Cuba antes e depois do livro brasileiro "A Ilha"

Arte/UOL (FolhaPress, Armando Pereira Filho/UOL, Kimberly White/Reuters)
O jornalista e escritor Fernando Morais realizou sua primeira viagem a Cuba há 40 anos. Ele foi no começo de 1975 para escrever o livro "A Ilha", publicado em 1976. A obra mostrava aspectos como embargo econômico dos EUA, sistema de saúde e educação. O UOL esteve agora em Cuba para relatar o que mudou nessas quatro décadas Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Capa de "A Ilha", do livro do jornalista Fernando Morais sobre Cuba. O livro foi lançado em 1976, mas a viagem do repórter ao país foi feita no começo de 1975 e completa 40 anos agora Mais
Alejandro Ernesto - 22.out.2013/EFE
Cubano segura uma nota de peso cubano (em cima, usada por moradores) e uma de peso conversível (usada por estrangeiros); em 1975, a média salarial dos cubanos era de 180 pesos mensais (então US$ 219), segundo o livro "A Ilha". Hoje o salário médio é de 471 pesos cubanos (só US$ 18). Em pesos, o salário subiu 162%. Mas, em dólares, a perda foi de 92% Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Cuba tem uma "caderneta de racionamento" ou "abastecimento", que garante comida subsidiada a preços simbólicos aos 11,2 milhões de cubanos (1 kg de arroz custa R$ 0,05). Tem itens como arroz, feijão, leite, café e papinha para crianças. Quando Fernando Morais visitou Cuba, em 1975, esperava-se o fim breve da caderneta, mas ela já dura mais de 50 anos. É criticada por ter poucos itens, que duram só metade do mês. O governo diz que não é racionamento, mas sim garantia do indispensável a todos os cubanos Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Os supermercados em Cuba são muito modestos e diferentes dos que os brasileiros conhecem. Os cubanos podem comprar mais do que é definido na caderneta de abastecimento ou racionamento, mas aí pagam o preço normal, muito mais alto (de 70 a 150 vezes mais). O quilo do leite em pó subsidiado custa 2,50 pesos cubanos (US$ 0,09), enquanto no mercado livre sai por 6,60 pesos conversíveis (US$ 6,60, 70 vezes mais) Mais
John McConnico - 16.out.1997/AP
Apesar das críticas ao racionamento, segundo dados de 2006 do Unicef, Cuba era um dos três melhores países da América Latina e Caribe em relação à desnutrição infantil. Apenas 4% das crianças cubanas de até 5 anos estavam abaixo do peso. O Chile liderava a região com só 1%. A Jamaica empatava com Cuba (4%). O Brasil tinha 6% de suas crianças até 5 anos abaixo do peso. Os EUA tinham 2% e a Etiópia (África), 47% Mais
Rafael Perez 27.abr.2000/Reuters
Fernando Morais diz em seu livro que havia um atenuante no racionamento em 1975: as escolas davam três refeições grátis a seus alunos, e os trabalhadores tinham comida subsidiada em seus empregos. Os cubanos só precisavam comprar alimentos para o fim de semana. Hoje há menos refeições e algumas são pagas. Crianças até 12 anos ganham lanche e almoço no ensino fundamental; de 13 a 15 anos têm um lanche (ensino médio); acima dessa idade, têm de pagar. Os trabalhadores não têm mais comida subsidiada no emprego, mas receberam um adicional no salário Mais
Alejandro Ernesto - 27.mai.2011/EFE
Homens fazem compra em cafeteria estatal em Havana; Fernando Morais diz em seu livro que havia um atenuante no racionamento em 1975: os trabalhadores tinham comida subsidiada em seus empregos. Os cubanos só precisavam comprar alimentos para o fim de semana. Hoje os trabalhadores não têm mais comida subsidiada no emprego Mais
Jose Luis Magana - 21.jul.2000/AP
A saúde é um dos maiores orgulhos de Cuba. Fernando Morais relata em "A Ilha" que em 1975 todos os serviços eram gratuitos. Hoje os serviços sociais continuam grátis, entre eles saúde e educação. Mas moradores reclamam que nas farmácias populares, onde se distribuem remédios, faltam muitos itens. Já nas farmácias dentro de hotéis para turistas que pagam em dólares não falta nada. Cuba reconhece problemas de gestão nas farmácias, mas diz que faltam poucos remédios Mais
