A série "O Jogo que Mudou a História", na Globoplay, retrata o surgimento das facções criminosas no Rio e os primeiros embates entre elas, na década de 1970.
O enredo se desenvolve nas favelas fictícias de Padre Nosso, Parada Geral e Morro da Promessa, além do presídio de Ilha Grande.
O complexo penitenciário Cândido Mendes, em Ilha Grande, realmente existiu, ao contrário das favelas fictícias da série.
Foi lá que nasceu, em 1979, o Comando Vermelho (CV), uma das maiores facções criminosas do país e que domina diversas áreas do Rio.
O local a mais de 100 quilômetros da capital do Rio de Janeiro foi construído em 1884. A prisão ganhou o apelido de "Caldeirão do inferno" ou "Caldeirão do diabo" por causa de cenas de violência que aconteceram no local.
Inicialmente, a ilha era usada, na época do império, para isolar pessoas com doenças contagiosas, como hanseníase.
Ao longo do tempo, foram criados espaços na ilha para presos. Um deles foi o escritor Graciliano Ramos, preso em 1936, por seu envolvimento político com a Intentona Comunista de 1935.
Foi lá, aliás, que o romancista e cronista alagoano começou a rascunhar "Memórias do Cárcere" (1953).
Em 1963, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, criou a Penitenciária Cândido Mendes, que depois passou a se chamar Instituto Penal Cândido Mendes.
Na ditadura militar, o local recebeu presos políticos, como membros da ALN (Aliança Libertadora Nacional). A ideia era isolar os presos e dificultar as visitas.
Presos comuns e presos políticos se juntaram, inicialmente, para cobrar melhorias no presídio de Ilha Grande.
Depois, presos comuns iniciaram greves de fome e denúncias de espancamento e maus-tratos. Também passaram a usar a experiência ilícita para mirar o mercado de drogas.
Essa organização dos detentos levou ao que foi chamado de Falange da LSN (referência à Lei de Segurança Nacional, pela qual os presos eram condenados).
Depois, foi rebatizada de Falange Vermelha e, em seguida, Comando Vermelho. O nome da organização aparece pela primeira vez em um relatório policial em 1979.
Bernardo Jardim/Globoplay
No ano seguinte, em 1980, três presos fogem da ilha de barco. Entre eles, José Jorge Saldanha, o Zé Bigode. Ele consegue chegar ao continente e se esconder na Ilha do Governador.
Lá, protagoniza uma troca de tiros contra 400 policiais por mais de 12 horas de confronto. O episódio foi retratado no filme "400 contra 1" (2010), que mostra o início da facção fora da ilha.
O CV passou a dominar os morros do Rio ao longo das décadas. O cenário começou a mudar a partir do avanço das milícias na primeira década dos anos 2000.
A facção atualmente não é mais soberana, como mostram os dados do Geni-UFF (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense).
De acordo com os dados, a facção domina 24,2% dos bairros do Rio, ficando atrás do poder das milícias, que controlam 25,5% dos bairros cariocas.
O presídio da Ilha Grande foi desativado e implodido em 1994, há 30 anos. O acervo do Cândido Mendes integra o Museu do Cárcere, administrado pela UERJ.