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A jornalista Carla Bigatto conduz com analistas um papo sobre temas que dominam a pauta política.


Baixo Clero #68: Doria faz promessas vazias sobre vacina e Moro lança velha-nova carreira

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Do UOL, em São Paulo

03/12/2020 19h15

Sem apresentar nenhum plano concreto, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) aproveitou entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes para criticar a previsão anunciada pelo Ministério da Saúde de iniciar a vacinação contra a covid-19 em março do ano que vem.

"Em São Paulo, de forma responsável, seguindo a lei, nós, no próximo mês, cumprindo o protocolo com a Anvisa, obedecendo princípios de proteção à vida, vamos iniciar a imunização dos brasileiros de São Paulo em janeiro. Não vamos aguardar março", prometeu o governador

"Não dá para confiar [nas promessas vazias de Doria]", cravou a colunista do UOL Maria Carolina Trevisan. "Apesar da crítica ser, de fato, plausível, talvez ela não devesse sair da boca do Doria, porque o Doria já se tornou especialista em pegar frases do governo, ou do [presidente Jair] Bolsonaro, e dizer o contrário ou usar aquilo para espezinhar o governo", completou o colunista do UOL Diogo Schelp. (Ouça a partir do minuto 4:35)

A declaração foi dada hoje no podcast Baixo Clero #68, apresentado por Carla Bigatto.

"Doria tem feito disso um método. Ele faz a promessa, chama a imprensa, anuncia algo que tem poucas novidades. Nessa coletiva específica de quinta-feira, não tinha novidade nenhuma, e ele fica criando situações para ter notícia positiva para ele mesmo, quando, de fato, a gente precisa conversar sobre detalhes da vacinação que não estão nem claros", disse Trevisan. (Ouça a partir do minuto 2:30)

Na avaliação de Schelp, Doria volta a falar de vacinação contra a covid-19 com palavras vazias e sem planos. "[O governador] nem sequer pode prometer algo que ele não tem nem garantia que vá ser aprovado em tempo hábil". (Ouça a partir do minuto 5:46)

"A gente tem aí dois lados, um governo sem transparência com o que pretende fazer em relação à vacina, prometendo uma vacina para março — o que, de fato, é frustrante, considerando que, na Inglaterra, por exemplo, já está prevista a vacinação a partir da semana que vem. E do outro lado o Doria, temos o governador do estado de São Paulo politizando a vacina, prometendo coisas com palavras vazias, porque não apresentou nenhum plano sobre o que seria essa vacinação em janeiro, prometendo apresentar esse plano na segunda-feira, mas a vacina nem sequer foi aprovada pela Anvisa ainda.", disse Schelp. (Ouça a partir do minuto 5:46)

Trevisan lembrou que o governador aguardou o fim do segundo turno das eleições municipais para anunciar um retrocesso em todo o estado no Plano São Paulo e, agora, tenta reforçar o papel de antagonista de Jair Bolsonado (sem partido). A avaliação foi feita no podcast Baixo Clero #68, apresentado por Carla Bigatto e com a participação do também colunista do UOL Diogo Schelp.

"Pode sair esse tiro pela culatra, porque ele está se tornando alvo de todo mundo quando ele se coloca dessa maneira. Ele tem uma alta rejeição — a gente viu isso nesse processo dessa campanha agora das eleições municipais — então talvez isso não esteja funcionando tão bem para ele", disse Trevisan. (Ouça a partir do minuto 6:28)

A colunista do UOL ainda criticou a forma como o governador anunciou o retrocesso do Plano SP.

"Doria deveria estar nesse momento mais recolhido, porque foi feio o que aconteceu. Ele fez o anúncio da regressão do Plano SP no dia seguinte da reeleição do Bruno Covas [PSDB] em São Paulo, ele tinha anunciado outra coisa. Então ele está usando a vacina também para se situar em relação ao Bolsonaro, como se ele fosse a pessoa que poderia fazer esse bloco contra o bolsonarismo mais próximo a 2022", disse Trevisan. (Ouça a partir do minuto 2:30)

Reeleição nas Casas

O Supremo Tribunal Federal (STF) pode começar a julgar na sexta-feira (04/12) uma ação judicial com potencial para afetar o destino dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), além de mexer nos planos do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).

"Vai ser um escândalo se o STF interpretar a reeleição de Maia ou de Alcolumbre como constitucionais", avaliou Schelp. "Se isso for aprovado pelo Supremo Tribunal Federal, a gente vai ter, na prática, aqui no Brasil, o parlamentarismo porque vai ser muito poder concentrado na mão de uma pessoa só", avaliou Trevisan. (Ouça a partir do minuto 14:54)

A fala faz referência às discussões sobre uma ação judicial que pede "interpretação conforme" ao Artigo 57 da Constituição de 1988, e proíba a reeleição para o comando da Câmara e do Senado, em qualquer hipótese.

O colunista avaliou o Artigo 57 da Constituição de 1988, que proíbe a reeleição para o comando da Câmara e do Senado, em qualquer hipótese, é "bastante claro ao vedar a reeleição".

"O argumento que se usa é que a emenda constitucional de 97 que instituiu a reeleição para presidente da república, governador e prefeito também devem se estender as mesas diretivas da câmara e do senado. Só que isso é um disparate por que esses cargos não são mencionados na emenda, os cargos de presidente da câmara e do senado. O que vale, então, é o que está na constituição, vai ser um escândalo se o STF interpretar a reeleição de Maia ou de Alcolumbre como constitucionais", disse Schelp. (Ouça a partir do minuto 16:24)

Ressaltando a importância da função dos presidentes das Casas, Schelp afirmou que deputados da esquerda já estão negociando para a votação.

"Tanto que agora os deputados das bancadas dos partidos de esquerda já estão negociando porque eles não têm peso suficiente para eleger o próprio presidente, o próprio candidato à presidência da Câmara dos deputados, mas têm peso na votação. Já que existem vários candidatos possíveis", explicou. . (Ouça a partir do minuto 19:10)

"Então uma das coisas que eles já estão negociando com os candidatos que são, na maioria, de partidos do centrão, estão negociando uma garantia de que determinados temas que são importantes para a esquerda não sejam colocados em pauta", disse Schelp. (Ouça a partir do minuto 19:10)

Trevisan ainda atenta para a possibilidade de reorganização e favorecimento dos comandantes nas Casas caso reeleição seja aprovada.

"Se, por exemplo, Rodrigo Maia se reelege agora, ele vai estar a mais de sete anos como presidente da Câmara, desde que o Cunha saiu. Então, pode ser muito difícil depois tirar essa pessoa, porque ela mesma vai ali de legislação a legislação, podendo reorganizar a Câmara a favor de si mesmo. Então, é bastante perigoso, tanto é que os partidos de centro e esquerda pediram que o supremo não aprove a reeleição", disse Trevisan. (Ouça a partir do minuto 14:54)

"O Bolsonaro está enfraquecido, mas ele pode usar o Congresso para se fortalecer, com algumas trocas de favores e cargos. E aí ele vai pra cima, com tudo", completou Trevisan. (Ouça a partir do minuto 17:08)

Trevisan também lembrou do domínio de poder no cargo. "E o presidente da Câmara tem o poder de engavetar e desengavetar pautas para serem votadas. Ele que faz a agenda, por isso é super importante, ele que define ou não a abertura de processo de impeachment junto com a votação do Congresso, é muito poder mesmo, por isso é super importante", disse Trevisan. (Ouça a partir do minuto 18:50)

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