CPI da Covid é mais um capítulo

Escândalos de corrupção na saúde extrapolam vacinas; relembre

Por Gabriel Toueg

A corrupção na área da saúde não é exclusiva do Brasil. Mas, neste país tão desigual, ela é especialmente cruel: o sangramento de recursos tiras das pessoas mais vulneráveis o acesso aos direitos mais básicos, como medicamentos e tratamentos
iStock

Você não consegue, da noite para o dia, desmanchar uma estrutura que se encontra lá dentro. O Ministério da Saúde sempre foi um lugar onde a corrupção andou lá dentro.

Vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), sobre irregularidades na aquisição da vacina indiana Covaxin
CPI da Covid não é caso isolado. Relembre alguns escândalos da corrupção na saúde brasileira
Pedro França/Agência Senado

Máfia dos Sanguessugas

Em 2006, uma operação da Polícia Federal desmontou o esquema da Máfia dos Sanguessugas. O arranjo envolvia ao menos 87 deputados e três senadores, de dez partidos. Segundo a PF, os parlamentares apresentavam emendas ao Orçamento pedindo a compra de ambulâncias em troca de propinas pagas pela empresa Planam, que vendia as ambulâncias a preços superfaturados
Na época, uma CPI pediu a abertura de processo contra 69 deputados (na imagem, Coriolano Sales, que renunciou) e três senadores, mas ninguém foi punido. Na Justiça, o processo tem mais de 500 réus, mas nenhum dos líderes foi responsabilizado
Elton Bomfim / Acervo da Câmara dos Deputados

Fraudes em próteses

Operação deflagrada em abril de 2017 pela força-tarefa da Lava Jato no Rio levou à prisão de Sérgio Côrtes (na foto), então secretário de Saúde de Sérgio Cabral. Outras duas pessoas também foram presas, sob suspeita de fraudes no fornecimento de próteses para o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into)
Pedro Teixeira/Agência O Globo
A estimativa da Receita Federal à época das prisões era de desvios de R$ 300 milhões, por meio de fraudes em licitações entre 2007 e 2016. A força-tarefa descobriu que servidores públicos influenciavam licitações para beneficiar uma das maiores fornecedoras de próteses do Rio em troca de propina sobre os contratos
Fábio Teixeira/UOL

Polêmicas do 'ministro da doença'

Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) foi ministro da Saúde entre 2016 e 2018, na gestão de Michel Temer (MDB). O pivô do escândalo da compra da Covaxin chegou a ser chamado na época de "ministro da doença", depois de tentar cortar recursos do SUS (Sistema Único de Saúde) e defender o interesse de planos privados
Gustavo Sales/Câmara dos Deputados
Também esteve envolvido em um escândalo relacionado à aquisição de medicamentos sem eficácia contra o câncer, a Leuginase. Apesar da proibição expressa de um juiz do Distrito Federal, em 2017, o medicamento chegou a ser distribuído a crianças, mas oferecia sérios riscos à saúde. Investigações apontaram indícios de superfaturamento na compra da droga
Reuters

Propinas e Witzel

O impeachment do ex-governador Wilson Witzel (PSC) teve início com um caso de corrupção durante a pandemia. De acordo com a denúncia, ele teria utilizado o cargo para montar um esquema que movimentou mais de R$ 554 milhões em propinas pagas por empresários ao escritório de advocacia de sua esposa, Helena Witzel
Wilton Júnior/Estadão Conteúdo

Dardanários

Em 2020, a operação Dardanários prendeu três pessoas, incluindo o ex-ministro Alexandre Baldy (na foto) e um pesquisador da Fiocruz. Eles eram investigados por suposto conluio relacionado ao direcionamento de contratações. A PF disse à época que apurava crimes de corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa
UESLEI MARCELINO/REUTERS

O irmão de PC Farias

Na década de 1990, o ex-presidente Fernando Collor nomeou o irmão de PC Farias (na foto), seu tesoureiro de campanha, como secretário-executivo da Saúde. Em setembro de 1991, meses após o caso da compra de um Fiat Elba com cheque assinado por um "fantasma" do esquema de PC, começam a surgir denúncias de superfaturamento na pasta
Ormuzd Alves - 2.dez.1993/Folhapress
Publicado em 08 de agosto de 2021.