Kimberly White - 20.nov.2010/Reuters
Fernando Morais relata que, na Cuba de 1975, a taxa de mortalidade infantil era de 27,4 por mil nascimentos (a mais baixa da América Latina e inferior à de algumas regiões dos EUA, segundo a ONU). O número mais recente (2013) é muito melhor: 5,4 crianças mortas por mil. No Brasil, é mais que o dobro disso (12,1 mortos por mil nascidos vivos). Nos EUA, são 6,2 mortos por mil Mais
Enrique De La Osa - 31.jul.2013/Reuters
Segundo Fernando Morais, Cuba tinha, em 1975, 7.200 médicos (7,69 médicos por 10 mil habitantes). Agora saltou quase nove vezes: são 67,2 médicos por 10 mil habitantes. É mais do que o triplo da média nas Américas (20,8) e bem maior que nos EUA (24,5) e Brasil (18,9 médicos por 10 mil habitantes) Mais
Marlene Bergamo/Folhapress
Jovens que se prostituem aguardam por clientes na avenida do Malecon, em Havana (Cuba); quando visitou Cuba para escrever seu livro "A Ilha", há 40 anos, Fernando Morais diz não ter encontrado prostituição nem uso de drogas Mais
Fernando Lezcano - 1º.jan.1959/AP
Nos primeiros tempos da revolução, foram fechados os cassinos, eliminando-se os jogos de azar, relata Morais. Mas sobreviveu uma loteria clandestina, chamada de "bolita" ou "charada". Moradores trabalham como anotadores das apostas, numa função parecida com a do pessoal que opera no jogo do bicho no Brasil. Também há rinhas de galo, igualmente proibidas Mais
Armando Pereira Filho/UOL
No aniversário de 56 anos da Revolução Cubana, em 1º de janeiro deste ano, Fidel Castro não apareceu nem fez longos discursos, como era comum em 1975, quando o jornalista brasileiro Fernando Morais visitou o país para escrever "A Ilha". Mas Fidel apareceu em imagens de arquivo em programas da TV estatal cubana Mais
Armando Pereira Filho/UOL
A Praça da Revolução foi ocupada por apenas poucos turistas em 1º de janeiro, dia do "Triunfo da Revolução". Nos tempos de Fidel Castro, longos discursos políticos para multidões eram comuns nos feriados nacionais não são mais comuns. Neste ano, não houve discursos, apenas festas com shows à noite Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Na primeira visita do jornalista Fernando Morais a Cuba, a TV estatal passava muitos programas do Leste Europeu, como a então Alemanha Oriental. Com a queda do Muro, a TV tem outras fontes. No dia do aniversário da revolução (1º de janeiro) neste ano de 2015, mostrou as felicitações do ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Grafite com imagem de Che Guevara enaltece a revolução cubana em rua de Havana. É uma das poucas pichações políticas encontradas atualmente em Cuba, diferentemente da época em que o jornalista Fernando Morais visitou o país para escrever o livro "A Ilha", em 1975, quando eram comuns os outdoors ideológicos Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Cartaz no estatal centro de artesanato, em Havana, celebra a libertação de cinco cubanos que estavam presos nos EUA, sob acusação de espionagem. A libertação foi parte da reaproximação de Cuba com os EUA. É um dos poucos cartazes políticos encontrados atualmente em Cuba, diferentemente da época em que o jornalista Fernando Morais visitou o país para escrever o livro "A Ilha", em 1975, quando eram comuns os outdoors ideológicos Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Fernando Morais viu em 1975 muitos cartazes e outdoors de propaganda política, como era comum em países socialistas. Agora é bem mais raro. Propagandas de multinacionais, como a da marca esportiva Puma, com o jogador italiano Balotelli, é encontrada no centro estatal de artesanato, em Havana. O apelo ao futebol também mostra avanço da modalidade em relação ao beisebol, que era o grande destaque de Cuba na primeira visita de Morais à ilha Mais
Armando Pereira Filho/UOL
