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Na reta final para a COP26, ministros tentam enxugar pontos críticos das negociações de clima

Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, em coletiva sobre COP26 - Jeremy Selwyn - WPA Pool/Getty Images
Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, em coletiva sobre COP26 Imagem: Jeremy Selwyn - WPA Pool/Getty Images

Lúcia Müzell

30/09/2021 11h30Atualizada em 30/09/2021 12h21

Depois de Greta Thumberg e outros 400 jovens do mundo inteiro aumentarem a pressão pelo cumprimento do Acordo de Paris, em um evento que se encerra nesta quinta-feira (30) em Milão, agora são os representantes dos governos de cerca de 45 países que se encontram para a última reunião preparatória antes da COP26, a Conferência do Clima de Glasgow. A um mês da cúpula, a Pré-COP ministerial acontece até sábado (2), também na cidade italiana.

O evento ocorre na sequência do Youth4Climate, um megaencontro de jovens promovido pela Itália, que copreside a COP26 ao lado do Reino Unido. A juventude debateu propostas que estão sendo colocadas sobre a mesa dos participantes da conferência. Um documento foi entregue para o presidente e o primeiro-ministro da Itália, que intermediarão o contato com os governantes reunidos a partir desta quinta. São ações que os jovens consideram cruciais para o mundo enfrentar a crise climática.

"A educação ambiental, para a juventude brasileira que vem participando das negociações de clima há muitos anos, é a grande prioridade. A gente tenta trazer isso não só como uma proposta de inserção nas NDCs [sigla para Contribuições Nacionalmente Determinadas, ou o que cada país promete fazer para combater o aquecimento global], mas pensando nos currículos brasileiros, como podemos fazer com que todas as matérias que a gente tem, como química, física, literatura ou português, estejam de alguma forma relacionadas ao que está acontecendo hoje no mundo, que é urgente", explica Eduarda Zoghbi, que representou o Brasil ao lado de outros dois jovens convidados, Eric Marky e Paloma Costa.

"A gente precisa de uma política nacional para a educação ambiental. Na COP, o Reino Unido vai ter um dia dedicado à educação climática e pretende reunir todos os ministros da Educação, que vão fazer esses compromissos", complementou Eduarda.

No evento, os brasileiros também reforçaram a importância da proteção das populações tradicionais, ameaçadas por retrocessos políticos e legais, além da preservação de biomas como o amazônico.

Jovens ganham a cena

As novas gerações têm cada vez mais influência nas negociações de acordos climáticos internacionais pela preservação do planeta, ao representarem aqueles que mais sofrerão os impactos negativos da falta de ação dos governos nas decisões tomadas hoje. Nesta COP, pela primeira vez, eles tomarão parte oficialmente das negociações.

"É um marco. O estopim desse acontecimento da participação dos jovens aconteceu em Paris, na COP21. A Youngo, a Youth Constituency dentro da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, se articula há muitos anos para conseguir ter algum tipo de impacto no processo", ressalta Eduarda. "Foi graças à Youngo que a gente conseguiu incluir no Acordo de Paris a menção de que a educação é algo primordial para combater as mudanças climáticas."

Brasil na Pré-COP

Já na Pré-COP, quem representa o Brasil é a secretária de Amazônia do Ministério do Meio Ambiente (MMA), a bióloga especialista em biodiversidade e conservação Marta Giannichi. O ministro Joaquim Leite não estará presente naquela que é a última oportunidade formal e multilateral para os países alinharem as negociações, antes da 26ª Conferência das Partes sobre as Mudanças Climáticas. Em três dias, os participantes vão se debruçar sobre temas considerados cruciais para o sucesso da cúpula: proteção de comunidades e habitats naturais, finanças sustentáveis e transparência.

"A gente está com uma postura bastante construtiva e pró-ativa, para que não só a gente, como os demais países também, a gente chegue com propostas concretas antes da COP", disse Giannichi, em entrevista à RFI. "Essa ideia de que o Brasil bloqueuou as negociações [na COP25, em Madri] não é verdade. Mas pensando no presente, o que a gente já fez como país foi abrir mão de diversos posicionamentos históricos do Brasil em prol de um consenso, no Artigo 6 principalmente."

Nos últimos meses, desde a saída do ministro Ricardo Sales do cargo, o governo federal tem se esforçado para reverter a imagem devastadora da política "antiambiental" brasileira. Na última conferência, em 2019, o país foi apontado como um dos que mais bloqueou um acordo, ao questionar os mecanismos de cálculo para um mercado global de créditos de carbono. O tema será um dos mais espinhosos da conferência que se inicia em um mês, na cidade escocesa.

"A nossa ideia é sair com algo concreto da COP de Glasgow e jamais bloquear nada", insistiu a secretária de Amazônia do MMA.