Os malucos e o charlatão republicanos do orçamento norte-americano
Como será resolvido o caos que os malucos, quero dizer, os integrantes do Freedom Causcus [grupo político dentro do partido Republicano] geraram na Câmara? Não tenho ideia. Mas, quando esta coluna foi para o prelo, praticamente todo o mundo republicano suplicava que Paul Ryan, o presidente do Ways and Means Committee [comitê parlamentar que analisa impostos e contas públicas], se tornasse o presidente da Câmara. Todos dizem que ele é o homem capaz de salvar a situação.
O que torna Ryan tão especial? A resposta, basicamente, é que ele é o melhor charlatão que eles têm. Seu sucesso em enganar a mídia e os autodeclarados centristas em geral é a base de sua estatura dentro do partido. Infelizmente, pelo menos do ponto de vista dele, seria difícil sustentar o jogo de ilusionismo da cadeira de presidente.
Para entender o papel de Ryan em nosso ecossistema político e de mídia, você precisa saber duas coisas. Primeira, o Partido Republicano moderno é um empreendimento pós-político, que não apresenta soluções reais para problemas reais. Segunda, os analistas e a mídia noticiosa realmente, realmente, não querem enfrentar essa estranha realidade.
Sobre o primeiro ponto, basta ver as ideias de políticas que vêm dos candidatos presidenciais, até de favoritos do establishment como Marco Rubio, o mais provável candidato, diante da fatal falta de carisma de Jeb Bush. Josh Barros, do "Times", chamou a proposta fiscal de Rubio de plano de "cachorrinhos e arco-íris", consistindo em trilhões em benefícios sem a menor sugestão de como pagar por eles - apenas a declaração de que o crescimento de algum modo faria tudo dar certo.
E não são apenas os impostos, é tudo. Por exemplo, os republicanos vêm prometendo oferecer uma alternativa ao Obamacare desde a aprovação da Lei de Acesso à Saúde, em 2010, mas ainda não produziram nada que se pareça com um verdadeiro plano de saúde.
Mas a maior parte da mídia noticiosa, e a maioria dos analistas, ainda rezam na igreja do "equilíbrio". Eles estão comprometidos a retratar os dois grandes partidos como igualmente racionais. Isso cria uma demanda poderosa por republicanos sérios e honestos, que possam ser exibidos como prova de que o partido inclui pessoas racionais que fazem propostas úteis. Como escreveu William Saletan, da "Slate", que apoiou Ryan entusiasticamente, mas depois se desiludiu: "Eu procurava o Sr. Certo - um conservador fiscalmente sensato, apoiado em fatos".
E Paul Ryan fez e de muitas maneiras ainda faz esse papel, mas só na TV, não na vida real. A verdade é que suas propostas de orçamento sempre foram uma confusão ridícula de asteriscos mágicos: afirmações de que trilhões serão economizados mediante cortes de gastos a ser especificados depois, que outros trilhões serão levantados com o fechamento de brechas fiscais não identificadas. Ou, como coloca o Centro para Políticas Fiscais, apartidário, elas são cheias de "carne misteriosa".
Mas Ryan foi muito bom em jogar com o sistema, em produzir documentos brilhantes que parecem sofisticados se você não entende as questões, em criar a falsa impressão de que seus planos foram submetidos a especialistas em orçamento. Isto bastou para convencer repórteres políticos que não sabem muito sobre políticas, mas sabem o que eles querem ver, essa é a verdadeira questão. (Vários repórteres estão profundamente impressionados pelo fato de ele usar PowerPoint.) Ele também é para a política fiscal o que Carly Fiorina foi para a administração corporativa: brilhante na autopromoção, incapaz de realmente fazer o serviço. Mas seu número foi bom o suficiente para o trabalho da mídia.
Sua posição no partido, por sua vez, repousa principalmente em sua percepção externa. Ryan é certamente um conservador linha-dura, apreciador de Ayn Rand e que odeia impostos progressivos, mas não mais que muitos de seus colegas. Se você olhar o que pessoas que o consideram o salvador estão dizendo, elas não estão falando sobre seus admiradores dentro do partido, que não são especialmente apaixonados. Em vez disso, falam sobre sua credibilidade percebida fora dele, sua posição de alguém que pode enfrentar os liberais espertos - alguém que não será intimidado, segundo Joe Scarborough, da MSNBC, por "artigos negativos na página de opinião do 'New York Times'". (Quem sabia que tínhamos tanto poder?)
O que nos traz de volta ao estranho fato de que Ryan não é na verdade um pilar de retidão fiscal, ou alguma coisa como o especialista em orçamento que ele finge ser. E a percepção de que ele seja essas coisas é frágil, sem probabilidade de sobreviver por muito tempo se ele se movesse para o centro do tumulto político. De fato, sua aura estava visivelmente desgastada durante os poucos meses de 2012 em que ele foi o candidato a vice de Mitt Romney. Alguns meses como presidente da Câmara provavelmente completariam o processo, e acabariam sendo um fim de carreira.
Deixando de lado as previsões, porém, o fenômeno Ryan nos fala muito sobre o que está realmente acontecendo na política americana. Resumindo, os malucos dominaram o Partido Republicano, mas a mídia não quer admitir essa realidade. A combinação desses dois fatos criou uma oportunidade, na verdade uma necessidade, de políticos charlatões. E Ryan encarou o desafio.
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