No estatal centro de artesanato, em Havana, uma loja da multinacional de artigos esportivos Puma; cartazes publicitários não existiam na Cuba de 1975, visitada por Fernando Morais. O comum eram slogans ideológicos Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Mural desbotado em centro comercial de Havana exalta heróis da revolução cubana, como Che (centro) e Camilo Cienfuegos (à esq.); na viagem de Fernando Morais para escrever "A Ilha", em 1975, mensagens políticas em outdoors eram bem mais comuns no pais, mas hoje são mais raras Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Pichação com imagem de Che Guevara em área degradada de Havana (Cuba); na viagem de Fernando Morais para escrever "A Ilha", em 1975, mensagens políticas em outdoors eram bem mais comuns no pais, mas hoje são mais raras Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Lojas de artesanato em Cuba aproveitam a imagem de líderes revolucionários como Che Guevara para vender lembranças Mais
Armando Pereira Filho/UOL
A foto clássica de Che é explorada em lojas de artesanato em Cuba em formatos diversos além de camisetas e pôsteres tradicionais Mais
Adalberto Roque - 26.set.2002/AFP
O ex-líder cubano Fidel Castro examina hambúrguer americano em feira internacional em Havana (Cuba), em 2002; depois do anúncio de reaproximação entre EUA e Cuba, em 17 de dezembro de 2014, um dos filhos de Fidel, Alex Castro, disse que Coca-Cola e McDonald's são bem-vindos no país, se quiserem se instalar lá Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Prédio no centro de Havana (Cuba) com elevador quebrado e obras inacabadas, segundo moradora; a cidade quase não tem mais outdoors políticos como relatado no livro "A Ilha" há 40 anos, mas ainda se encontram muitas bandeiras cubanas Mais
Armando Pereira Filho/UOL
A presença de turistas causava desconfiança em 1975, relata "A Ilha", pois o governo temia a infiltração de "contrarrevolucionários e agentes da CIA". A cidade praiana de Varadero tinha uma colônia de férias exclusivamente para cosmonautas russos. Hoje Varadero (foto) é um paraíso com resorts "all inclusive" e turistas do mundo todo. Espera-se aumento da presença de americanos com a retomada das relações com os EUA Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Grandes redes internacionais de hotéis,como Meliá, estão presentes em Cuba, na capital Havana (foto) e em Varadero, paraíso caribenho. A presença de turistas causava desconfiança em 1975, segundo relato do jornalista Fernando Morais em seu livro "A Ilha", pois o governo temia a infiltração de espiões da CIA. Hoje espera-se aumento da presença de americanos com a retomada das relações com os EUA Mais
Armando Pereira Filho/UOL
No livro "A Ilha", Fernando Morais relata que, em 1975, ninguém cobrava gorjetas no país. Hoje trabalhadores de todas as áreas, como garçons, carregadores de malas, barmen em hoteis e restaurantes e faxineiras de banheiro esperam por gorjetas. Na foto, copo cheio de gorjetas em dólares (ao lado dos canudos), em resort "all inclusive" Meliá em Varadero (cidade praiana de Cuba) Mais
Marlene Bergamo/Folhapress
Crianças jogam bola em rua de Havana; em 1975, na visita de Fernando Morais, o esporte nacional era o beisebol, e o país se destacava, sendo campeão mundial por anos sucessivos. Hoje o beisebol está perdendo espaço, trocado pelo futebol. A transmissão pela TV de jogos do Campeonato Espanhol atrai os mais jovens. Cristiano Ronaldo e Messi são ídolos. Pelas ruas, encontram-se cubanos vestindo camisas de futebol. Cuba não é mais a campeã de beisebol há vários anos Mais
Armando Pereira Filho/UOL
BMW novo convive em rua degradada de Havana (Cuba) com um carro Lada, da era soviética, praticamente depenado, em segundo plano Mais
Armando Pereira Filho/UOL
Numa praça onde se vendem lembranças de Cuba, em Havana, Che Guevara divide as atenções com um artigo de internet informando que o jogador português Cristiano Ronaldo foi a personalidade internacional de 2014. O beisebol, no qual Cuba brilhava em 1975, está perdendo espaço para o futebol entre os jovens. Cristiano Ronaldo e Messi são ídolos Mais