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Novo partido usa a Internet para quebrar hegemonia de democratas e republicanos

Thomas L. Friedman

26/07/2011 01h26

Eu mencionei que assinei um juramento? Exatamente como aqueles parlamentares republicanos que assinaram compromissos escritos para vários fiscais políticos garantindo que não aumentariam impostos nem permitiram o casamento entre indivíduos do mesmo sexo. O meu juramento é de jamais votar em qualquer pessoa que seja suficientemente idiota para assinar um compromisso – abdicando, dessa forma, das suas responsabilidades de legislar em um período de mudanças incrivelmente rápidas e de estresse financeiro. Sinto muito, eu já assinei. Não há mais nada que eu possa fazer quanto a isso.

Se esse tipo de idiotice por parte de políticos eleitos faz com que você arranque os cabelos de raiva, desejando que nós contássemos atualmente com mais opções do que as que são proporcionadas pelo nosso sistema bipartidário – por exemplo, um partido que tivesse oferecido uma grande negociação quanto ao déficit dois anos atrás, e não às vésperas de uma moratória do Tesouro dos Estados Unidos -, você não é o único. Mas pode ser que haja ajuda vindo por aí.

Graças a uma discreta organização política que atualmente está pronta para mostrar a que veio, uma terceira candidatura presidencial, viável e centrista, eleita por uma convenção feita pela Internet, emergirá em 2012. Eu sei que isso parece meio estranho – uma convenção pela Internet –, mas um grupo notável de frustrados democratas, republicanos e independentes chamado Americans Elect é de fato sério, e os seus integrantes pensaram bastante sobre esse processo. Dentro de alguns dias, o Americans Elect submeterá formalmente as 1,6 milhão de assinaturas que o grupo coletou para poder participar da eleição presidencial na Califórnia, em um esforço nacional em andamento no sentido de participar da eleição em todos os 50 Estados do país em 2012.

O objetivo do Americans Elect é participar de um processo de escolha de um candidato presidencial, processo este que atualmente é monopolizado pelos partidos republicano e democrata, que estão comprometidos com os seus interesses especiais, e abri-lo publicamente – assegurando que uma terceira opção séria, com um candidato escolhido independentemente, não só esteja disponível nas urnas em todos os Estados mas seja também capaz de participar de todos os debates presidenciais e desafiar ambos os partidos a partir do centro do espectro político, com melhores ideias relativas a como lidar com a dívida, a educação e o desemprego.

“A nossa meta é tornar transparente aquele que tem sido um processo anticompetitivo para as pessoas de centro, que não estão satisfeitas com as opções proporcionadas pelos dois partidos”, explica Kahlil Byrd, diretor do Americans Elect, falando dos seus escritórios movimentados, financiados por dinheiro oriundo de fundos de hedge, e que ficam bem próximos à Casa Branca.

Conforme o grupo explica no seu website, www.americanselect.org: “O Americans Elect é o primeiro processo aberto de escolha de um candidato presidencial da nossa história. Nós estamos usando a Internet para proporcionar a cada eleitor – democrata, republicano ou independente – o poder de escolher um candidato para disputar a eleição presidencial em 2012. A população escolherá as questões da plataforma política. E, em uma convenção online segura, em junho próximo, o povo fará história ao opinar em uma urna eletrônica em cada Estado”.

Eis como isso será feito, explica Elliot Ackerman, um ex-combatente da Guerra do Iraque que foi condecorado com a medalha militar Silver Star. Ele atualmente é o diretor de operações do Americans Elect. O seu pai, Peter, um investidor de sucesso, tem sido um importante propulsor do grupo. Primeiro, quem quer que tenha interesse em se tornar delegado vai até o website do Americans Elect e se registra. Como parte desse processo, o indivíduo terá que preencher um questionário sobre as suas prioridades políticas: educação, política externa, economia, etc... Isso permite que o Americans Elect coloque o eleitor em contato com outros indivíduos que compartilham as suas ideias de forma que ele possa discuti-las e organizar-se em grupo. A seguir o eleitor será convidado a apresentar o nome de um potencial candidato ou a escolher um que já tiver sido escolhido, bem como a contribuir para a lista de perguntas que todos os que disputarem eleições pela plataforma do Americans Elect terão que responder no site.

“As perguntas, as prioridades, as escolhas de candidatos e as regras virão todas da comunidade, e não de dois partidos fechados”, diz Ackerman.

Todo candidato à presidência precisa atender a todas as exigências constitucionais, bem como ser considerado um indivíduo de categoria similar a presidentes anteriores. Isso significa que Lady Gaga não poderia participar. E todo candidato terá que colocar em texto ou vídeo as respostas às perguntas nas quais se baseará a plataforma política, e que serão formuladas pelos delegados do Americans Elect. Em abril de 2012, o conjunto de candidatos será reduzido a seis, por meio de três rodadas de votações. Assumindo que todos os seis queiram disputar a presidência, eles terão que apresentar os nomes dos seus respectivos candidatos à vice-presidência. A única regra é que um democrata terá que ter como companheiro de chapa um republicano ou um independente, e um republicano um democrata ou um independente.

“Cada candidato presidencial terá que escolher um companheiro de chapa fora do seu partido e transcender a divisão partidária”, explica Ackerman. Em junho de 2012, a convenção online escolherá quem, dentre os seis finalistas, disputará a eleição como candidato do Americans Elect – e cujo nome estará automaticamente nas urnas em todos os 50 Estados. Se o presidente Barack Obama quiser disputar pela plataforma do Americans Elect, tendo como companheiro de chapa John Boehner, tudo bem – contanto que os dois passem pelo processo (Obama deveria abandonar os democratas e concorrer como candidato independente, algo que ele no fundo é).

Anotem este nome: Americans Elect. Aquilo que a Amazon.com fez com os livros, o que a blogosfera fez com os jornais, o que o iPod fez com a música, o que a drugstore.com fez com as farmácias, o Americans Elect pretende fazer também com o monopólio bipartidário que sempre dominou a vida política estadunidense – remover as barreiras à competição real, igualar os candidatos e deixar o povo participar. Prestem atenção nisso.