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EUA precisam aumentar os impostos para conter déficit

Paul Krugman

26/04/2011 00h12

Quando escuto as atuais discussões sobre o orçamento federal, a mensagem que ouço soa assim: Nós estamos em crise! Temos que tomar uma medida drástica imediatamente! E temos que manter os impostos baixos ou reduzi-los ainda mais!

Você então se pergunta: se a situação está assim grave, nós não deveríamos aumentar os impostos, em vez de reduzi-los?

Minha descrição do debate do orçamento não é um exagero. Considere o orçamento proposto pelo deputado Paul Ryan, que todas as Pessoas Muito Sérias nos asseguraram ser corajosa e importante. Essa proposta começa com o alerta de que “uma grande crise da dívida é inevitável” a menos que confrontemos o déficit. Ela então pede, não por aumento de impostos, mas sim por redução de impostos, com os impostos sobre os mais ricos caindo ao nível mais baixo desde 1931.

E devido aos grandes cortes de impostos, a única forma da proposta de Ryan poder alegar reduzir o déficit é por meio de cortes selvagens de gastos, afetando principalmente os pobres e vulneráveis. (Um levantamento realista sugere que a proposta na verdade aumentaria o déficit.)

A proposta do presidente Barack Obama é muito melhor. Pelo menos ela pede por um aumento de impostos sobre as rendas mais elevadas de volta aos níveis da era Clinton. Mas preserva o restante dos cortes de impostos de Bush – cortes que foram originalmente vendidos como forma de eliminar um grande superávit orçamentário. E, como resultado, ele ainda depende demais de cortes de gastos, apesar de ainda não conseguir equilibrar de fato o orçamento.

Então por que ninguém está oferecendo uma proposta que reflita a realidade de que os cortes de impostos de Bush foram um erro enorme, e sugerindo que um aumento da receita é vital para redução do déficit? Na verdade, alguém está – e falaremos disse em um instante. Primeiro, vamos falar sobre o estado atual dos impostos americanos.

Pelo tom de grande parte da discussão do orçamento, seria possível pensar que estamos gemendo sob níveis de taxação esmagadores, sem precedentes. A verdade é que os impostos federais em todas as faixas de renda caíram significativamente nos últimos 30 anos, especialmente no topo. E, no geral, os impostos americanos são muito menores como percentual da renda nacional do que os impostos da maioria dos demais países ricos.

Logo, nós não estamos pagando impostos elevados, nem segundo os padrões históricos e nem em comparação aos outros países. Assim, se uma pessoa estivesse realmente horrorizada com o déficit orçamentário, por que não propor aumentos de impostos como parte da solução?

Mas ainda tem mais. O coração da proposta de Ryan é um plano para privatizar e retirar fundos do Medicare. Mas isso não faria nada para reduzir o déficit ao longo dos próximos 10 anos, o motivo para toda a redução de déficit em curto prazo vir de reduções brutais na ajuda aos necessitados e cortes não especificados nos gastos discricionários. Aumentos de impostos, por sua vez, podem ser remédios de ação rápida para sair do vermelho.

E esse é o motivo para a única proposta orçamentária existente que oferece um caminho plausível para o equilíbrio de o orçamento ser aquela que inclui aumentos de impostos: o “Orçamento do Povo”, da Bancada Progressista do Congresso, que – diferente do plano de Ryan, que é apenas a ortodoxia da direita com uma dose adicional de pensamento mágico – é genuinamente corajosa porque pede por sacrifício compartilhado.

É verdade que ela aumenta a receita em parte impondo impostos substancialmente mais altos sobre os ricos, uma ideia popular em toda parte, exceto em Washington. Mas também pede uma elevação do teto do Seguro Social, aumentando significativamente os impostos para aproximadamente 6% dos trabalhadores. E, ao rescindir muitos dos cortes de impostos de Bush, não apenas aqueles para as rendas mais elevadas, ela eleva modestamente os impostos para as famílias de renda média.

Tudo isso, combinado com cortes de gastos concentrados principalmente na Defesa, poderia resultar em um orçamento equilibrado em 2021. E a proposta consegue isso sem desmontar o legado do New Deal, que nos deu o Seguro Social, e da Grande Sociedade, que nos deu o Medicare e o Medicaid (os seguros-saúde públicos para idosos e inválidos e para as pessoas de baixa renda, respectivamente).

Mas se a proposta progressista tem todas essas virtudes, porque não está recebendo tanta atenção quanto à proposta muito menos séria de Ryan? É verdade que ela não tem chance de virar lei tão cedo. Mas o mesmo vale para a proposta de Ryan.

A resposta, lamento dizer, é a falta de sinceridade de muitos, se não da maioria, dos autoproclamados falcões do déficit. Mesmo que se preocupem de fato com o déficit, este está em segundo plano diante do desejo deles de fazer precisamente o que o Orçamento do Povo evita, que é rasgar nosso atual contrato social, voltando o relógio 80 anos sob o disfarce da necessidade. Eles não querem que lhes digam que essa guinada radical à direita não é, de fato, necessária.

Mas não é, como mostra a proposta orçamentária progressista. Nós precisamos reduzir o déficit, apesar de não estarmos diante de uma crise imediata. Como faremos para conter o crescimento do déficit é uma opção – e ao tornar os aumentos de impostos uma parte da solução, nós podemos fazê-lo sem agredir os pobres e sem minar a segurança da classe média.