A novela da CPI do Cachoeira

Arte UOL
A CPI é como novela: tem todo tipo de personagem. Veja a seguir quem é quem
Arte UOL
O par romântico (em Paris): senador Ciro Nogueira (PP-PI) e deputada Iracema Portella (PP-PI). Eles tinham tudo para formar o par romântico da CPI. Mas acabaram enrolados na teia de relações mal explicadas de aliados do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Ele, aos 43 anos, pose de galã, levou a morena, de surpreendentes 46 anos de idade, a um almoço num restaurante caríssimo da capital francesa. E olha só quem estava logo ali: Fernando Cavendish, ex-presidente da Delta, empresa suspeita de superfaturar contratos de obras e de ter Cachoeira como sócio oculto. Afinal, quem nunca almoçou em um restaurante caro de Paris ao lado de um empresário suspeito de corrupção? E tem gente querendo separar os pombinhos da comissão...
Arte UOL
O "perseguido": senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO). Ele próprio admitiu que sua vida política está acabada por conta do envolvimento com Cachoeira. Mas conforme a novela vai chegando ao final, ele sobrevive, exercendo seu direito constitucional de ficar caladinho e alegando perseguição. Primeiro as provas colhidas contra Carlinhos Cachoeira quase acabaram anuladas. O juiz que cuidava do processo foi transferido. Por unanimidade, o Conselho de Ética do Senado votou pela sua cassação. Ainda falta passar pela comissão de Justiça e pelo plenário do Senado. Os colegas ainda não parecem gostar da ideia de cassá-lo se o voto continuar secreto... Crescem as chances de no último capítulo acontecer um grande jantar de confraternização na pizzaria Congresso
Arte UOL
O veterano: deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Ao contrário dos colegas interessados nos holofotes dos depoimentos, Miro insiste na necessidade de cruzar dados. Se a CPI até agora não produziu nada além do já obtido pela Polícia Federal, não é culpa dele, que está em sua décima legislatura e participou de todas as comissões importantes das últimas duas décadas. Às vezes fica a impressão de que ele tenta orientar os dirigentes da comissão. Em outras, fica essa certeza.
Arte UOL
Astro ofuscado: senador Pedro Taques (PDT-MT). Ex-procurador da República e em seu primeiro mandato no Senado, Taques era aposta de dez entre dez jornalistas como provável estrela da CPI. Ele até que tentou, mas os poucos avanços da comissão também afetaram sua atuação. Ainda conseguiu levar uma bronca por ter interrompido uma fala do colega Silvio Costa (PTB-PE), o humorista oficial da Câmara. A fase está difícil
Arte UOL
O vingador seletivo: senador Fernando Collor (PTB-AL). Dois meses se passaram. Vários agentes públicos aparecem em relações suspeitas com a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Mas o ex-presidente continua mirando na imprensa e na Procuradoria-Geral da República, seus dois algozes na saída do Palácio do Planalto, 20 anos atrás. O homem que disse que iria "se dar bem" com os colegas quando voltasse a Brasília, logo depois de eleito em 2006, está cumprindo a promessa
Arte UOL
A bela repaginada: senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Ao ser alçada à categoria de musa da CPI, essa catarinense de 51 anos ficou mais detalhista em seu visual. Sempre maquiada, roupas mais justas, cabelos sempre ajeitados. Quando passou pelo corredor da CPI vestida em um tailleur preto, sorridente, um colega nem disfarçou que a observava enquanto ela vinha e enquanto ela ia. Às vezes, ela também faz papel de mocinha ingênua. "Não podemos politizar esta CPI!", reclamou uma vez. Uma graça
Arte UOL
O amigo do peito: deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). O petista já foi preterido para quase todos os cargos que cobiçou. Talvez por isso seja tão dedicado a quem lhe quer bem. Quando seu camarada e governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), sofria com a ameaça de ser convocado para falar sobre seu relacionamento com a construtora Delta, Vaccarezza nem titubeou. Mandou um SMS ao seu querido: "Não se preocupe. Você é nosso e nós somos teu". A grande frase da CPI até o momento
Arte UOL
O abandonado: deputado Luiz Sérgio (PT-RJ). Após as primeiras etapas da CPI, ele tem a mesma importância. Por isso mesmo, abandonaremos uma atualização para ficarmos com o que já dissemos sobre ele. Foi ministro de Relações Institucionais ao lado da presidente Dilma Rousseff, mas acabou rebaixado à pequena pasta da Pesca. Meses depois, perdeu os peixes para retornar à Câmara dos Deputados, sem um cargo de liderança nem a relatoria de um projeto importante. Conseguiu uma vaga na CPI do Cachoeira aos 45 minutos do segundo tempo. De suplente
Arte UOL
O exótico: deputado Dr. Rosinha (PT-PR). Justiça seja feita: ele tem sido bem menos exótico do que de costume. Manteve a barba e o nome, mas o papel de crítico radical não lhe cabe na CPI do Cachoeira. Só perdeu as estribeiras quando um deputado do PSDB usou termos funkeiros para se referir ao relator, deputado Odair Cunha (PT-MG). É um dos mais assíduos da comissão
Arte UOL
O mocinho: ... como é tradição no Congresso, não tem
Arte UOL
O humorista revoltado: deputado Silvio Costa (PTB-PE). Seus arroubos de franqueza calculada se tornaram um dos grandes atrativos da CPI. Ele diz que representa o sentimento do povo nas ruas. Os colegas o acusam de querer holofotes para contar piadas e cometer indelicadezas. Um colega já sugeriu até que, em vez de água, os copos que lhe servem contêm vodca. Xingou Demóstenes, o senador Pedro Taques (PDT-MT) e os depoentes que nada dizem
Arte UOL
O eterno coadjuvante, agora desaparecido: deputado Sibá Machado (PT-AC). Por onde anda o dono de uma das vozes mais estridentes do Congresso? Essa é uma pergunta que colegas saudosos e maldosos fazem nos corredores próximos à sala da CPI do Cachoeira. A cada vez maior ausência de Sibá é mais um sinal de que a comissão vai mal das pernas e que pouca gente faz questão de aparecer ali.
