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Ascensão de Felipe 6º dá suporte à Coroa, mas dificuldades de longo prazo persistem na Espanha

21/06/2014 06h00Atualizada em 21/06/2014 15h45

A abdicação do rei Juan Carlos, ocorrida no dia da desclassificação da equipe espanhola campeã do mundo no Maracanã, suscitou manchetes de mau agouro na imprensa europeia. Misturando os dois eventos, os jornais europeus, deram manchetes de sentido duplo. 

Assim, o "Parisien" e o "Le Figaro", diários parisienses, estamparam a mesma chamada: “O final do reinado espanhol”. O "L’Equipe", grande jornal esportivo francês, teve como título “A Espanha abdica duas vezes”. De seu lado, o jornal alemão "Süddeutsche Zeitung" classificava o evento esportivo como “o fim de era” na Espanha. Outros órgãos de imprensa espanhóis e europeus tinham manchetes sobre o “naufrágio” e o “desastre” da Espanha.

 De todo modo, num país mergulhado numa grave crise econômica social, a entronização de Felipe 6º foi discreta, sem o desfile de monarcas e príncipes que costuma marca tais acontecimentos na Europa.

O novo rei fez um discurso meio hesitante mas com um ponto importante que suscitou reações mais extraordinárias ainda. Sublinhando o trunfo principal de seu cargo, o monarca se situou como o garantidor da unidade espanhola, salientando que a unidade não excluía a “diversidade”. Presentes na cerimônia, Artur Mas e Inigo Urkullu, respectivamente presidentes das regiões autônomas da Catalunha e do País Basco, não aplaudiram  o discurso.

Depois, jornais favoráveis a monarquia afirmaram que os dois líderes bateram umas poucas palmas para o rei. Mas foi a imagem da frieza da reação de Artur Mas e de Inigo Urkullu que se espalhou pelas redes sociais espanholas.

Aproveitando o desprestígio monárquico do final do reino de Juan Carlos, os nacionalistas catalães e bascos acentuam suas reivindicações. Na Catalunha haverá a questão da independência da região será posta em voto num referendo marcado para o dia 9 de novembro deste ano. No País Basco, manifestações públicas recentes demonstram que os independentistas também avançam.

Decerto, a ascensão ao trono de Felipe 6º oferece um novo suporte de simpatia à Coroa. No entanto, as dificuldades de longo prazo persistem. Mergulhada desde 2008 numa profunda recessão, a economia espanhola teve um pequeno crescimento de 0,4% no primeiro trimestre de 2014. Permanece, no entanto, o balanço catastrófico dos 3,6 milhões de empregos destruídos durante a crise, ao mesmo tempo em que os salários continuam a baixar e as desigualdades se acentuam.