A evolução da vida dos deslocados em sete anos de conflito no Sudão

Paul Jeffrey e Annie Bungeroth
Mais de uma década depois do início do conflito explodir na região de Darfur, no oeste do Sudão, os mais de 2 milhões de deslocados internos têm poucas esperanças de voltar aos seus povoados. Fotógrafos da organização católica Cafod capturaram imagens em três campos na área central de Darfur em 2007 e em 2014 para documentar as mudanças. "Não me lembro do dia em que tirei esta foto, mas eu tinha mais cabelo", afirmou Hamisa, a única moradora que aceitou usar o nome verdadeiro. "Não posso mais usar o meu vestido pêssego, ele foi destruído num incêndio." Na foto, Hamisa no acampamento de Hassa Hissa em Darfur, Sudão - 2007 Mais
Paul Jeffrey e Annie Bungeroth
Hamisa se lembra de quando fugiu do seu vilarejo em 2003 "carregando um dos meus netos nas costas", durante um ataque. "Nos escondemos nas montanhas e quando o 'pou, pou' (das armas) parou, voltei para o povoado para enterrar os mortos." Levou quatro dias para chegar ao acampamento de Hamadia. "Nunca imaginaria que acabaria morando aqui por 11 anos e nunca mais ver o meu vilarejo. Quando você olha para mim hoje, enxerga uma velha. Por ser velha, posso dizer o que penso, e peço aos líderes mundiais para trazer a paz de volta a este país, pelo amor dos nossos filhos.". Acima, Hamisa no acampamento em Darfur, Sudão - 2007 Mais
Paul Jeffrey e Annie Bungeroth
Trabalhar na terra é o estilo de vida tradicional para muitos na região rural do Sudão. Mas aqueles que foram forçados a abandonar as suas casas por causa do conflito perderam as suas terras, animais, equipamentos e sementes. Muitos refugiados dependem de doações para sobreviver há anos. Com o número cada vez menor de agências humanitárias atuando na região, as poucas que o fazem, como a ajuda da Igreja Norueguesa, tentam ajudar as comunidades a ficarem mais autosuficientes. Nesta imagem, vê-se uma cooperativa do acampamento de Hamadia cultivando a terra. Na foto, integrantes de uma cooperativa agrária financiada pela Ajuda da Igreja Norueguesa Mais
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Existem mais de 27 campos de deslocados na zona central de Darfur: de pequenos acampamentos, como poucos milhares de moradores, até os maiores com cerca de 70 mil pessoas. Estas fotos de campos próximos à Zalingei evidenciam as mudanças dos últimos nove anos. Telhados de lona foram cobertos por tijolos de argila e se tornaram residências permanentes. Pode-se ver também as estreitas vielas no aglomerado de casas e as árvores que cresceram, oferecendo sombra. Na foto acima, alto: o campo de refugiados perto de Zalingei, Darfur, em foto de 2005. Baixo: o acampamento de Khamsa Dagiag, em 2014 Mais
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Os sinais de permanência estão em todos os lugares: barracas que vendem produtos básicos, pilhas de tijolos que serão usados para erguer estruturas mais sólidas. Os moradores levam dois dias para fabricar mil tijolos de argila que serão vendidos por 40 libras sudanesas (cerca de R$15). A renda diária média é de cerca de R$ 0,80. Acima (esq.).: um homem fabrica tijolos no acampamento de Hamadia, Darfur. À direita: Uma barraca vende calçados em Hamadia. Fotos de 2014 Mais
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Amina, de verde no canto inferior direito da foto, se lembra da primeira vez que olhou para dentro do poço artesiano que tinha acabado de ser escavado, há sete anos. Ela tinha ido com outras deslocadas levar comida para os homens que trabalhavam nas fundações da estrutura, no campo de Khamsa Dagiag. Hoje, paineis solares fornecem energia para 15 bombas que levam a água do poço para o acampamento. "Foi o melhor dia, quando recebemos a nossa própria água", conta Amina. "Antes, tínhamos que ir até o vale buscar água e era perigoso, porque nômades nos atacavam." Na foto acima, moradores olhando para dentro do poço escavado em Khamsa Dagiag, Darfur, em 2007 Mais
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"Ainda enfrentamos muitas dificuldades, depois de dez anos morando aqui, mas pelo menos não temos mais que nos preocupar em pegar água", diz Amina. Ela tem um filho de nove anos que nasceu no acampamento. Ele frequenta uma escola, e a mãe espera que um dia ele possa usar a educação para buscar uma vida melhor fora do acampamento. Amina é analfabeta e às vezes vai até Zalingei para trabalhar como lavadeira e passadeira em "casarões" da cidade. Acima, Amina olha pela janela de sua casa em Khamsa Dagiag, Darfur, 2014 Mais