Arte UOL
O valentão 2.0: deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Mais gritos, mais murros na mesa, mais intimidação de depoentes, mais promessa de providências e mais entrevistas bombásticas. Até houve uma ameaça de briga com o senador Humberto Costa (PT-PE). O papel de valentão da CPI nunca saiu das mãos de Onyx. Mas ele merece crédito: além de apresentar requerimentos importantes, ele foi um dos raros oposicionistas que inquiriu com dureza tanto personagens ligados a aliados quanto adversários
Arte UOL
O "cigano" Igor: senador Sergio Souza (PMDB-PR). Considerado por colegas como o mais sonolento de uma CPI que sofre de narcolepsia. Precisa mais? Há quem defenda o retorno da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, titular dessa vaga no Senado. Pelo menos ela poderia ocupar o papel de musa da comissão
Arte UOL
O detetive seletivo: deputado Fernando Francischini (PSDB-PR). Ex-delegado da Polícia Federal, sugeriu que responsáveis pelas operações Monte Carlo e Vegas fossem afastados dos cargos. Acusou o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG) de ser "tchutchuca" com colegas de partido e "tigrão" com adversários. Mas fez exatamente o mesmo quando vieram para depor os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT)
Arte UOL
O detetive misterioso: Protógenes Queiroz (PCdoB-SP). Ex-delegado da Polícia Federal, foi constrangido diante de colegas: ouviu um dos responsáveis por operações que motivaram a CPI levantar suspeitas contra ele. Tanto governistas como oposicionistas admitem nos bastidores que sua presença na comissão é esquisita. Falta cada vez mais às sessões para evitar mais desgastes. Estará investigando no gabinete?
Arte UOL
O hippie: deputado Sarney FIlho (PV-MA). Mais preocupado com a Rio+20 e com o novo código florestal do que com a CPI, Zequinha mal se faz presente nas investigações. Seu pai é o presidente do Senado e um dos homens mais poderosos do Brasil há décadas. A irmã é governadora do Maranhão e preferida da família. Ele é ambientalista
Arte UOL
O bicão estiloso: senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Em sua tentativa de recuperar prestígio, o tucano não vai mal. Faz comentários pertinentes e questiona com alguma habilidade. Ninguém na comissão parece se lembrar que o ex-governador da Paraíba teve sua candidatura cassada por suspeitas de abuso de poder econômico (só tomou posse em novembro). Colegas ainda se ressentem por acharem que têm mais tempo de casa e experiência que ele em investigações. As meninas o cogitam para muso
Arte UOL
A matuta estrategista: senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Líder ruralista, ela divide seu tempo entre o lobby pró-agronegócio e as investigações na CPI. Na comissão, optou por um tom duro com os depoentes, afável com os colegas e estratégico nos requerimentos. Em vez de solicitar oitivas, ela insiste na divisão em subcomissões, para que os trabalhos saiam do marasmo depois de dois meses. Ainda não deu certo. Mas no interiorzão ninguém tem pressa de nada, sô.
