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Felicidade é coisa séria e não será alcançada em uma festa nas ilhas gregas

Jorge Ramos

30/07/2015 00h04

Cheguei à ilha de Mykonos, na Grécia, antes do fim da festa. Na mesa ao lado, todos se haviam levantado para dançar ao ritmo de um baticum mediterrâneo. Esta ilha era uma festa. Um casal, em trajes de banho e sem muito esforço, subiu nas cadeiras e começou a girar em cima da mesa, entre o saleiro, a garrafa de vinho branco e o prato de lagostas. Quase todos no restaurante aplaudiam sua graça, enquanto um vento quente chegava do mar Egeu. Sua mensagem era clara: somos muito felizes e queremos que saibam disso.

Depois, é claro, viria a conta e os ânimos baixariam. No cardápio, vi, pela primeira vez em minha vida, uma garrafa de champanhe de 120 mil euros. Não sei se o líquido nessa garrafa dava felicidade. Mas sei que tem gente que paga por ela. Russos ricos, disseram-me.

Estive na Grécia antes do referendo que disse não e antes que os gregos tivessem que apertar os cintos... mais uma vez. Já se percebia uma triste desconexão: os gregos sofriam sua tragédia econômica enquanto nós, os visitantes, íamos buscar - pelo menos por um tempinho - a felicidade.

Era o fim de minhas férias e eu estava prestes a retornar à realidade. Mas resistia à ideia de que só nas férias se pode ser feliz. A ONU também acredita nisso.

A felicidade se transformou em uma questão de Estado. Deixou de ser um assunto romântico de programas de televisão bregas. Os governos procuram que seus cidadãos sejam felizes. Isso dá votos e abre um lugar na história.

Em seu segundo relatório sobre a felicidade no mundo, a ONU fez uma importante distinção. Não está falando da felicidade como sentimento - você estava feliz na festa ontem? -, e sim da felicidade como bem-estar e qualidade de vida - está contente com a maneira como vive?

Para fazer sua lista de países mais felizes e mais tristes, o organismo internacional levou em conta seis fatores: produtividade por pessoa, expectativa de vida, relações comunitárias e de casais, liberdade para escolher, níveis de corrupção e altruísmo ou apoio social. Não surpreende, portanto, que os países mais felizes na lista estejam no norte da Europa - Dinamarca, Noruega, Suíça, Holanda e Suécia - e os mais tristes na África - Ruanda, Burundi, República Centro-Africana, Benim e Togo.

Na lista, é claro, há caprichos aparentemente inexplicáveis: os mexicanos (16º lugar) aparecem como mais felizes que os americanos (17º), os venezuelanos (20º) mais que os alemães (26º) e os uruguaios (37º) mais que os japoneses (43º). Isto representa a enorme importância da vida afetiva sobre as condições materiais. Mas em geral o estudo deixa claro que os mais felizes costumam ser os saudáveis, os que têm emprego e vivem em sociedades abertas e com regras claras.

Muitos acreditam que a felicidade está na próxima esquina. Mudar de lugar nos dá a sensação de que, pelo menos por um tempo, levamos outra vida e somos mais felizes. Por isso nas férias queremos ir a outro lugar.

Identificar um lugar com a felicidade não é novo. Cristóvão Colombo acreditou encontrar a felicidade na América, ao escrever que neste continente "se encontra a morada mais bela, pois é a parte mais alta e nobre do mundo, isto é, o paraíso terrestre".

Esse lugar idílico identificado por Colombo é, supostamente, onde hoje se localiza a Venezuela. Mas está muito longe de ser o paraíso terrestre, e lá não se dá felicidade de presente. A criação por seu presidente, Nicolás Maduro, do Vice-Ministério para a Suprema Felicidade Social do Povo, nada fez para reduzir a criminalidade e a corrupção e sair de uma agônica crise econômica. A quanto amanheceu o dólar no mercado negro da Venezuela? A resposta tira o sorriso de qualquer um.

A felicidade não se obtém com decretos nem com ministérios. Mas, se lhe tirarmos os sentimentalismos de telenovela, se reduz a um mínimo de bem-estar, convivência e harmonia. A felicidade é, portanto, coisa séria e alcançável. Não pura festa em Mykonos.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves