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A guerra contra os desempregados

09/07/2013 00h01

Será que a vida está fácil demais para os desempregados? Você pode não pensar assim, e eu certamente não penso assim. Mas, curiosamente, é nisso que muitos e talvez a maioria dos republicanos acreditam. E eles estão agindo de acordo com essa crença: há um movimento em curso em todo o país para punir os desempregados, baseado na proposição de que nós podemos curar o desemprego tornando os desempregados ainda mais miseráveis.

Considere, por exemplo, o caso da Carolina do Norte. O estado foi duramente atingido pela Grande Recessão, e sua taxa de desemprego, de 8,8%, está entre as mais altas do país, mais alta do que na Califórnia ou Michigan que sofrem com o problema há muito tempo. Como acontece em todos os lugares, muitos estão desempregados há seis meses ou mais, por causa de um ambiente nacional em que há três vezes mais pessoas em busca de trabalho do que número de vagas.

No entanto, o governo do Estado acaba de cortar bruscamente a ajuda aos desempregados. De fato, os republicanos que controlam o governo estadual estavam tão ansiosos para cortar a ajuda que não só reduziram a duração dos benefícios; eles também reduziram o benefício médio semanal, impedindo o estado de se candidatar a cerca de US$ 700 milhões em ajuda federal para os que estão desempregados há mais tempo.

É um espetáculo e tanto, mas Carolina do Norte não está sozinha: vários Estados cortaram os benefícios para desempregados, embora nenhum a custa de perder a ajuda federal. E a nível nacional, o Congresso vem permitindo que os benefícios estendidos introduzidos durante a crise econômica expirem, apesar de o desemprego de longo prazo continuar com recordes históricos.

Então o que está acontecendo aqui? É apenas crueldade? Bem, o Partido Republicano, que acredita que 47% dos norte-americanos são "tomadores" que vivem à custa dos criadores de emprego, e que em muitos estados nega assistência médica para os pobres simplesmente para contrariar o presidente Barack Obama, não está exatamente transbordando de compaixão. Mas a guerra contra os desempregados não é motivada somente por crueldade; em vez disso, é um caso de má vontade combinado à análise econômica ruim.

Crítica padrão

Em geral, os conservadores modernos acreditam que o nosso caráter nacional está sendo minado por programas sociais que, nas palavras memoráveis de Paul Ryan, presidente do Comitê de Orçamento da Câmara, "transformam a rede de segurança social numa rede de deitar que seduz as pessoas capazes para uma vida dos dependência e complacência. "Mais especificamente, eles acreditam que o seguro-desemprego incentiva os trabalhadores sem emprego a permanecerem desempregados, ao invés de assumirem os empregos disponíveis.

Existe algum fundamento para esta crença? O seguro-desemprego médio na Carolina do Norte é de US$ 299 por semana, antes dos impostos; que rede! Então quem quer que imagine que os trabalhadores desempregados estão deliberadamente preferindo viver uma vida de ócio não tem ideia do que a experiência de desemprego, especialmente o desemprego a longo prazo, realmente é. Ainda assim, há alguma evidência de que o seguro-desemprego deixa os trabalhadores um pouco mais exigentes em sua busca por trabalho. Quando a economia está crescendo, esta seletividade extra pode aumentar a taxa de desemprego que "não acelera a inflação" - a taxa de desemprego em que a inflação começa a subir, induzindo o Federal Reserve a aumentar os juros e sufocar a expansão econômica.

Tudo isso, porém, é irrelevante na nossa situação atual, em que a inflação não é uma preocupação e o problema do Fed é que ele não consegue baixar as taxas de juros o suficiente. E enquanto os cortes do seguro-desemprego deixarão os desempregados ainda mais desesperados, não farão nada para criar mais empregos - o que significa que, mesmo que parte dos que estão desempregados consigam encontrar trabalho, isso acontecerá porque tomarão os postos de trabalho dos que estão atualmente empregados.

Fechando a conta

Mas espere – e quanto à oferta e a demanda? Deixar os desempregados desesperados não irá fazer uma pressão para os salários caírem? E reduzir os custos trabalhistas não incentivará o aumento dos empregos? Não - isso é uma falácia de composição. Cortar o salário de um trabalhador pode ajudar a salvar o seu emprego, tornando-o mais barato do que os trabalhadores concorrentes; mas cortar os salários de todos apenas reduz a renda de todos - e aumenta a carga de dívida, que é uma das principais forças que paralisam a economia.

Ah, e não vamos esquecer que cortando os benefícios para os desempregados, muitos dos quais estão apenas sobrevivendo, levará à redução geral dos gastos dos consumidores - de novo, agravando a situação econômica, e destruindo mais empregos.

O movimento para cortar o seguro-desemprego, então, é contraproducente além de cruel; ele aumentará as fileiras de desempregados ao mesmo tempo em que tornará suas vidas ainda mais miseráveis.

Pode-se fazer alguma coisa para reverter esse erro de direcionamento político? As pessoas que querem punir os desempregados não serão dissuadidas pela argumentação racional; elas sabem o que sabem, e nenhuma quantidade de evidências vai mudar seus pontos de vista. Minha sensação, no entanto, é que a guerra contra os desempregados vem fazendo tanto progresso em parte porque tem passado despercebida, com pessoas demais sem saber o que está acontecendo.

Bem, agora você sabe. E tem razão para ficar indignado.