"Sargento Castro", que usa nas redes sociais sua antiga patente, é um dos muitos policiais que viralizam com vídeos que enaltecem ações violentas da polícia.
Em menos de um ano, ganhou 160 mil seguidores no TikTok e, em fevereiro, criou o seu próprio podcast, hoje com mais de 170 mil inscritos.
Apesar de confessar crimes e violar uma norma da PM que proíbe a divulgação de conteúdos não oficiais relacionados à corporação em mídias sociais, essa leva de policiais dificilmente é punida.
Pelo contrário, é exaltada por seus seguidores. "Ícone", "esse foi polícia de verdade", "sargento, sou seu fã", dizem alguns comentários em publicações de Castro.
A reportagem ouviu especialistas em segurança pública para entender por que há tanto espaço para falas violentas e a exposição de ações ilegais na internet.
A primeira resposta é: faltam aplicações mais firmes das normas na corporação para punir esse tipo de comportamento, associado ao crescimento das redes sociais.
Além disso, esse tipo de policial é tratado como uma minoria de "fanfarrões", mas que respondem aos anseios punitivistas de parte da sociedade.
Em uma gravação, descreve o dia em que encontrou um grupo de pessoas que teria assistido a um "racha", interceptado pela polícia momentos antes, na zona leste da capital paulista.
Em outro vídeo divulgado no TikTok, ele conta que foi autorizado por um tenente da PM a circular com sua moto pessoal sem placa.
"Eu não ando com placa. Primeiro, eu tenho de me preocupar com ladrão, porque se o ladrão me catar ele vai me matar. Se eu tiver com placa, eu também tenho de me preocupar com radar, com CET, PM, GCM?"
Nos comentários da publicação, alguns questionam: "Está na Constituição que polícia pode andar sem placa?", "então ele está acima da lei?".
O ouvidor das polícias de São Paulo, Cláudio Silva, diz que policiais como Castro ganharam notoriedade por falta de regras mais efetivas dentro das corporações.
O que existe hoje é apenas a diretriz PM3-006, de 2021, da Polícia Militar paulista, que proíbe a divulgação em mídias digitais de conteúdos relacionados à corporação por policiais da ativa e reformados.
A Defenda PM disse em nota que defende que "os princípios e filtros da verdade, o devido processo legal e o direito à ampla defesa" devem ser observados.
Isso para que as publicações de policiais "não resultem em difamações, calúnias, injúrias, na destruição de reputações e exposição ao ridículo dos operadores de segurança pública".
Já a SSP-SP diz que "toda e qualquer denúncia de uso inadequado das redes ou descumprimento desses regramentos são apurados com base no regulamento disciplinar das respectivas instituições".