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Sob pressão internacional, Haiti terá novo governo após assassinato de presidente

13.mar.2017 - O presidente do Haiti, Jovenel Moise, em foto de 2017; o presidente havia nomeado Ariel Henry pouco antes de sua morte - 13.mar.2017 - Hector Retamal/AFP
13.mar.2017 - O presidente do Haiti, Jovenel Moise, em foto de 2017; o presidente havia nomeado Ariel Henry pouco antes de sua morte Imagem: 13.mar.2017 - Hector Retamal/AFP

Da RFI

20/07/2021 07h13Atualizada em 20/07/2021 07h34

Após pressão conjunta de diferentes países, as autoridades do Haiti devem anunciar um novo governo hoje, chefiado pelo primeiro-ministro Ariel Henry, que havia sido nomeado pelo presidente Jovenel Moïse, pouco antes de seu assassinato.

Neste novo governo que enfrenta múltiplos desafios, dada a escala da atual crise institucional e de segurança no país, o primeiro-ministro em exercício, Claude Joseph, retomará seu cargo como ministro das Relações Exteriores.

"É uma boa surpresa, pois a autoproclamação do senhor Claude Joseph como sucessor do presidente havia chocado a todos no Haiti. Houve discussões sobre a legalidade do processo e mesmo sobre a lealdade do primeiro-ministro que nem ao menos esperou o corpo do presidente assassinado esfriar para se instalar na sua cadeira", analisa Jean-Marie Théodat, professor da Universidade Panthéon-Sorbonne e membro da associação Haiti Futuro.

"Até que a composição desse novo governo seja proclamada, eu aguardo para saber quem da sociedade civil vai aceitar participar de uma administração, se a herança oligárquica continuar presente", completa, demonstrando ceticismo em relação ao novo governo.

Este anúncio parece encerrar o confronto entre Joseph e Henry, que assumirão a direção do executivo haitiano. "Durante vários dias, Claude Joseph e Ariel Henry multiplicaram as reuniões de trabalho para a formação de um governo inclusivo com Ariel Henry como primeiro-ministro e Claude Joseph, ministro das Relações Exteriores", disse uma fonte oficial. "Não haverá Presidente da República. A missão deste novo governo será organizar as eleições gerais o mais rapidamente possível", acrescentou a mesma fonte.

No último fim de semana, um grupo de países e a ONU haviam declarado apoio a Henry. Entre eles, estão Alemanha, Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, União Europeia e representantes da Organização dos Estados Americanos (OEA) e das Nações Unidas.

Em um comunicado no sábado (17), este "grupo central" apelou à "formação de um governo consensual e inclusivo". Washington saudou o acordo do governo alcançado na segunda-feira (19) e destacou a satisfação de "ver os atores políticos e civis haitianos trabalhando para formar um governo de unidade que pode estabilizar o país e lançar as bases para eleições livres e justas", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.

De acordo com uma fonte diplomática, a embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, planejou visitar o Haiti nos próximos dias.

O Haiti pediu ajuda às Nações Unidas e aos Estados Unidos para melhorar a segurança de seu principal aeroporto e de suas instalações petrolíferas. A França, por sua vez, recentemente defendeu o fortalecimento da missão da ONU no país com uma tropa formada por policiais e gendarmes.

Ariel Henry, um cirurgião de 71 anos, está em sua terceira experiência ministerial. Foi Ministro do Interior, de janeiro a setembro de 2015, depois Ministro dos Assuntos Sociais e do Trabalho de setembro de 2015 a março de 2016. Também foi membro do gabinete do Ministro da Saúde Pública, de junho de 2006 a setembro de 2008, antes de se tornar chefe de gabinete, de setembro de 2008 a outubro de 2011.

Funeral acontece na sexta-feira

O funeral de Jovenel Moïse, morto a tiros aos 53 anos no dia 7 de julho por um comando armado, acontecerá na sexta-feira (23). Também ferida no ataque noturno, a esposa dele, Martine Moïse, voltou a Porto Príncipe no sábado, após ter sido tratada em um hospital de Miami, nos Estados Unidos. Com o braço imobilizado, vestindo um colete à prova de balas sobre roupas pretas, ela foi saudada, ao desembarcar, por Claude Joseph.

Paralelamente à preparação do funeral de Jovenel Moïse, continua a investigação de seu assassinato, com o apoio técnico da Polícia Federal americana, o FBI. A polícia haitiana prendeu cerca de 20 mercenários colombianos e afirma ter descoberto um complô organizado por um grupo de haitianos, incluindo um ex-senador atualmente procurado, bem como um pastor e médico baseado na Flórida. Esses homens teriam recrutado o comando graças a uma empresa de segurança venezuelana, também estabelecida na Flórida.

Muitas dúvidas ainda permanecem nesse caso, especialmente sobre a possível cumplicidade de autoridades haitianas, o que explicaria a aparente facilidade com que o comando executou sua missão letal.

O Haiti é a nação mais pobre do continente americano. O país é atormentado pela insegurança e, em particular, pelos sequestros executados por gangues. O presidente Moïse, acusado de inação diante da crise, enfrentou forte desconfiança de grande parte da população civil.

Nesse contexto, levantando temores de uma mudança em direção à anarquia generalizada, o Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos e a Europa consideram como prioridade a realização de eleições legislativas e presidenciais livres e transparentes, até o final de 2021.