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A ilusão dos especialistas, um problema do governo Obama

O presidente dos EUA, Barack Obama - Charles Dharapak/AP
O presidente dos EUA, Barack Obama Imagem: Charles Dharapak/AP

Paul Krugman

20/07/2010 01h42

O assunto político mais quente do momento é o “paradoxo Obama” – a desconexão aparentemente misteriosa entre as realizações do presidente e seus números. A ideia é mais ou menos assim: o governo obteve múltiplas grandes vitórias no Congresso, mais notadamente a reforma da saúde, mas o índice de aprovação do presidente Barack Obama é baixo. O que segue é especulação a respeito do que está mantendo seus números baixos: ele é liberal demais para um país de centro-direita; não, ele é intelectual demais, sr. Spock demais, para eleitores que querem mais paixão; e assim por diante.

Mas o único enigma real aqui é a persistência da ilusão dos especialistas, a crença de que o conteúdo do noticiário político diário –quem saiu vencedor no ciclo de notícias, quem deu a resposta mais incisiva– realmente importa.

Essa ilusão, é claro, predomina mais entre os próprios especialistas, mas também é disseminada entre os agentes políticos. Eu argumentaria que a suscetibilidade à ilusão faz parte do problema do governo Obama.

O que os cientistas políticos, diferente dos especialistas, nos dizem é que o problema é realmente a economia, idiota. Hoje, Ronald Reagan é frequentemente creditado como tendo talento político divino – mas no verão de 1982, quando a economia americana ia mal, seu índice de aprovação era de apenas 42%.

Meu colega de Princeton, Larry Bartels, resume dessa forma: “Condições econômicas objetivas – não propagandas espertas de televisão, desempenho em debates ou outras campanhas efêmeras cotidianas– são a influência mais importante sobre as perspectivas de reeleição do atual presidente”. Se a economia melhorar fortemente nos meses que antecederem a eleição, os detentores do poder se sairão bem; se estiver estagnada ou em retrocesso, eles não se sairão bem.

O fato dos elementos “efêmeros” não importarem parece tranquilizador, sugerindo que os eleitores não são influenciados por truques baratos. Infelizmente, a evidência sugere que as questões também não importam, em parte porque os eleitores frequentemente estão profundamente mal informados.

Suponha, por exemplo, que você acredite nas alegações de que os eleitores estão mais preocupados com o déficit orçamentário do que com os empregos. (Isso não é verdade, mas não importa.) Mesmo assim, quanto crédito você espera que os democratas receberiam por reduzir o déficit?

Nenhum. Em 1996, foi perguntado aos eleitores se o déficit tinha crescido ou diminuído na presidência de Bill Clinton. Na verdade, ele despencou – mas um grande número de eleitores, e uma maioria de republicanos, disse que ele aumentou.

Não há sentido em criticar os eleitores por sua ignorância: as pessoas têm contas para pagar e filhos para criar, e a maioria não passa seu tempo livre estudando esse tipo de informação. Em vez disso, elas reagem ao que veem em suas próprias vidas e nas vidas das pessoas que conhecem. Dada as realidades de um quadro sombrio de emprego, os americanos estão descontentes – e punirão aqueles que estiverem no poder.

O que Obama deveria fazer? Alguns analistas, como Charlie Cook, dizem que ele cometeu um erro ao buscar a reforma da saúde, que ele deveria ter se concentrado na economia. Até onde posso dizer, esses analistas não estão falando sobre buscar políticas diferentes – eles estão dizendo que ele deveria ter falado mais sobre o assunto. Mas o que importa são os resultados econômicos de fato.

A melhor forma de Obama evitar um revés eleitoral em novembro teria sido aprovar um estímulo à altura da escala da crise econômica. Obviamente, ele não fez isso. Talvez ele não pudesse aprovar um plano de tamanho adequado, mas o fato é de que ele nem mesmo tentou. É verdade, altos funcionários econômicos teriam minimizado a necessidade de um esforço realmente grande, na prática passando por cima de suas equipes; mas também está claro que assessores políticos acreditavam que um pacote menor obteria manchetes mais amistosas, e que o governo pareceria melhor se vencesse seu primeiro grande teste no Congresso.

Resumindo, parece como se o próprio governo tivesse sido tomado pela ilusão dos especialistas, se concentrando em como suas políticas seriam vistas nos noticiários do que seu impacto de fato na economia.

Os republicanos, a propósito, parecem menos suscetíveis a essa ilusão. Desde que Obama assumiu a presidência, eles têm praticado uma obstrução impiedosa, obviamente não preocupados sobre como suas ações seriam vistas ou noticiadas. E está funcionando: ao bloquear os esforços democratas para aliviar os problemas da economia, o Partido Republicano está aumentando suas chances de uma grande vitória em novembro.

Obama pode fazer algo no tempo que resta? As eleições de novembro, onde o comparecimento é crucial, não são como as eleições presidenciais, onde a economia é tudo. A melhor esperança a esta altura é diminuir a “falta de entusiasmo”, adotando posições fortes que motivem os democratas a saírem para votar. Mas eu não acho que isso vá acontecer.

O que eu espero, se e quando as eleições de novembro forem mal, é que os suspeitos habituais dirão que foi porque Obama foi liberal demais – quando seu verdadeiro erro foi fazer muito pouco para criar empregos.