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Os vampiros de Wall Street

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Imagem: Shutterstock

Paul Krugman

12/05/2015 00h01

No ano passado, os vampiros das finanças compraram um Congresso para si. Eu sei que não é legal chamá-los assim, mas tenho minhas razões, que vou explicar. Por enquanto, porém, vamos apenas observar que atualmente Wall Street, que costumava dividir o seu apoio entre os partidos, favorece esmagadoramente o Partido Republicano. E os republicanos que chegaram ao poder neste ano estão devolvendo o favor, tentando acabar com a legislação da reforma financeira aprovada em 2010, a chamada Dodd-Frank.

E por que Dodd-Frank precisa acabar? Porque está funcionando.

Esta declaração pode surpreender os progressistas que acreditam que nada de significativo tem sido feito para frear os banqueiros. E é verdade que a reforma ficou aquém do que realmente deveria ter realizado e que não rendeu triunfos claros e mensuráveis, como os avanços dos números de seguro saúde graças ao Obamacare.

Mas Wall Street odeia a reforma por alguma razão, e um olhar mais atento mostra qual exatamente.

Por um lado, o Departamento de Proteção Financeira do Consumidor -uma ideia da senadora Elizabeth Warren- está tendo um grande efeito inibidor sobre as práticas de empréstimos abusivas. E as primeiras indicações são de que a maior regulação dos derivativos financeiros -que desempenharam um papel importante na crise de 2008- está tendo efeitos semelhantes, aumentando a transparência e reduzindo os lucros dos intermediários.

E o problema da estrutura da indústria financeira, por vezes simplificado com a frase “grandes demais para falir”? Neste caso, também, Dodd-Frank parece estar dando resultados reais, até mais do que se esperava.

Como acabo de sugerir, “grande demais para falir” não explica completamente o problema. O que foi realmente letal foi a interação entre tamanho e complexidade. As instituições financeiras tornaram-se quimeras: parte banco, parte fundos hedge, parte companhia de seguro e assim por diante. Esta complexidade permitia que fugissem à regulamentação bancária, mas ainda eram resgatadas das consequências quando suas apostas eram ruins. E a capacidade dos banqueiros de jogar dos dois lados ajudou a encaminhar os EUA para o desastre.

Dodd-Frank abordou este problema, permitindo que os reguladores sujeitassem as instituições financeiras “sistemicamente importantes” a regras mais estritas e assumissem o controle de tais instituições em tempos de crise, em vez de simplesmente socorrê-las por fora. E exigiu que as instituições financeiras em geral empenhassem mais capital, reduzindo tanto o incentivo para assumir riscos excessivos e a possibilidade de que esses riscos conduzissem à falência.

Tudo isso parece estar funcionando: o “sistema bancário paralelo”, que cria riscos bancários enquanto se evade das regulamentações bancárias, está em retirada. Você pode ver isso em casos como o da General Electric, uma empresa de manufatura que se transformou em negociante financeira, mas agora está tentando voltar às suas raízes. Você também pode observar isso nos números globais, onde os bancos convencionais -ou seja, aqueles sujeitos à regulamentação relativamente forte- voltaram a crescer. Ao que parece, fugir às regras não é tão atraente quanto costumava ser.

Mas os vampiros estão lutando para se defender.

Então, por que eu os chamo assim? Não porque eles drenam o sangue da economia, embora isso aconteça: há diversas evidências de que indústrias financeiras grandes demais e com salários excessivos -como a nossa- prejudicam o crescimento econômico e a estabilidade. Até mesmo o Fundo Monetário Internacional concorda.

Mas o que realmente torna o termo adequado neste contexto é que os inimigos da reforma não suportam a luz. É raro ouvir defesas abertas do direito de Wall Street de voltar a seus velhos hábitos. Quando os centros de pensamento de direita tentam alegar que a regulamentação é uma coisa ruim que vai prejudicar a economia, não parecem muito convencidos. Por exemplo, o mais recente “estudo”, do Fórum de Ação Americano, discorre por quatro páginas, e até mesmo o seu autor, o economista Douglas Holtz-Eakin, parece envergonhado com seu trabalho.

O que você tem, em vez disso, são alegações de que a reforma realmente ajuda e estimula os bandidos: por exemplo, de alguma forma, quando você regula as instituições grandes demais para falir, você acaba fazendo um favor às financeiras pouco sérias, reivindicações desmentidas pelos esforços desesperados de tais instituições em evitar a designação “sistemicamente importantes”. A questão é que quase ninguém quer ser considerado comprado pelo setor financeiro, especialmente quando o caso é exatamente esse.

E isso, por sua vez, significa que, até agora, pelo menos, os vampiros estão recebendo muito menos do que esperavam por seu dinheiro. Os republicanos adorariam acabar com a Dodd-Frank, mas estão com medo de atrair para si o brilho dos holofotes dos defensores da reforma, como Warren, que inspira uma quantidade notável de medo sobre os injustos.

Será que isso significa que está tudo bem na frente financeira? Claro que não. Dodd-Frank é muito melhor do que nada, mas longe de ser tudo o que precisamos. E os vampiros ainda estão à espreita em seus caixões, aguardando para atacar novamente. As coisas poderiam ser piores, porém.

Tradução: Deborah Weinberg