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Quem é Magdalena Andersson, primeira mulher eleita chefe de governo da Suécia

Economista Magdalena Andersson, de 54 anos, é a primeira mulher chefe de governo da história da Suécia - TT NEWS AGENCY/via REUTERS
Economista Magdalena Andersson, de 54 anos, é a primeira mulher chefe de governo da história da Suécia Imagem: TT NEWS AGENCY/via REUTERS

Claudia Wallin

24/11/2021 08h30Atualizada em 24/11/2021 08h57

Enfim o país que há décadas é um dos maiores líderes globais em igualdade de gênero será governado por uma mulher: a social-democrata Magdalena Andersson, uma economista de 54 anos que desde 2014 ocupava o cargo de ministra das Finanças, tornou-se nesta quarta-feira (24) a primeira chefe de governo da história da Suécia.

A nomeação de Magdalena Andersson para o cargo de primeira-ministra foi aprovada em sessão solene no Parlamento sueco, após uma delicada rodada de negociações da social-democrata com os partidos da base de apoio governista. Ela substitui o ex-premiê Stefan Lofven, que há dois meses anunciou sua intenção de renunciar após sete anos no poder. A nova primeira-ministra comandará agora um governo de transição até as eleições gerais de setembro do próximo ano.

A notória presença feminina no poder político da Suécia se faz agora ainda mais dominante. Com a ascensão de Magdalena Andersson à liderança do Partido Social-Democrata, cinco dos oito partidos políticos representados no Parlamento sueco são hoje liderados por mulheres. Apenas dois são comandados por homens (o conservador Moderado e o Democratas da Suécia, de extrema-direita), enquanto o Partido Verde sempre exerce uma liderança conjunta que é dividida entre um homem e uma mulher.

As mulheres também representam 47,5% dos deputados do Parlamento, 54,5% dos ministros de governo e cerca de 43% dos vereadores municipais do país. Por outro lado, apenas um terço das prefeituras é comandado por mulheres.

Em 2014, com a subida ao poder da atual coalizão formada por social-democratas e verdes, o governo da Suécia foi o primeiro do mundo a se auto-declarar um governo feminista. Apesar das credenciais invejáveis no campo da igualdade de gênero, a Suécia é o último dos países nórdicos a ter uma mulher no poder. A vizinha Noruega elegeu sua primeira premiê, Gro Harlem Brundtland, há 40 anos.

Duas tentativas anteriores de eleger uma primeira-ministra na Suécia não se concretizaram: em 2003, quando já era considerada a sucessora do primeiro-ministro Goran Persson, a então ministra sueca das Relações Exteriores, Anna Lindh, foi assassinada a facadas em uma loja de departamentos de Estocolmo por um homem com distúrbios mentais. E em 2006 Mona Sahlin foi eleita líder do Partido Social-Democrata, mas perdeu as eleições de 2010 para uma aliança de centro-direita formada por quatro partidos.

Na Europa, a Suécia lidera o ranking dos países com maior igualdade de gênero. A nível global, ocupa agora a quarta posição no relatório anual do Global Gender Gap do Fórum Econômico Mundial - atrás apenas dos vizinhos nórdicos Islândia, Noruega e Finlândia.

"Trator"

A nova primeira-ministra sueca foi também a primeira mulher a ocupar a chefia do Ministério das Finanças. Entre os colegas de partido, Magdalena Andersson tem o apelido de "Trator", por ser franco e direto o estilo da competitiva nova chefe de governo, que foi campeã de natação na juventude. "Sempre gostei de mandar", ela revelou em uma entrevista recente ao jornal sueco Expressen.

Para muitos, a firmeza de Magda (como a nova premiê também é conhecida) é um bônus. "As pessoas querem resultados, e desejam um líder que fale sem rodeios e dê nome aos bois", disse ao jornal Dagens Nyheter o veterano ex-ministro das Finanças Bjorn Rosengren.

Magdalena Andersson conta que seu interesse pela política foi despertado ainda na infância, quando ela assistia na TV a reportagens sobre países pobres. "Ver a pobreza que existe em outras partes do mundo me impactou", ela afirmou. Aos 16 anos de idade, Magdalena se tornou membro do Partido Social-Democrata.

Ao contrário do agora ex-primeiro-ministro Stefan Lofven, um ex-soldador de profissão que se tornou líder sindical antes de entrar para a política, Magdalena Andersson vem da elite acadêmica sueca. Nascida na cidade de Uppsala, ela seguiu o passo dos pais na academia. Ela é mestre em Economia pelo prestigiado Instituto de Economia de Estocolmo (Handelshögskolan), e tem especializações na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e no Instituto de Estudos Avançados de Viena, na Áustria.

Sua estreia na política aconteceu em 1996, como assessora do então primeiro-ministro Goran Persson. Magdalena atuou ainda como secretária de Estado do Ministério das Finanças e diretora executiva da Autoridade Fiscal, a Receita Federal sueca.

Mais alinhada à ala centrista do Partido Social-Democrata, Magdalena Andersson é casada com um professor do Instituto de Economia de Estocolmo, e tem dois filhos.

No início deste mês, ela foi eleita como a nova líder do Partido Social-Democrata, o que abriu assim caminho para sua confirmação pelo Parlamento sueco no cargo de primeira-ministra.

Desafios

A fim de garantir a vitória na votação parlamentar desta quarta-feira, Magdalena Andersson conduziu negociações exaustivas com o partido de centro e especialmente com o de esquerda, o que exigiu dela o compromisso de elevar o valor das aposentadorias a partir de 2023.

Para permanecer no poder além de setembro do próximo ano, quando a Suécia realiza eleições gerais, Magdalena Andersson terá que enfrentar o desafio de reverter a atual queda do Partido Social-Democrata nas pesquisas de opinião, após sete anos no poder.

Levantamento do Instituto Novus indica que os social-democratas têm atualmente 25,6% da preferência do eleitorado - uma queda de quase três pontos percentuais em relação às últimas eleições. Já o conservador Partido Moderado viu seu apoio crescer em mais de três pontos percentuais, para um total de 23%. Em terceiro lugar nas pesquisas aparece o partido anti-imigração Democratas da Suécia, com 19% das intenções de voto.

Entre as prioridades da nova primeira-ministra para turbinar o apoio ao partido estão reduzir os lucros do setor privado na educação, na saúde e no atendimento aos idosos, além da adoção de medidas mais rigorosas para a defesa do clima e o combate à atual onda de criminalidade no país.

Batalha feroz

A batalha pelo poder nas eleições de 2022 será feroz: a recém-eleita primeira-ministra terá que enfrentar uma nova e complexa cena política, em que os partidos da oposição se mostram dispostos agora a governar com o apoio parlamentar dos Democratas da Suécia, depois de romperem o isolamento do partido anti-imigração.

Os Democratas da Suécia tornaram-se o terceiro maior partido político do país na onda de rejeição à entrada recorde de refugiados em seu território a partir de 2015. Desde a crise dos refugiados, todos os partidos passaram a adotar uma linha mais restritiva em relação à imigração.

O desafio eleitoral é significativo, mas Magdalena Andersson é considerada boa de briga. E um dos seus estilos de música favoritos é o heavy metal.