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Papa Francisco exprime gratidão às vítimas de pedofilia na igreja pela 'coragem de denunciar'

Papa Francisco demonstrou gratidão e respeito às vítimas - VINCENZO PINTO / AFP
Papa Francisco demonstrou gratidão e respeito às vítimas Imagem: VINCENZO PINTO / AFP

05/10/2021 12h03

O papa Francisco expressou nesta terça-feira (5) sua "imensa tristeza" pela "realidade insuportável" revelada por uma comissão independente, que estimou em cerca de 216.000 o número de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual pela Igreja Católica da França, desde 1950. Membros do alto escalão do episcopado e religiosos também se manifestaram.

Os pensamentos do papa "dirigem-se em primeiro lugar às vítimas, com imensa tristeza pelas feridas causadas e gratidão pela coragem de denunciar", disse o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni.

"Eles se dirigem também à Igreja da França, para que, ao tomar consciência desta realidade insuportável, possa empreender o caminho da redenção", acrescentou Bruni.

O inventário elaborado pela Comissão Independente sobre Abusos na Igreja é "terrível": o relatório estima que cerca de 216.000 menores foram vítimas de padres, diáconos e religiosos desde 1950, a maioria meninos, entre 10 e 13 anos.

O número chega até a 330.000 forem somadas as pessoas agredidas por leigos que trabalhavam em instituições da Igreja (professores, supervisores, líderes de movimentos juvenis, entre outros), especificou o presidente da comissão de investigação, Jean-Marc Sauvé, ao apresentar suas conclusões nesta terça-feira (5).

Este último denunciou "um conjunto de negligências, falhas, silêncios e coberturas institucionais que apresentavam caráter sistêmico".

"A Igreja não soube ver, não soube ouvir, não soube captar sinais fracos, não soube tomar as medidas rigorosas que fossem necessárias", disse Sauvé, apelando à instituição para que reconheça a "responsabilidade" no caso.

"Vergonha"

Por sua vez, presidente da Conferência Episcopal Francesa, Eric de Moulins-Beaufort, expressou "sua vergonha", "seu pavor" e pediu "perdão". A voz das vítimas e a quantidade delas "nos deixa destruídos", disse.

Véronique Margron, presidente dos Corref, que rege os institutos e ordens religiosas na França, evocou por sua vez "um desastre": "o que dizer, senão sentir uma vergonha real, vergonha absoluta".

François Devaux, co-fundador da associação La Parole libérée (A Palavra libertada, em tradução livre), falou na introdução do pronunciamento da comissão. Ele disse que "não tinha dúvidas" sobre o que o relatório Sauvé iria "revelar": "Eu sei que vocês voltam de uma espécie de inferno", disse ele, referindo-se ao "o que pode ser comparado auma vala comum das almas dilaceradas da Igreja ".

Um comunicado assinado por seis grupos de vítimas disse esperar "respostas claras e tangíveis" da instituição religiosa, após a publicação do relatório.

Na cidade de Lyon (leste), onde a liberdade de falar sobre os abusos sexuais na Igreja causou um verdadeiro choque em 2016, os católicos se manifestaram diante das conclusões contundentes da Comissão Sauvé. "É bom que a verdade venha à tona, a religião católica é a paz e o amor entre os homens, mas quando você vê todos esses crimes, eu perco o chão", disse indignada Yolande Ormancey, de 63 anos.

"Espero com este relatório que os criminosos sejam punidos e que seja dado apoio às vítimas cujas vidas foram prejudicadas", acrescentou a fiel que havia ido rezar na Basílica de Fourvière.

O presidente da comissão de investigação, Jean-Marc SauvéSauvé, afirmou que a Igreja Católica havia manifestado "até o início dos anos 2000 uma profunda indiferença e até cruel para com as vítimas" da pedofilia. De 1950 a 2000, "as vítimas não eram acreditadas, ouvidas, considera-se que, mais ou menos, a instituição contribuiu para o que lhes aconteceu", insistiu.

Os rapazes "representam cerca de 80% das vítimas, com uma concentração muito elevada entre os 10 e os 13 anos", observou Jean-Marc Sauvé. Ele já havia revelado uma "estimativa mínima" do número de predadores: "2.900 a 3.200" homens - padres ou religiosos - entre 1950 e 2020.

Com informações da AFP