reunir o apoio de quatro deputados para alcançar os 61 parlamentares necessários para formar uma coalizão, isto sem contar com as manobras de último minuto de Netanyahu, decidido a permanecer no poder após 12 anos de governo, sem interrupção.

"Não se faz nada até que esteja concretizado. Embora eles (Lapid e Bennett) estejam em uma posição melhor, Bibi (apelido de Netanyahu) está sempre um passo à frente, ele ainda não foi embora", advertiu Jonathan Rynhold, professor de Ciência Política da Universidade Bar Ilan, na região de Tel Aviv.

Após o anúncio de apoio de Bennett a Lapid, Netanyahu reagiu: "Este governo será um perigo para a segurança do Estado de Israel. É a fraude do século". Para o jornal de direita "Maariv", os últimos acontecimentos marcaram uma ruptura, e Netanyahu está mais encurralado do que nunca.

"Naftali Bennett apareceu de repente como primeiro-ministro, e Benjamin Netanyahu se tornou o líder da oposição", comentou o colunista Ben Caspit. No domingo à noite, dezenas de simpatizantes de Netanyahu protestaram diante das residências de líderes do Partido Yamina, aos gritos de "esquerdistas" e "traidores". A segurança dos principais nomes da legenda, incluindo Bennett, foi reforçada.

Bloco busca apoio de partidos árabes

Até o momento, Lapid obteve o apoio de 57 deputados - de esquerda, de centro, de dois partidos de direita e do Yamina. O bloco busca o apoio dos partidos árabes israelenses, que ainda não anunciaram sua posição.

"A esquerda assume compromissos longe de serem fáceis, quando me concede o papel de primeiro-ministro", declarou Bennett, muito próximo aos colonos israelenses. "Naftali Bennett vem da direita (...), mas nos permitiu promover a mudança que queríamos, o que o torna apto para tornar-se o próximo primeiro-ministro", declarou nesta segunda-feira o centrista Benny Gantz, que no ano passado formou um governo de união com Netanyahu.

A imprensa israelense afirma que existe um acordo para que ele assuma o governo durante os dois primeiros anos. E depois cederá o posto a Lapid. Este cenário representaria o fim de uma era política, que começou há 25 anos com a vitória de Netanyahu sobre Shimon Peres, o artífice dos Acordos de Oslo sobre a autonomia palestina. Netanyahu voltou ao poder em 2009 e governa o país desde então.

Julgado por "corrupção" em três casos, ele é o primeiro chefe de governo israelense que enfrenta processos penais durante o mandato. E estes podem afetá-lo, se perder a imunidade garantida por lei como primeiro-ministro.

Se o campo anti-Netanyahu não conseguir formar um governo até quarta-feira, 61 deputados poderão pedir ao presidente para escolher um novo parlamentar para uma nova tentativa. Caso esta opção também fracasse, os israelenses devem voltar às urnas para as quintas eleições em apenas dois anos.

(Com informações da AFP)