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Colocando Sandy contra Katrina

06/11/2012 00h01

Enquanto a tempestade Sandy avançava na direção de Nova Jersey, havia sussurros esperançosos por parte da direita: talvez a tempestade se tornasse o Katrina do presidente Barack Obama, e os eleitores culpassem o presidente pelos danos, e isso fizesse uma diferença nas eleições de manhã. Lamento, rapaziada: as pesquisas mostram uma grande aprovação pela forma como Obama lidou com a tempestade e um aumento significativo em seus índices gerais de favoritismo.

E ele merece esse impulso. Pois a resposta ao Sandy, como o sucesso do resgate da indústria automobilística, é uma demonstração que a filosofia de governo de Obama –que sustenta que o governo pode e deve fornecer ajuda crucial em tempos de crise- funciona. Por outro lado, o contraste entre o Sandy e o Katrina demonstra que os líderes que desprezam a noção de governo não podem oferecer essa ajuda quando necessária.

E como foi essa resposta? Grande parte da região da Grande Nova York (incluindo minha casa) ainda está sem energia; está faltando gasolina; e algumas áreas marginais estão se sentindo negligenciadas. A mídia de direita está apresentando essas dificuldades continuadas como um desastre comparável, não, um desastre maior que as consequências do Katrina. Mas realmente não há comparação.

Eu poderia fazer uma comparação ponto por ponto –e com certeza valeria a pena, se você estiver curioso, revistar o histórico do Katrina em 2005 para ter uma noção de como foi ruim a resposta. Mas para mim a diferença se resume a duas imagens. Uma é o pesadelo no centro de convenção de New Orleans, onde milhares de pessoas ficaram presas por dias, em meio a um abandono inconcebível, uma revolta que todos os EUA assistiram ao vivo na TV, mas que as altas autoridades pareciam não ver. A outra é a cena de Hoboken alagada, e a Guarda Nacional aparecendo no dia após a tempestade para entregar alimentos e água e resgatar os moradores ilhados.

O ponto é que depois do Katrina, o governo parecia não ter ideia do que estava fazendo: desta vez, tinha. E isso não foi por acidente: a capacidade do governo federal de reagir efetivamente ao desastre sempre desmorona quando os republicanos anti-governo detêm a Casa Branca, e sempre se recupera quando os Democratas a retomam.

Considere, em particular, a história da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema).

Sob o presidente George H. W. Bush, a Fema tornou-se o depósito de políticos desqualificados. Quando enfrentou um teste maior, na forma do furacão Andrew, em 1992, a agência fracassou completamente.

Depois, Bill Clinton entrou, colocou a Fema sob administração profissional, e a reputação da agência foi restaurada.

Dada essa experiência, você poderia esperar que George W. Bush fosse preservar os ganhos de Clinton. Mas não: ele nomeou seu gerente de campanha, Joe Allbaugh, para chefiar a agência, e Allbaugh imediatamente assinalou sua intenção de devolver aos Estados e municípios a responsabilidade de assistência aos desastres e reduzir todo o esforço, declarando: “Parece que as expectativas de quando o governo federal deve interferir e seu grau de envolvimento inflaram para além do que é o nível apropriado”. Depois que Allbaugh partiu para o setor privado, ele foi substituído por Michael “o desastroso” Brown, e o resto é história.

 

Como Clinton, Obama restaurou o profissionalismo, a eficácia e a reputação da Fema. Mas Mitt Romney voltaria a destruí-la? Sim, ele faria isso. Como todo mundo já sabe –apesar dos esforços da campanha de Romney para fazer sumir a questão- durante as primárias, Romney usou uma frase quase idêntica à de Allbaugh, declarando que o alívio a desastres deve ser devolvido aos Estados e ao setor privado.

O melhor comentário sobre isso, devo admitir, veio de Stephen Colbert: “quem melhor para reagir ao que está acontecendo dentro de suas próprias fronteiras do que o Estado cuja infraestrutura acaba de ser varrida para o mar?”

Veja, os republicanos adoram citar a velha piada de Ronald Reagan que as palavras mais perigosas que se pode ouvir são “sou do governo e estou aqui para ajudar”. É claro que farão o possível, toda vez que estiverem no poder, para destruir a agência cujo papel é dizer exatamente isso. E sim, é hipócrita que a mídia de direita agora esteja atacando Obama por, segundo eles, não ajudar suficientemente.

De volta à política. Alguns republicanos já começaram a usar o Sandy como desculpa para uma possível derrota de Romney. É um argumento fraco: as pesquisas vêm assinalando uma vantagem clara e crescente para Obama há semanas. Mas, como eu disse, se a tempestade ajudar Obama, será merecidamente.

O fato é que, se Romney tivesse sido presidente nos últimos quatro anos, a resposta federal aos desastres de todo tipo teriam sido muito mais fracas do que foram. Não teria havido pacote de resgate da indústria automobilística, porque Romney se opôs ao financiamento federal que era crucial ao resgate. E a Fema teria continuado mergulhada na incompetência da era Bush.

Então, esta tempestade provavelmente não vai definir a eleição – mas se o fizer, será por razões muito boas.