Mostra em SP registra 'ausências' de famílias de desaparecidos políticos

Gustavo Germano
Em 1969, Gustavo Germano (à esq.) e seus três irmãos posaram para este retrato de família na Argentina. Vários anos depois, eles acabariam sendo vítimas da chamada ''Guerra Suja'' do país, na qual cerca de 30 mil pessoas foram sequestradas, torturadas ou mortas pelos governantes militares do país, que tomaram o poder em um golpe em 1976. Muitos dos que foram capturados passaram a ser conhecidos como ''desaparecidos'' e seus restos mortais nunca foram encontrados Mais
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O irmão mais velho de Germano, Eduardo, então com 18 anos, foi sequestrado em 1976 e se tornou um dos desaparecidos. A história do próprio Germano inspirou o ensaio fotográfico criado por ele para documentar a dor de famílias que perderam seus entes queridos durante os regimes militares da América do Sul nos anos 1960,70 e 80. Germano se centrou em incidentes ocorridos em seu país natal, a Argentina, e no Brasil. ''Por meio dos casos retratados nas fotos, eu quis despertar atenção para as vítimas'', afirma o fotógrafo Mais
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Ana Rosa Kucinski e seu marido, Wilson Silva, eram ativistas políticos que lutaram contra o regime militar que esteve no poder no Brasil entre 1964 e 1985. Os dois tinham 32 anos de idade e estavam casados há quatro anos, quando desapareceram em 1974. Seus corpos nunca foram encontrados Mais
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Um ex-policial contou que Ana foi assassinada em um centro de torturas em Petrópolis (RJ). Desde 2012, a Comissão da Verdade brasleira tem recorrido à Lei de Acesso à Informação para trazer à luz documentos históricos ligados a abusos de direitos humanos. Mas há relatos da mídia nacional que indicam que textos ligados aos crimes do regime militar estão desaparecidos e provavelmente foram destruídos Mais
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O advogado Luiz Almeida Araújo, retratado aqui com sua irmã e mãe, foi preso e torturado pela primeira vez em 1966, após ter se envolvido com o movimento estudantil. Em seguida, ele foi libertado Mais
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Cinco anos depois, em 24 de junho de 1971, Luiz Almeida Araújo voltou a ser sequestrado em São Paulo. De acordo com o Tortura Nunca Mais, projeto que documenta casos de tortura, mortes e desaparições, Luiz estava em um carro com um companheiro do grupo clandestino Aliança Libertadora Nacional (ALN) quando foi sequestrado. Sua família realizou uma busca desesperada por ele em vão. Registros oficiais indicam que ele foi morto em agosto de 1971. Ele tinha 28 anos na época Mais
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Luiz Eurico Tejero Lisboa também pertencia à ALN. Ele se casou com Suzana Krieger Lisboa em 1960 e começou a trabalhar como funcionário do Senai Mais
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Segundo relatos, ele foi preso em circunstâncias pouca claras em São Paulo, na primeira semana de 1972 e desapareceu. No dia 28 de agosto de 1979, seus restos mortais foram encontrados no cemitério Dom Bosco, sob o nome de Nelson Bueno. Recentemente, sua viúva pediu uma mudança em seu atestado de óbito que afirma que ele ''cometeu suicídio''. Tejera foi o primeiro desaparecido político identificado no cemitério de Perus, na periferia de São Paulo. Os militares enterraram diversos militantes no local sob nomes falsos Mais
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João Carlos Haas Sobrinho (2º à esquerda) é retratado nesta foto de família sorrindo, ao lado de seus amigos de infância no Brasil, em 1947. Ele foi estudar medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas ele teve sua licença médica revogada após ter se tornado um militante de esquerda, depois que os militares chegaram ao poder Mais
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João Carlos Haas Sobrinho ofereceu seus serviços médicos à resistência e entrou para a clandestinidade após o golpe militar, tendo se radicado na região do Araguaia, onde passou a ser conhecido pelos moradores locais como dr. Juca. Ele foi dado como desaparecido em 1972. Mas acredita-se que ele teria morrido em um combate com soldados em setembro daquele ano, juntamente com outros dois guerrilheiros. Ele teria sido enterrado em Xambioá, segundo relatos, mas o Exército sempre negou sua morte e até hoje ele é dado como desaparecido Mais
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Omar Dario Amestoy, retratado ao lado de seu irmão Alfredo, em 1975, estudou direito e conciliou seus estudos com seu ativismo social nas favelas de Nagoya, em Entre Ríos, Argentina Mais
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Omar foi morto juntamente com sua mulher Maria e seus dois filhos, Maria Eugenia, de 5 anos, e Fernando, 3, por integrantes do Exército e da polícia. O julgamento do caso foi concluído em dezembro de 2012 e três pessoas foram condenadas à prisão perpétua Mais
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Nesta foto de família, Clara Alkterman olha com orgulho para seu filho Claudio Marcelo Fink, um argentino que estava estudando engenharia eletromagnética na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Mais
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Claudio Marcelo era politicamente ativo e em agosto de 1976 ele foi sequestrado por um grupo paramilitar. Nos meses seguintes, seus pais não receberam quaisquer informações sobre o paradeiro de seu filho. O fotógrafo Gustavo Germano retornou ao mesmo local da foto original 32 anos depois Mais
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Orlando Rene Mendez, um operário e integrante do grupo guerrilheiro de esquerda Montoneros (Movimento Peronista - MPM) foi sequestrado em 1976, juntamente com sua filha de 11 meses, Laura. A criança foi devolvida à sua família, mas a dor dos familiares continuou. Quando Laura completou 3 anos, sua mãe, Letícia Margarita Oliva, foi sequestrada e nunca mais foi vista Mais
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Muitas crianças cujos pais foram mortos durante o regime militar ganharam novas identidades e foram colocadas para adoção, muitas vezes por famílias de oficiais do Exército e da polícia. Laura não foi e se considera uma pessoa de sorte por isso. Ela atualmente trabalha na Secretaria de Direitos Humanos da província de Entre Rios (Argentina). A mostra 'Ausências' entrou em cartaz nesta semana e está em exibição no Arquivo Público do Estado de São Paulo até abril Mais