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Antes mesmo do resultado nas urnas, situação da França pós-Sarkozy já é objeto de análise

Sarkozy exibe sinais de cansaço durante comício; observadores já pensam a Europa sem ele - Christophe Karaba/Efe
Sarkozy exibe sinais de cansaço durante comício; observadores já pensam a Europa sem ele Imagem: Christophe Karaba/Efe

De Boston

05/05/2012 06h00

Apesar de uma pequena subida nas intenções de voto em seu favor, nas vésperas do escrutínio de domingo as chances de Nicolas Sarkozy vencer as presidenciais francesas parecem remotas. Sobretudo depois da declaração de François Bayrou, o candidato centrista que obteve 9% dos votos no primeiro turno, anunciando sua decisão de votar em François Hollande. Assim, a maioria dos observadores já analisa qual será a situação da França e da Europa no pós-sarkozismo, com um presidente socialista instalado no Palais de l’Elysée em Paris.

Prova do interesse que a eleição francesa suscita na Europa, pela primeira vez na sua história, a BBC retransmitiu nesta sexta-feira (4), no seu canal parlamentar londrino, o debate de quase três horas entre Hollande e Sarkozy realizado dois dias antes em Paris. Pouco conhecido no exterior, Hollande levanta suspeitas na imprensa conservadora. A revista “The Economist” considera que eleição de Hollande será “ruim para seu país e a Europa”, visto que o socialista pretende confrontar o discurso de equilíbrio orçamentário que Angela Merkel impõe à União Europeia para adotar uma política mais favorável ao crescimento econômico. Opinião compartilhada pelo diário novaiorquino “The Wall Street Journal”, o qual sublinha a alegada inexperiência de Hollande, apresentando-o como “um político de carreira que nunca exerceu um cargo governamental”.

De maneira geral, boa parte da imprensa de um lado e outro do Atlântico Norte pensa que eleição de Hollande aumentará as tensões e a instabilidade econômica, pelo menos no curto prazo, na zona euro e na União Europeia. Angela Merkel apostou abertamente na reeleição de Nicolas Sarkozy – recusando-se até receber François Hollande em Berlim durante a campanha eleitoral – e aparece, numa certa medida, como um dos líderes perdedores da eleição de domingo. Mesmo sabendo-se que os governos de Paris e de Berlim consideram o entendimento franco-alemão como o elemento basilar da construção europeia, o diálogo entre as duas capitais não terá a mesma dimensão que ganhou nos últimos anos. Talvez, a situação entre os dois países só se desvaneça depois de setembro de 2013, quando os alemães votarão para eleger um novo governo.

De seu lado, os franceses se preparam para uma completa reconfiguração do quadro político partidário. Além do retorno dos socialistas à presidência – pela primeira vez desde a reeleição de François Mitterrand em 1988 – o partido do governo, a UMP (União por um Movimento Popular) dirigido por Sarkozy, sofrerá grandes mudanças. A direitização do movimento nestes últimos anos, e nas últimas semanas da campanha presidencial, descontentou os setores do gaullismo tradicional, os quais, na tradição antifascista do general De Gaulle, afirmam posições conservadoras que são ostensivamente contrárias às correntes de extrema-direita francesas reagrupadas no Front National de Marine Le Pen.

Ocorre que Martine Le Pen obteve perto de 18% dos votos no primeiro turno da presidencial e que 37% dos eleitores franceses se declaram favoráveis às ideias ultranacionalistas, antieuro, antieuropeias e anti-imigração do Front National.  Também é verdade que outros 51% dos franceses pensam que o Front National é um perigo para a democracia. Mas, entre uns e outros, a direita francesa terá que redefinir suas alianças partidárias com vistas às eleições legislativas que terão lugar no país nos próximos dias 10 e 17 de junho (salvo se o novo presidente dissolver a Assembleia, logo após a sua posse, no final de maio).

Até agora tem prevalecido a doutrina gaullista, firmada desde o final de Segunda Guerra Mundial, que exclui qualquer aliança local ou parcial com a extrema-direita ou o Front National. Até quando essa doutrina irá perdurar? Até quando os gaullistas se manterão afastados do programa do Front National? Tal são as questões, essenciais para o futuro da França e a Europa, que serão respondidas na próxima semana.