Topo

Lula diz que adversários não são "vestais"

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de ato em defesa da Petrobras - Instituto Lula - 24.fev.2015
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de ato em defesa da Petrobras Imagem: Instituto Lula - 24.fev.2015

26/02/2015 15h08

Em conversa com senadores do PT na noite de ontem, quarta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o partido e o governo precisam explicar melhor à sociedade quais as razões do ajuste fiscal, mostrando que buscam a recuperação da economia e da credibilidade do país.

Lula também exortou os petistas a defender o partido, que acredita ser vítima de uma campanha centrada na criminalização das doações eleitorais, e lembrou que os adversários não são "vestais".

Nesta quinta-feira, Lula participa de um café da manhã com lideranças do PMDB na residência do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O ex-presidente reforça a articulação política do governo, tentando aparar as arestas com o PMDB e até com o PT, que resiste a defender as medidas fiscais.

Lula disse no jantar com o PT que a disputa com o PMDB pela presidência da Câmara chegou ao fim com a vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Desse modo, Cunha não pode mais ser tratado como um adversário, porque se tornou presidente de um poder e, por isso, partido e governo precisam conviver com ele.

No jantar na casa do vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), os petistas degustaram salada de bacalhau, peixe com molho de camarão e doses do vinho argentino Angélica Zapata. Marta Suplicy e Ângela Portela (PT-RO) não compareceram. Ângela por motivos de saúde. Marta porque ainda persiste o clima de mal estar provocado pela entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", em que ela desfiou críticas consideradas ácidas ao governo, ao PT e ao ex-presidente Lula.

Sobre o pacote fiscal, um dos participantes do jantar disse ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, em condição de anonimato, que Lula foi cauteloso ao tratar do governo e da presidente Dilma Rousseff na condução das negociações pela aprovação das medidas provisórias que tratam do ajuste. Lula lembrou que já se sentou na cadeira de Dilma e sabe, por experiência própria, como às vezes é necessário tomar medidas amargas.

Mas Lula foi assertivo ao sustentar que as medidas de ajuste fiscal precisam ser melhor detalhadas à população. "Falta mostrar por que esse suposto sacrifício tem que ocorrer", relatou o líder da bancada, senador Humberto Costa (PE), ao final do jantar, que terminou por volta de meia-noite.

Segundo Costa, Lula disse que o PT precisa se perguntar como deseja ver o Brasil em dezembro de 2018, qual é o país que será entregue ao sucessor de Dilma. Os petistas relutam em defender abertamente as medidas, porque dificultam o acesso a benefícios como seguro-desemprego e abono salarial. "Essas medidas são para conquistarmos mais emprego, para recuperar a economia, para o país recuperar a credibilidade e atrair investimentos, para ter mais dinheiro para políticas sociais", relatou Costa, detalhando explicação de Lula. O ex-presidente é apontado como pré-candidato do PT à sucessão de Dilma.

Lula também conclamou os petistas a reagir às acusações de que as doações de campanha ao PT - numa alusão implícita às empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato - são ilegais. Segundo Humberto Costa, Lula questionou "a moral" dos adversários políticos ao criminalizarem as doações ao PT. Como exemplo, o ex-presidente citou o PSDB e doações de empresas envolvidas na investigação de desvios em licitações relativas aos trens do metrô de São Paulo. "As doações ao PT são roubo, propina, e as deles (outros partidos) são compromisso ideológico, campanha da fraternidade", provocou Lula.

Mas Lula ressalvou que não adianta surgirem denunciados de outros partidos envolvidos nas denúncias da Lava-Jato, numa alusão implícita à iminente lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que nas próximas semanas pedirá abertura de inquérito contra políticos investigados na operação. Lula frisou que o PT tem que se preocupar com a sua situação, mas sem permitir que os adversários fiquem "bancando os vestais".

Aos senadores, ele reiterou a declaração que fez no ato público em defesa da Petrobras no Rio de Janeiro na última terça-feira, quando disse que demorou a andar de cabeça erguida, e não é agora que o obrigarão a abaixá-la. No ato em defesa da estatal, Lula também afirmou que a presidente Dilma precisa "levantar a cabeça", lembrar que venceu as eleições e governar o país.