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Governo de Rick Perry no Texas não produziu nenhum milagre econômico

Caso Rick Perry seja o candidato à Presidência do Partido Republicano em 2012, a campanha dele irá se centrar no suposto milagre ocorrido no Texas, um Estado que aparentemente quase não foi atingido pela Grande Recessão - Richard Carson/Reuters
Caso Rick Perry seja o candidato à Presidência do Partido Republicano em 2012, a campanha dele irá se centrar no suposto milagre ocorrido no Texas, um Estado que aparentemente quase não foi atingido pela Grande Recessão Imagem: Richard Carson/Reuters

Paul Krugman

16/08/2011 00h51

Conforme já se esperava, Rick Perry, o governador do Estado do Texas, anunciou que disputará a vaga do Partido Republicano para a eleição presidencial. E ele já sabe qual será o tópico da sua campanha: fé em milagres.

Alguns desses milagres certamente dizem respeito a narrativas que podem ser lidas na Bíblia. Mas, caso Perry seja o candidato escolhido do Partido Republicano para disputar a presidência, a campanha dele provavelmente irá se centrar em um tópico mais secular: o suposto milagre ocorrido no Texas, um Estado que, segundo se diz com frequência, quase não foi atingido pela Grande Recessão, graças às políticas econômicas conservadoras. E Perry alegará que é capaz de restaurar a prosperidade dos Estados Unidos aplicando essas mesmas políticas no nível nacional.

Mas o leitor precisa saber que o milagre do Texas é um mito, e que, de uma maneira mais abrangente, a experiência texana não proporciona nenhuma lição importante sobre como restaurar o pleno emprego no país.

É verdade que o Texas entrou em recessão um pouco depois do resto dos Estados Unidos, principalmente porque a economia do Estado, ainda bastante dependente do setor de energia, foi beneficiada pelos altos preços do petróleo no primeiro semestre de 2008. Além disso, o Texas foi poupado da pior parte da crise imobiliária, em parte porque o Estado conta com regulações surpreendentemente rígidas para o financiamento de imóveis.

No entanto, a partir de meados de 2008 o desemprego disparou no Texas, assim como em quase todos os outros Estados.

Em junho de 2011, o índice de desemprego no Texas foi de 8,2%. Isso foi menos do que o desemprego de Estados que enfrentam colapsos de bolhas econômicas, como a Califórnia e a Flórida, mas ainda é um pouco mais do que o índice de desemprego do Estado de Nova York, e significativamente mais do que o índice registrado em Massachusetts. Aliás, um entre cada quatro texanos não conta com nenhum seguro saúde, o maior índice de pessoas sem esse tipo de cobertura em todo o país, graças em grande parte à abordagem do Estado de não deixar que o governo interfira muito na sociedade e na economia. Enquanto isso, Massachusetts conta com uma cobertura quase que universal, graças a uma reforma do sistema de saúde bastante semelhante à Lei de Serviços de Saúde Acessíveis, que alguns apelidaram de lei “matadora de empregos”.

Mas, então, de onde foi que veio essa ideia relativa ao milagre econômico do Texas? Tal ideia deve-se principalmente a incompreensão generalizada dos efeitos econômicos do crescimento populacional.

Pois isso é uma verdade quanto ao Texas: o Estado teve, durante muitas décadas, um índice de crescimento populacional bem mais rápido do que o resto dos Estados Unidos – cerca de duas vezes mais rápido desde 1990. Vários fatores provocaram esse rápido crescimento populacional: uma alta taxa de natalidade, a imigração do México, uma migração interna de norte-americanos oriundos de outros Estados, que se sentem atraídos pelo Texas por causa do clima quente e o baixo custo de vida, especialmente no que se refere aos custos da moradia.

E, apenas para deixar claro, não há nada de errado com um baixo custo de vida. Na verdade, as políticas de zoneamento adotadas em vários Estados restringiram desnecessariamente o fornecimento de moradias, e nesta área o Texas fez de fato algo correto. 
Mas o que o crescimento populacional tem a ver com o crescimento de empregos? Bom, o alto índice de crescimento populacional se traduz em um crescimento de empregos acima da média por dois motivos. Muitas das pessoas que se mudam para o Texas – aposentados em busca de invernos amenos, mexicanos de classe média que procuram uma vida mais segura – trazem consigo um poder de compra que gera mais empregos locais. Ao mesmo tempo, o rápido crescimento da força de trabalho do Texas mantém os salários baixos – quase 10% dos trabalhadores texanos ganham o salário mínimo ou menos, uma percentagem bem superior à média nacional – e esses baixos salários dão às corporações um incentivo para transferir a sua produção para o Estado da Estrela Solitária.

Portanto o Texas tem a tendência, tanto nos anos de prosperidade quanto nos de crise, de apresentar um índice de crescimento de empregos maior do que o do resto dos Estados Unidos. Mas o Estado necessita de uma grande quantidade de novos empregos simplesmente para acompanhar o crescimento populacional – e, conforme demonstram essas comparações relativas ao desemprego, o crescimento recente do número de empregos ficou bem aquém do que era necessário.

Existe um motivo pelo qual esse quadro não se parece muito com o retrato resplandecente que os defensores do Texas gostam de apresentar: o retrato resplandecente é falso.

Mesmo assim, será que o crescimento de empregos no Texas indica uma rota para um crescimento de empregos mais rápido no país como um todo? A resposta é não.

O que o Texas demonstra é que um Estado que oferece mão-de-obra barata e, menos importante, regulamentações fracas é capaz de atrair empregos de outros Estados. Eu penso que argumentações como aquelas apresentadas pelos defensores do Texas devem ser encaradas com ceticismo. O fato é que, argumentar, a partir dessa experiência, que a redução dos salários e o desmantelamento das regulamentações nos Estados Unidos como um todo criariam mais empregos – o que, não importa o que Perry diga, é o que a Economia Perry representa na prática – é algo que envolve uma falácia de composição: não é possível que todos os Estados possam tirar empregos de todos os outros Estados.

De fato, em um nível nacional, é quase certo que baixos salários levariam a um quadro de ainda menos empregos – já que esses salários fariam com que os trabalhadores norte-americanos contassem com ainda menor capacidade para lidar com a montanha de dívida provocada pela bolha imobiliária, algo que está no cerne do nosso problema econômico atual.

Portanto, quando Perry se apresenta como o candidato que sabe como criar empregos, não acreditem nele. Na prática a receita de Perry para a criação de empregos funcionaria tanto quanto a sua tentativa de, por meio de orações, acabar com a terrível seca que se abate sobre o Texas.