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Com recuperação de Obama, ano de 2015 tende a ser produtivo

Paul Krugman

30/12/2014 00h01

Suponha que, por algum motivo, você decida começar a bater em sua própria cabeça, repetidamente, com um taco de beisebol. Você se sentiria muito mal. De modo correspondente, você provavelmente se sentiria melhor quando finalmente parasse. O que essa melhora de sua condição lhe diria?

Certamente não implicaria que bater na própria cabeça foi uma boa ideia. Entretanto, seria uma indicação de que a dor que estava sentindo não era um reflexo de algo fundamentalmente errado em sua saúde. Sua cabeça não estava doendo por você estar doente, mas sim por você não parar de atingi-la com um taco de beisebol.

Agora você pode entender o básico do que estava acontecendo a várias economias importantes, incluindo a dos Estados Unidos, ao longo dos últimos anos. Na verdade, agora você está entendendo o básico muito melhor do que muitos políticos e comentaristas.

Vamos começar com uma história estrangeira: a política de austeridade no Reino Unido. Como você pode saber, em 2010, o recém-empossado governo conservador do Reino Unido declarou que uma forte redução do déficit orçamentário era necessária para impedir que o Reino Unido se transformasse em uma Grécia. Ao longo dos dois anos seguintes, o crescimento da economia britânica, que vinha se recuperando razoavelmente bem da crise financeira, mais ou menos estagnou. Em 2013, entretanto, o crescimento retornou --e o governo britânico alegou que aquilo era uma comprovação do acerto de suas políticas. Essa alegação se justificava?

Não, nem um pouco. O que de fato aconteceu é que os conservadores pararam de apertar o cinto --eles não reverteram a austeridade que já tinha ocorrido, mas suspenderam cortes adicionais. Logo, eles pararam de bater na cabeça do Reino Unido com um taco de beisebol. E o país começou a se sentir melhor.

Alegar que essa recuperação justificava a austeridade é tolice. Como Simon Wren-Lewis, da Universidade de Oxford, gosta de apontar, se o rápido crescimento após uma recessão gratuita contar como sucesso, o governo deveria fechar metade da economia por um ano, de modo que o crescimento no ano seguinte seria fantástico. Ou como eu colocaria, você não deveria concluir que bater na própria cabeça é inteligente porque se sentirá bem quando parar. Infelizmente, a tolice da alegação não impediu a aceitação disseminada do que Wren-Lewis chama de "mediamacro".

Enquanto isso, nos Estados Unidos nós não tivemos uma política oficial declarada de austeridade fiscal --mas mesmo assim adotamos um bocado de austeridade na prática, graças ao sequestro federal e aos cortes pelos governos estaduais e locais. A boa notícia é que nós aparentemente também paramos de apertar o cinto: os gastos públicos não estão aumentando, mas ao menos pararam de cair. E a economia está se saindo muito melhor como resultado. Nós finalmente começamos a ver o tipo de crescimento, em empregos e do PIB, que deveríamos ter visto há muito tempo --e o humor público está rapidamente melhorando.

Qual é a lição mais importante dessa recuperação tardia de Obama? Principalmente, eu sugeriria, que tudo o que você ouviu sobre as políticas econômicas do presidente Barack Obama está errado.

Você conhece o lengalenga: que a economia americana está doente porque a reforma da saúde de Obama acaba com os empregos e porque o presidente é um redistribuidor, que os discursos antiempresas de Obama (ele não fez nenhum, mas deixa para lá) magoaram os empresários, os induzindo a pegar a bola e dizer que não vão brincar mais.

Essa narrativa nunca fez muito sentido. A verdade é que o setor privado se saiu surpreendentemente bem sob Obama, gerando 6,7 milhões de empregos desde que ele tomou posse, em comparação a apenas 3,1 milhões à mesma altura sob o presidente George W. Bush. Os lucros das empresas foram às alturas, assim como os preços das ações. O que nos atrapalhou foi a austeridade sem precedente no setor público: a esta altura no governo Bush, os empregos públicos tinham crescido em 1,2 milhão, mas sob Obama caíram em 600 mil. E agora que essa austeridade de fato está sendo relaxada, a economia está ganhando força.

E o que essa recuperação lhe diz é que as supostas culpas das políticas econômicas de Obama não tinham nada a ver com a dor que estávamos sentindo. Nós não estávamos sofrendo por estarmos doentes, mas porque não parávamos de bater em nós mesmos com aquele taco de beisebol, e passamos a nos sentir melhor agora que paramos.

Essa melhora em nossa condição vai continuar? O governo britânico declarou sua intenção de pegar de novo o taco de beisebol --de promover mais austeridade, o que não é um bom presságio. Mas aqui o quadro parece mais promissor. Os lares estão em uma situação financeira muito melhor do que há poucos anos, provavelmente ainda há muita demanda reprimida, principalmente por imóveis residenciais. E a queda nos preços do petróleo será boa para grande parte do país, apesar de algumas regiões --especialmente o Texas-- poderem ser afetadas de forma adversa.

Logo, estou bem otimista em relação a 2015, e provavelmente além, desde que evitemos mais danos autoinfligidos. Vamos apenas deixar aquele taco de beisebol de lado, OK?