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Um plano para os empreendedores liderarem na Jordânia

Thomas L. Friedman

Em Amã (Jordânia)

10/05/2012 00h59

Felizmente, há outra Primavera Árabe acontecendo paralelamente ao drama nas ruas do Cairo e de Damasco. É uma explosão de novas empresas de tecnologia abertas por jovens árabes. O ponto zero é um complexo de prédios aqui no coração de Amã. O local foi construído para servir como quartel-general do exército jordaniano, mas, no último minuto, o rei Abdullah ordenou que o exército fosse para outro lugar, rebatizou o complexo de “Parque Empresarial” e o declarou uma zona econômica especial. Os prédios de vários andares do exército agora exibem grandes placas que dizem “Microsoft”, “HP”, “Samsung” e “Cisco”. Mas é o prédio chamado “Oasis505” que realmente chamou minha atenção.

É onde Lawrence da Arábia se encontra com Mark Zuckerberg.

O Oasis500 é um acelerador de alta tecnologia de propriedade árabe, buscando cultivar 500 novas empresas na Jordânia. Ela oferece capital inicial para qualquer jordaniano ou árabe que queira criar uma nova empresa aqui, e, como uma chuva rápida no deserto, a Oasis500 já ajudou dezenas de novas empresas de Internet de conteúdo árabe a surgirem praticamente da noite para o dia. Apenas 1% do conteúdo global da Internet atualmente é em árabe, mas 75% dele são produzidos na Jordânia. O mundo árabe precisa criar milhões de empregos não públicos para atender seus jovens. A propósito, não existem empregados sem empregadores - pessoas de QI alto dispostas a correr risco e abrir empresas - e é o que a Oasis500 está tentando multiplicar rapidamente. Sem essa Primavera Árabe, a outra Primavera Árabe não durará. Não haverá classe média para sustentá-la.

“Nós acreditamos mais na criação de empresas do que de empregos”, disse Usama Fayyad, o ex-diretor chefe de dados do Yahoo, que voltou para casa convencido de que existia aqui matéria-prima para a criação de um “Vale do Silício” árabe.

“Um emprego é um emprego, mas uma empresa é uma história de crescimento”, acrescentou Fayyad. Ela não apenas gera empregos, como também ex-funcionários, que são treinados e partem para abrir novas empresas e novos setores. Um emprego no setor de tecnologia da Jordânia paga em média seis vezes mais do que a média de um emprego no setor público. A Jordânia não tem petróleo, de modo que “seu povo é o seu petróleo”, disse Fayyad, e o país está fazendo uso dele.

Não há tradição de capital de risco no mundo árabe, de modo que a Oasis500 é uma pioneira. Ela convida qualquer jordaniano ou árabe para vir com um plano para uma nova empresa. Os planos que são aceitos recebem US$ 15 mil de capital inicial. Então os novos empresários passam por um treinamento da Oasis500, um curso intensivo de cinco semanas sobre como construir uma empresa. Os sobreviventes recebem um espaço para escritório no Parque Empresarial por três a seis semanas. Para aquelas que conseguem crescer após o estágio inicial de incubação, há financiamento adicional, orientação legal, aconselhamento e oportunidades geradas pela rede de relacionamento com líderes empresariais locais. A Oasis500 investe em cada empresa que chega até esse estágio. Fayyad disse que desde a abertura da Oasis500 em 2010, ela já recebeu 2 mil pedidos e investiu em 49 empresas. Dessas, eles colheram uma saída lucrativa, 45 ainda estão ativas e apenas três fecharam. Eles recebem atualmente centenas de candidatos por mês para o treinamento.

Durante minha visita, Fayyad me apresentou a 30 de suas empresas mais recentes: Doseyeh.com, um portal árabe que fornece apostilas para aulas de cursos universitários; Firstbazaar.com, um mercado online para artesãos locais; Littlethinkingminds.com, que produz conteúdo de Internet em árabe para crianças; Ekeif.com, que produz vídeos em árabe com instruções sobre beleza, saúde e orientações para pais; Gateexpress.com, uma plataforma para transferência de dinheiro; Tawajod.com, um site para investimento em ações; Fakker, que permite aos jovens árabes - que representam aproximadamente 40% dos jogadores de games do mundo - desenvolverem talentos profissionais enquanto jogam online; Gweet.com, um site árabe de hospitalidade; e I3zif.com, uma escola de música árabe online.

Além da Oasis500, eu também visitei o Kharabeesh.com, um novo site popular que está ajudando jovens árabes a produzirem seus próprios desenhos animados e conteúdo para o YouTube e para sua própria plataforma - alguns deles bem politicamente incorretos. “Nós nos consideramos não apenas empreendedores, mas também promotores de mudanças”, disse Wael Attili, um cofundador. “Educação é o modo a longo prazo para mudar a mentalidade do povo, mas a mídia para nós é o caminho a curto prazo.”

Com tantos jovens à procura de trabalho, “a única forma de lidar com o desemprego é inventar seu próprio emprego”, disse Majed Jarrar, fundador da VitalTronix, que está desenvolvendo tecnologia de monitoramento cardíaco. Essa atitude é o petróleo da Jordânia.

O governo daqui enfrenta problemas reais com corrupção e reforma política, mas também criou a melhor plataforma árabe combinando educação, Internet de banda larga e sem censura, e leis que protegem a propriedade intelectual e incentivam o investimento.

Este é um novo modelo de crescimento árabe - baseado em empreendedorismo, não em contratos com o governo. “O empreendedorismo envolve empoderamento”, disse Fadi Ghandour, um investidor na Oasis500 e fundador da primeira empresa árabe listada na Nasdaq: a Aramex. “Assumir a propriedade de seu futuro e dar capacidade e ferramentas para esses jovens empreendedores aspirantes significa que eles serão menos dependentes do Estado e se tornarão criadores de empregos, em vez de apenas pessoas à procura de empregos, criando valor para si mesmos, para seus funcionários e para a comunidade.”

Esse é o motivo para eu estar torcendo por esta Primavera Árabe tanto quanto pela outra.