Longe de Trump, a China e a Europa se aproximam
Frente à irresistível ascensão da China ao status de superpotência, Barack Obama armou uma estratégia de isolamento. Com o "Trans-Pacific Partnership" (TPP), assinado por 12 países ribeirinhos do oceano Pacífico (inclusive o Japão, Chile, Peru, México e Canadá) e o "Transatlantic Trade and Investment Partnership" (TTIP), assinado entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE), Washington e seus aliados pretendiam criar diretrizes e regras comerciais que se impusessem à China e ao restante dos países dos cinco continentes.
Trump entrou na Casa Branca e virou a mesa. Retirou os Estados Unidos do TPP, deixando seus aliados perplexos e pôs na gaveta o TTIP, decisão que não desagradou muito a UE, pois o tratado não tinha apoio unânime na Europa.
Na realidade, a UE aproveitou o neoisolacionismo americano para fazer acordos bilaterais de comércio com o Canadá, Cingapura, Coreia do Sul e Japão. Paralelamente, a UE prossegue negociações similares com o Mercosul, Chile e México, como também com a Austrália, Nova Zelândia, Índia e Indonésia.
A UE também pretende criar uma parceria global com a China. Um primeiro passo foi dado no ano passado com o acordo sino-europeu sobre cem “indicações geográficas”, em que as duas partes reconhecem seus respectivos direitos sobre a denominação de produtos agroalimentares.
O agronegócio é um setor fundamental na UE, e o mercado agroalimentar chinês é um dos maiores do mundo, e em pleno crescimento. Trata-se de um assunto que o Brasil deve seguir de perto para salvaguardar seus próprios interesses.
Assim, estarão protegidos na China produtos europeus como a cerveja da Bavária (Bayerisches Bier), o queijo grego Feta, o espanhol Manchego e italiano Gorgonzola, o Champanhe francês e a vodca polonesa (Polska Wódka). Da mesma forma, a China terá exclusividade de venda na França das maçãs de Yantái, do chá de jasmim do Hengxian, do arroz de Panjin e da manga de Baise.
Porém, o problema da estratégia europeia global é seu rumo hesitante, decorrente da direção colegiada e supranacional que caracteriza a UE.
Como notou o jornalista Jean Quatremer, correspondente do "Libération" em Bruxelas e um dos melhores especialista sobre assunto, a UE não assume sua própria estratégia e evita confrontações diretas na hora de negociar. É nesta brecha que está tentando entrar o presidente francês Emmanuel Macron, que terminou nesta quarta-feira (10) uma visita oficial de três dias à China.
A França se destaca no contexto atual europeu, marcado pelos embaraços das duas outras potências continentais com problemas internos. O Reino Unido com o Brexit, e a Alemanha com as intermináveis negociações partidárias para formar o novo governo de Angela Merkel. Além de ser, no pós-Brexit, o único país da UE com assento permanente, ao lado da China, no Conselho de Segurança da ONU, a França possui, sobretudo nos países francófonos, toda uma rede de influências na África, continente privilegiado na estratégia de expansão global chinesa.
Nas discussões com o líder chinês, Xi Jinping, Macron, que estava acompanhado por 50 grandes empresários franceses, negociou notadamente a venda de 184 aviões Airbus (multinacional francesa, alemã e espanhola) A320 e a construção, pelo empresa francesa Areva, de uma usina de reciclagem de resíduos nucleares.
Como os outros presidentes e chefes de governo ocidentais que visitam a China, Macron passou batido sobre o desrespeito dos direitos humanos no regime ditatorial chinês.
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