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Indignados e frustrados

Jorge Ramos

26/10/2011 00h01

Estão indignados e frustrados. Com tudo: com o desemprego, pelas casas que perderam, porque não podem mais pagar a escola, pelos ricos muito ricos, pelos pobres muito pobres e sobretudo porque têm essa pesada sensação de que o sistema está contra eles e que as coisas não vão melhorar em curto prazo.

Em maio, a insatisfação com o estado da política e da economia na Espanha reuniu centenas de "indignados" que ergueram um acampamento no centro de Madri. Neste verão, antes que fossem expulsos pelas autoridades, falei com vários dos manifestantes.

Suas queixas eram muito parecidas com as dos grupos que estão há mais de um mês protestando em várias cidades americanas e cujo movimento "Ocupem Wall Street" começou em Nova York. Mas o problema é que muita gente não sabe exatamente o que os manifestantes querem. E às vezes dá a impressão de que eles mesmos também não sabem.

Sabemos o que não querem dos EUA. Não querem que o 1% da população ganhe mais dinheiro que os outros 99%. Estão fartos de um sistema político endividado que passa o poder de um partido para outro e já não pode criar empregos nem proteger os mais frágeis. Queixam-se da má qualidade das escolas públicas e do tratamento humilhante dado aos imigrantes.

Queixam-se de bancos e empresários que não assumiram a responsabilidade pela perda de milhares de casas. Denunciam o complexo financeiro de Wall Street por enriquecer seus sócios e executivos com a ajuda do governo, enquanto a maioria dos investidores perde suas poupanças. Queixam-se, em poucas palavras, da injustiça e desigualdade na nação mais rica do planeta.

Infelizmente, a falta de liderança é a fragilidade desse movimento. Não há alguém que fale em nome do grupo. E, fora o nome, há escassa coordenação entre Ocupem Wall Street em Nova York e Ocupem Wall Street em Phoenix, Chicago e Miami.

E as entidades às quais se dirige o protesto - governo, bancos, a indústria financeira, os partidos políticos - não vão desaparecer.

Dito isso, não há dúvida de que o movimento está vivo e vibrante - e que é um início. Foi gerado pela crescente suspeita dos americanos de que a promessa fundamental sobre a qual os EUA foram construídos - que o sonho americano está ao alcance de quem realmente trabalhar duro - está desaparecendo silenciosamente. A sociedade americana prosperou baseada nessa promessa durante mais de 200 anos, mas hoje são cada vez mais os que trabalharam com afinco toda a sua vida e no entanto permanecem mergulhados na pobreza e no desespero.

Ao mesmo tempo, a cada dia surgem mais exemplos de executivos que enriquecem abusando da desinformação de donos de casas e investidores.

As injustiças que inspiraram o movimento dos indignados e agora Ocupem Wall Street deram energia a milhares de pessoas que não podem avançar apesar de seus esforços, e que agora estão descobrindo que sua ira e frustração são compartilhadas por muitas outras. A indignação é perfeitamente compreensível.

Estamos em nível planetário em um desses momentos em que o velho não morreu e o novo está a ponto de surgir. E devido à globalização, às novas comunicações e às redes sociais, tudo é local. Os protestos em Londres, Atenas e Cairo são sentidos como se estivessem diante de nossas casas.

Estamos - quase todos - indignados e frustrados. O problema é que não sabemos o que fazer com essa indignação e essa frustração.