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Senado dos EUA pune desempregados ao não estender o seguro-desemprego

Pessoas esperam na fila para entrar em centro de emprego dos Estados Unidos - Reuters
Pessoas esperam na fila para entrar em centro de emprego dos Estados Unidos Imagem: Reuters

Paul Krugman

06/07/2010 00h44

Houve um tempo em que todos consideravam certo que o seguro-desemprego, que normalmente termina após 26 semanas, seria estendido em tempos de desemprego persistente. A maioria das pessoas concordava que era a coisa decente a ser feita.

Mas isso foi no passado. Hoje, os trabalhadores americanos enfrentam o pior mercado de empregos desde a Grande Depressão, com cinco candidatos para cada vaga de trabalho aberta, com o tempo médio de desemprego atualmente em 35 semanas. Mas o Senado partiu para o fim de semana de feriado sem estender os benefícios. Como isso aconteceu?

A resposta é que estamos diante de uma coalizão de insensíveis, sem noção e confusos. Nada pode ser feito a respeito do primeiro grupo e provavelmente não muito a respeito do segundo. Mas talvez seja possível esclarecer parte da confusão.

Por insensíveis, eu falo dos republicanos que fizeram o cálculo cínico de que bloquear qualquer coisa que o presidente Barack Obama tente fazer –incluindo, ou talvez especialmente, qualquer coisa que possa aliviar a dor econômica do país– melhorará as chances deles nas eleições de novembro. Não finja estar em choque: você sabe que eles estão lá e que correspondem a grande parte da bancada republicana.

Por sem noção eu falo de pessoas como Sharron Angle, a candidata republicana ao Senado por Nevada, que tem insistido repetidamente que os desempregados estão escolhendo deliberadamente permanecer desempregados, para continuarem recebendo os benefícios. Um comentário de exemplo: “É possível ganhar mais desempregado do que procurando e aceitando um emprego honesto, mas que não paga tanto quanto. Nosso governo assume tantos direitos que realmente mimamos nossos cidadãos”.

Bem, eu não tenho a impressão de que os americanos desempregados são mimados; desesperados parece ser a descrição mais adequada. Mas é duvidoso que qualquer quantidade de evidência possa mudar a visão de mundo de Angle –e há, infelizmente, muita gente em nossa classe política como ela.

Mas também há, esperamos, pelo menos alguns políticos honestamente desinformados a respeito do que o seguro-desemprego faz –que acreditam, por exemplo, que o senador Jon Kyl, republicano do Arizona, faz sentido quando declara que estender os benefícios agravaria o desemprego, porque “continuar pagando uma compensação aos desempregados é um desestímulo para que procurem por um novo emprego”. Então vamos falar por que essa crença está errada.

O seguro-desemprego reduz o incentivo para procurar trabalho? Sim, os trabalhadores que recebem o seguro-desemprego não estão tão desesperados quanto os trabalhadores sem benefícios e provavelmente serão ligeiramente mais seletivos na procura de um novo emprego. A palavra-chave aqui é “ligeiramente”. A pesquisa econômica recente sugere que o efeito do seguro-desemprego sobre o comportamento do trabalhador é muito menor do que se acreditava. Mas é um efeito real quando a economia está indo bem.

Mas é um efeito completamente irrelevante para nossa situação atual. Quando a economia passa por um boom, e a escassez de trabalhadores está limitando o crescimento, um seguro-desemprego generoso pode manter o emprego mais baixo do que seria em outras condições. Mas como você pode ter notado, no momento a economia não passa por um boom –de novo, há cinco trabalhadores desempregados para cada vaga aberta de trabalho. O corte dos benefícios para os desempregados os tornará ainda mais desesperados por trabalho –mas eles não podem assumir empregos que não existem.

Espere: há mais. Um importante motivo para não haver empregos suficientes no momento é o fraco consumo. Ajudar os desempregados, colocando mais dinheiro no bolso de pessoas que realmente precisam dele, ajuda a estimular o consumo. Este é o motivo para o Escritório de Orçamento do Congresso considerar o seguro-desemprego como uma forma de alto custo-benefício de estímulo econômico. E diferente, digamos, dos grandes projetos de infraestrutura, a ajuda aos desempregados cria empregos rapidamente –enquanto permitir que a ajuda termine, o que está acontecendo no momento, é uma receita para crescimento do emprego ainda menor, não em um futuro distante, mas nos próximos meses.

Mas estender o seguro-desemprego não agrava o déficit orçamentário? Sim, ligeiramente –mas como eu e outros estamos dizendo há muito tempo, economizar em meio a uma economia seriamente deprimida não ajuda a resolver nossos problemas orçamentários a longo prazo. E economizar a custa dos desempregados é cruel e equivocado.

E há alguma chance desses argumentos serem ouvidos? Não pelos republicanos, eu temo: “É difícil fazer com que um homem entenda algo”, disse Upton Sinclair, “quando seu salário” –ou, neste caso, sua esperança de retomar o Congresso– “depende dele não entender”. Mas também há democratas centristas que compraram os argumentos contrários a ajudar os desempregados. Cabe a eles recuar, perceberem que foram enganados e fazer a coisa certa ao aprovarem a extensão dos benefícios.