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Falta trabalho nos acampamentos. Em 2007, Yousif era solteiro e, ao chegar lá, aprendeu a fazer pães para se sustentar. Hoje é casado e tem três filhos. "Nos mudamos para um novo acampamento depois do casamento. Não tinha perspectivas como padeiro e comecei a fabricar tijolos. É um trabalho duro, mas preciso sustentar as crianças", ele conta. "Darfur ainda não é um lugar seguro, então não posso levar os meus filhos de volta ao meu povoado e mostrar para eles uma vida em paz." Alto: Yousif em 2014 no campo de Aislam, em Darfur. Em baixo: Yousif assando pães em Hassa Hissa, em 2007 Mais
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Haja foi fotografada no acampamento de Hassa Hissa em 2007 com o mais novo de seus sete netos, Horan. "Eu morava no setor dois do campo quando essa foto foi tirada. A casa era pequena demais para nós e nos mudamos." Haja gostaria de voltar para casa, mas acha isso improvável. Ela perdeu o contato com antigos amigos e vizinhos do seu povoado. Acima, Haja carregando o seu neto em Hassa Hissa, Darfur, 2007 Mais
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Sete anos depois, além de ter se mudado, pouco mudou na vida de Haja. "Tomo conta dos meus netos enquanto a minha filha procura bicos na cidade, lavando pratos ou passando roupa." Horan está tentando uma vaga na escola corânica. Os netos mais velhos frequentam outras escolas em outros acampamentos. Hoje, existe toda uma geração de crianças que só conhece a vida nos acampamentos. Acima, Haja sentada na cama de sua casa, cuidando do neto em Darfur, 2014 Mais
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Quando Rawia fugiu do vilarejo onde morava, ela foi para um campo com o marido e filhos levando apenas um recipiente para água e um pouco de comida. Foram precisos vários dias para ela encontrar o resto da família, irmãos e irmãs. "Minha mãe morreu recentemente e a sepultamos aqui no acampamento", disse a africana de 32 anos, mãe de quatro filhos. "Não podíamos levá-la de volta para casa para o enterro pois ainda recebemos notícias de confrontos; meu coração está pesado por causa disso." Acima, esquerda: Rawia em uma bomba de água no acampamento Hassa Hissa, Darfur, 2007. Direita: Rawia, vestida de laranja, em uma bomba de água no mesmo acampamento em 2014 Mais
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Muitos grupos lutam no confronto em Darfur, e em muitas frentes. A luta entre forças do governo, rebeldes e milícias, além dos conflitos localizados, desencadearam uma onda de violência entre as etnias. Isto significa que há um fluxo constante de novos deslocados nos campos, e eles chegam caminhando, em burros e veículos alugados. Segundo a ONU, 390 mil pessoas abandonaram suas casas no primeiro semestre de 2014, mais do que em qualquer ano desde o ponto culminante da crise no país, em 2004. Acima, mulheres durante uma tempestade de poeira em um acampamento para os recém-chegados em Hamadia, Darfur, 2014 Mais
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Uma iniciativa de paz de 2011 não conseguiu diminuir o confronto no país, que reflete as tensões históricas entre os árabes, que são nômades, e as comunidades de fazendeiros negros. A força da ONU e da União Africana enviada para a região patrulha os campos em veículos blindados, mas algumas pessoas ainda não se sentem seguras para deixar os acampamentos. Os moradores foram obrigados a encontrar novas formas de ganhar a vida e o ímpeto empreendedor está crescendo entre eles. Na foto, um homem corta cabelos no campo Khamsa Dagiag em Darfur (2014) Mais
Paul Jeffrey e Annie Bungeroth
O modo de vida tradicional continua dentro dos acampamentos. Acima, uma artista trabalha com henna em uma cliente. Mulheres sudanesas gostam de pintar as mãos e pés com henna para festas, especialmente casamentos. "A vida é difícil nos campos, mas quando fazemos nossos pés, esquecemos dos problemas", disse uma das clientes. Acima, aplicação de henna no campo de Hassa Hissa, Darfur, 2014 Mais
Paul Jeffrey e Annie Bungeroth
Líderes comunitários (esq.) ainda tentam manter autoridade nos campos, mas temem que a frustração e a falta de empregos leve a uma população jovem cada vez mais politizada e vulnerável ao recrutamento por milícias. Comitês de juventude foram estabelecidos para os jovens nos campos e o futebol é um esporte popular entre homens e mulheres. Na foto acima, os líderes comunitários com seus telefones nos arredores do campo de Hamadia, em Darfur. À direita, meninas jogam vôlei em uma escola secundária no campo de Hamadia Mais