Arte UOL
O mirim brincalhão: deputado Filipe Pereira (PSC-RJ). Aos 28 anos de idade, ele é o parlamentar mais jovem da CPI. As perguntas que faz muitas vezes são pertinentes e desconcertam depoentes. Mas o sorriso esquisito faz parecer que ele se sente em uma grande brincadeira, ao lado de colegas bem mais experientes. Quando muda o tom, surge uma indignação um tanto artificial. É como se a pequena Maísa, atriz de novelas do SBT, tivesse uma vaga na Câmara
Arte UOL
O funkeiro: deputado Odair Cunha (PT-MG) - O relator da CPI já foi acusado de ser "tchutchuca" com aliados e "tigrão" com os adversários. Mas nada é tão simples: ele também levou créu dos colegas de partido porque não estava sendo duro o suficiente com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Mesmo assim ele não deixa dúvida: dá o maior conceito para os amigos seus
Arte UOL
A panela de pressão: Senador Vital do Rego (PMDB-PB) - O presidente da CPI do Cachoeira tem dificuldades para ser malvado. Permite comentários em horas indevidas, dá a palavra a quem já falou e ainda recebe instruções de membros mais experientes da comissão. Outros parlamentares dariam murros na mesa, exigiriam respeito ou ameaçariam com a votação de requerimentos polêmicos. Não é o caso dele. A pressão é tamanha que ele precisou sofrer um cateterismo. Conselho de seu pai: CPI é perigoso, Vital
Arte UOL
O repressor: deputado Paulo Teixeira (PT-SP) - Vice-presidente da CPI, ele foi escalado pelo partido para tratorar os adversários quando eles tentam protelar em depoimentos, discussões, votações. Ao contrário do titular, ele não tem dó de cortar microfones e descartar instrumentos regimentais para acelerar as sessões. O presidente da comissão já descobriu: quando vier casca grossa, basta sair e deixar o petista na direção.
Arte UOL
O tagarela: senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) - As más línguas do Congresso dizem que o novato parlamentar começa a dar entrevistas até quando abre a geladeira de casa e a lâmpada acende. Muitas vezes faz intervenções pertinentes. Mas sua necessidade de comentar tudo antes, durante e depois das reuniões da CPI já é motivo de riso de alguns parlamentares. Tem o mérito de buscar a verdade no caso Cachoeira desde o início: é um dos propositores da CPI. Falou, falou, falou até os colegas aceitarem a ideia.
Arte UOL
O vilão silencioso: Carlinhos Cachoeira - Ele está em todas. É o pivô da CPI, um dos homens mais poderosos do submundo brasileiro. Lamentavelmente ele é mais eloquente nos grampos da Polícia Federal do que na CPI. Reservou-se o direito de não dizer nada. Mas ainda vão falar dele por muito tempo.
Arte UOL
O histérico: deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) - Ex-promotor de Justiça, ele evitou questionar suspeitos de corrupção ligados ao seu partido. Quando outros o fizeram, protestou, levantou da cadeira, berrou. Seus colegas tucanos são bem mais discretos em seus comentários. Ele não. Quase sempre está na primeira fileira, onde ficam os que chegaram mais cedo. É um dos que mais atraem holofotes na comissão.
Arte UOL
Os marqueteiros: governadores Marconi Perillo (PSDB) e Agnelo Queiroz (PT) - Nem parece que eles estavam se explicando sobre suspeitas de corrupção. As maravilhas de Goiás e os encantos do Distrito Federal foram seus principais assuntos com os parlamentares. Cachoeira teria se infiltrado na gestão tucana tentado fazer o mesmo na petista. Mas está tudo esclarecido, dizem seus aliados. Sobraram apenas os auto-elogios e as reclamações de perseguição.
Arte UOL
O ex-amigo: deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) - A vida política desse parlamentar é cheia de confusões, especialmente quando tinha sua base política no Acre. Mudou de nome e mudou para o Distrito Federal há poucos anos. Tornou-se presidente de uma autarquia do governo José Roberto Arruda (ex-DEM), afastado por suspeitas de corrupção. Mais tarde, numa nova reviravolta, elegeu-se deputado e virou secretário de Obras do governo Agnelo Queiroz (PT). Rompeu com o petista. Na CPI, pede que o investiguem
Arte UOL
O professor aloprado: Walter Paulo Santiago - Em prejuízo próprio, deu o único depoimento relevante da CPI nos dois primeiros meses. Enrolou-se na explicação de como comprou a casa do governador de Goiás, Marconi Perillo. Colocou em dúvida se é um intermediário entre o tucano e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Não ajudou em nada, mas deu alguma dramaticidade à novela da CPI.
Arte UOL
O bon vivant: Antonio Carlos Almeida Castro, o Kakay - Advogado de meio mundo de investigados na CPI, ele também já trabalhou para meio mundo de parlamentares da comissão. Mas se engana quem acha que ele passa a vida enfurnado em um escritório lendo documentos. Tem sua equipe para isso. Passa feriados em Paris, continua marcando festas com amigos do mundo jurídico/político, bebe seus vinhos... Também pudera: se tem alguém que se dá bem com a confusão toda, esse é ele.