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Por onde andam os hippies que fundaram a Virgin Records?

Reprodução/Virgin
Imagem: Reprodução/Virgin

04/04/2016 00h01

P.: Em suas colunas, você menciona com frequência o grupo de jovens que iniciou a Virgin com você. Onde eles estão agora? Eles têm histórias de sucesso como a sua?

–Fajewe Oluwashina, Nigéria


R.: É verdade. Aquele período em nossas vidas ajudou a colocar a mim e meus amigos em trajetórias interessantes, moldando quem nos tornaríamos. Também moldou nossa empresa, que cresceu a partir do início humilde, como um negócio de venda de discos pelo correio, até uma gigante com três companhias aéreas e a primeira companhia espacial comercial do mundo.

O que nos uniu décadas atrás foi o atrativo da disrupção, ou o questionamento do status quo do setor. Nós achávamos que a indústria fonográfica poderia ser diferente e melhor. Assim, enquanto relaxávamos em pufes em nossa primeira loja de discos em Londres, nós decidimos mudá-la: nós criamos a Virgin.

É claro, o dinheiro era sempre apertado na época, assim como na maioria das novas empresas, e com frequência tínhamos que concentrar nossos esforços em ganhar o suficiente para pagamento do aluguel e funcionários. Mas esses desafios não nos incomodavam: nós superamos as provações à nossa determinação colocando a diversão e a amizade no centro de nosso negócio.

Mas onde estão todos agora?

Apesar de alguns dos integrantes originais da Virgin terem continuado conosco de um empreendimento a outro, outros montaram seus próprios negócios e obtiveram grandes sucessos empresariais, enquanto outros se aposentaram. Felizmente, conseguimos manter contato e, eu acho, isso é um bocado impressionante para um bando de rapazes que amadureceu muito antes da tecnologia atual!

Um membro de nosso grupo que montou seu próprio negócio foi Nik Powell, meu primeiro sócio, amigo mais antigo de infância e o ying do meu yang. Nos primórdios, eu era o showman que trabalhava diante do público, enquanto Nik era o cara dos números nos bastidores. Sem o Nik, a Virgin não teria permanecido à tona após o lançamento; ele administrava nossas despesas e cuidava para permanecermos dentro da meta. Em uma década, nós transformamos um pequeno negócio em uma empresa multimilionária.

Ao longo dos anos nós dois tivemos alguns pequenos desentendimentos (quem não tem?), mas permanecemos amigos até hoje. Nik deixou a Virgin no início dos anos 80 e entrou na indústria cinematográfica, abrindo uma empresa chamada Palace Productions. De lá para cá, ele fundou a Scala Productions e é o atual diretor da prestigiosa Escola Nacional de Cinema e Televisão do Reino Unido, entre os muitos títulos que tem.

Meu primo Simon Draper também fazia parte do círculo original. Simon era obcecado por música: ele não apenas curtia casualmente o mais recente álbum do The Doors, mas entendia completamente o que os músicos estavam almejando e como um álbum se comparava ao restante do catálogo de um selo. Como Simon sabia mais sobre música do que qualquer um que conhecíamos, no início eu o persuadi a trabalhar na Virgin como nosso comprador de discos. O gosto musical do Simon rapidamente se transformou no elemento fundamental do caráter da Virgin, e sob sua orientação transformamos a Virgin Records em um dos selos independentes mais influentes do mundo.

Infelizmente, nós fomos forçados a vender a empresa em 1992, logo após contratarmos os Rolling Stones e Janet Jackson, para podermos assegurar a sobrevivência da companhia aérea Virgin Atlantic. A venda da Virgin Records foi uma das decisões mais difíceis que já tomei, e Simon sentiu o mesmo. Após a venda, ele decidiu deixar a empresa e a indústria fonográfica. Ele seguiu outra paixão e passou a publicar livros raros pela editora Palawan Press.

Apesar de Simon e outros membros da equipe da Virgin Records terem decidido abandonar a indústria fonográfica, Tom Newman permaneceu. Isso não causou grande surpresa, já que Tom era o mais musical da turma. Nos primórdios da Virgin, Tom nos ajudou na transição da venda de discos para produção de discos, e foi um dos cofundadores de nosso estúdio Manor, em Oxford, onde ele produziu "Tubular Bells" de Mike Oldfield.

De lá para cá, Tom compôs e produziu dezenas de álbuns e até mesmo lançou alguns como músico solo. Hoje ele ainda está vivendo o sonho. Tom reformou recentemente sua lendária banda psicodélica dos anos 60, July, e produziu uma nova versão de "Tubular Bells" com The Children of Ireland.

Tive a felicidade de encontrar Nik, Tom e muitos dos membros originais da Virgin Records, apelidados afetuosamente de os Hippies de Earls Court, poucos anos atrás, quando filmamos um documentário para marcar os 40 anos de sua fundação. Nós rimos de todas as coisas ultrajantes que costumávamos fazer, visitamos nossos velhos endereços e contamos as histórias das formas nada ortodoxas com que tocávamos os negócios.

Essa reunião foi um lembrete de que a cultura de nossa empresa nasceu com um grupo de amigos que tinham paixões em comum: música, o desejo de pensar de modo diferente e expandir limites rígidos. E como outros funcionários ainda estão usando essas ideias para alimentar seu trabalho nas empresas Virgin ao redor do mundo, é bacana pensar que as centelhas acesas por aquela amizade ainda estão movendo o sucesso da marca até hoje.

Do início humilde a grandes sucessos

Unidos pelo desejo de provocar uma disrupção no status quo da indústria fonográfica, muitos dos membros originais da Virgin seguiram em frente e fizeram sucesso em muitas áreas. Alguns destaques dos trabalhos deles:

  • Nik Powell está envolvido em alguns grandes projetos como diretor da Escola Nacional de Cinema e Televisão do Reino Unido
  • Simon Draper abriu a editora Palawan Press, que é especializada em livros em edição limitada, em 1993
  • Escute a versão de Tom Newman de "Tubular Bells", interpretada por The Children of Ireland, disponível no iTunes