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Republicanos contra a aposentadoria

A previdência social, segundo Krugman, é um alvo antigo dos conservadores nos EUA - Alexandros Avramidis - 10.jul.2015/Reuters
A previdência social, segundo Krugman, é um alvo antigo dos conservadores nos EUA Imagem: Alexandros Avramidis - 10.jul.2015/Reuters

Paul Krugman

17/08/2015 10h35

Algo estranho está acontecendo na primária republicana –quero dizer, além do fenômeno Trump. Por alguma razão, quase todos os principais candidatos além de Donald tomaram uma posição profundamente impopular, que conhecidamente leva à derrota política, em uma importante questão interna. E é interessante indagarmos o porquê.

O assunto em questão é o futuro da Previdência Social, que completou 80 anos na semana passada. O programa de aposentadoria, naturalmente, é extremamente popular e, ao mesmo tempo, um alvo de longa data dos conservadores, que querem matá-lo precisamente porque sua popularidade ajuda a legitimar a ação do governo em geral. Como declarou certa vez o ativista de direita Stephen Moore (agora economista-chefe da Fundação Heritage), a Segurança Social é “a barriga do Estado de bem estar social”: “se você espetar sua lança por ali”, você pode minar a coisa toda.

Mas isso foi há uma década, durante a tentativa do ex-presidente George W. Bush de privatizar o programa -e o que Bush aprendeu foi que aquela barriga não era tão macia, afinal. Apesar do ímpeto político vindo da vitória do Partido Republicano nas eleições de 2004, apesar do apoio de grande parte da mídia, o assalto à Previdência Social rapidamente desmoronou. Os eleitores, ao que parece, gostam da Previdência Social como ela é, e não querem que seja cortada.

É notável, portanto, que a maioria dos candidatos republicanos à presidência pareça estar fazendo fila para mais uma rodada de castigo a sua popularidade. Em particular, eles estão declarando que a idade de aposentadoria -que já foi empurrada de 65 anos para 66 e está programada para subir para 67- deveria subir ainda mais.

Jeb Bush diz que a idade para se aposentar deve ser adiada para “68 ou 70”. Scott Walker concorda com essa posição. Marco Rubio quer tanto aumentar a idade da aposentadoria quanto cortar benefícios para os idosos de renda mais alta. Rand Paul quer aumentar a idade de aposentadoria para 70 e restringir os benefícios. Ted Cruz quer retomar o plano de privatização de Bush.

Que fique registrado, essas propostas seriam políticas públicas muito ruins -um duro golpe para os americanos da metade inferior de distribuição de renda, que dependem da Previdência Social, muitas vezes têm trabalhos manuais e de fato não tiveram um grande aumento na expectativa de vida. Enquanto isso, o declínio das pensões privadas deixou os trabalhadores americanos mais dependentes do que nunca da Previdência Social.

E não, a Previdência não enfrenta uma crise financeira; sua escassez de financiamento de longo prazo poderia ser facilmente superada com aumentos modestos na receita.

Ainda assim, ninguém deve se surpreender com o espetáculo dos políticos endossando animadamente essas políticas destrutivas. O que é intrigante neste novo assalto republicano à Segurança Social é que não apenas parece ser uma medida social ruim, mas parece ser ruim para a popularidade. Os americanos adoram Segurança Social, então por que os candidatos não estão, pelo menos, fingindo compartilhar esse sentimento?

A resposta, eu sugiro, é por causa do dinheiro graúdo.

Há muito que indivíduos ricos têm desempenhado um papel desproporcional na política, mas nunca vi nada como o que está acontecendo agora: o domínio do financiamento de campanha, especialmente no lado republicano, por um minúsculo grupo de doadores imensamente ricos. De fato, mais da metade dos recursos captados por candidatos republicanos até junho veio de apenas 130 famílias.

E enquanto a maioria dos americanos adora a Previdência Social, os ricos não. Dois anos atrás, um estudo pioneiro das preferências políticas dos muito ricos encontrou muitos contrastes com as opiniões do público em geral; como era de se esperar, os ricos são politicamente diferentes de você e de mim. Mas em nenhum lugar são tão diferentes quanto na questão da Previdência. Por uma margem muito ampla, os americanos comuns querem que seja expandida. Mas por uma margem ainda mais ampla, os americanos no 1% do topo querem cortá-la. E adivinha quais preferências estão predominando entre os candidatos republicanos?

Muitas vezes você vê análises políticas apontando, com razão, que a votação nas primárias é precedida por uma “primária invisível”, na qual os candidatos concorrem ao apoio das elites cruciais. Mas quem são essas elites? No passado, talvez fossem membros do establishment político e outros líderes de opinião. Mas o que o novo ataque à Previdência Social nos diz é que as regras mudaram. Hoje em dia, pelo menos no lado republicano, a primária invisível foi reduzida a uma dura competição pelos afetos e, é claro, pelo dinheiro de algumas dezenas de plutocratas.

O que isto significa, por sua vez, é que o eventual candidato republicano -assumindo que não seja Trump- estará comprometido não apenas com um novo ataque renovado à Segurança Social, mas a uma agenda plutocrática mais ampla. Qualquer que seja a retórica, o Partido Republicano está a caminho de nomear alguém que conquistou o dinheiro grande, prometendo um governo do 1% para o 1%.