As pessoas dos livros. Esse é o título de um livro da Fernanda. Young. Sempre achei o nome bom. Independentemente do significado. Que muitas vezes me pareceu simples. Tão simples que eu achava insuficiente. Mas agora acho que entendi. Ou, pelo menos, passei a assinar embaixo.
Fui ao cinema ver o filme da Gal. Cinema, filme e Gal são palavras do tipo "cama, mesa e banho"— sons tão bonitos que mal dá vontade de misturá-los a outros. A outras palavras. Eu poderia passar minha existência nesse dicionário. Aliás, já passo.
Eu não sei se é por causa dos eclipses. Ou se tem a ver com a reação coletiva ao excesso de homens no STF. Talvez seja a frase da peça da Vera Holtz. Que vi no último domingo. Quando ela fala, citando o Harari, que quase tudo nessa vida é invenção: pátria, time, amor, família, relevância. Quase...
Estava saindo de uma reunião de trabalho. Me pediram um Uber pela empresa. Entrei. "Boa noite", eu disse. Silêncio. "Boa noite", repeti. O motorista, contrariado, respondeu. "O ar-condicionado já está ligado".
Eu já entendi. O certo agora é separar em público. E também se casar, anunciar gravidez, sexo de filho, traição, despedida da carreira, corte de cabelo. Nada contra. Cada um é feliz e infeliz como pode. E, de alguma forma, não posso dizer que também não faça certo uso — menos lucrativo, é verdade —...
Quando eu tinha 20 anos, a mãe da minha maior amiga se matou. Recém-separada, não aguentou o tranco do casamento desfeito. Aos 49 anos, se jogou do 11° andar de um flat em Ipanema.
Domingo à noite, hora da angústia. Ou do "Fantástico". Depois de dois dias com o pai, meu caçula chega em casa. Com a camisa do Flamengo. Quanto foi o jogo, filho? "Um a zero. Pro São Paulo". Poxa, Bento, que chato — eu comento, sincera. "Tudo bem, mãe, pelo menos eu não sou Fluminense, que nem...
Dois rapazes se conhecem em uma balada. Um deles, que mora em frente ao local, chama o outro pra conhecer sua casa. O clima entre eles é de encantamento. Chegando la, bebem, veem vídeos, conversam. O dono do apartamento, que na verdade racha o aluguel com uma amiga, abre um vinho. Que, logo...
Semana da Independência. Aqui estamos. Mas esquecendo o contexto histórico — e deixando de lado o fato de que nunca realmemte pre-ci-sa-mos de Portugal — volto à palavra. Que, no primeiro dicionário ao qual recorro, vem com definições sobre afeto. E não com a cena de D. Pedro às margens do Ipiranga.
Faz um mês que tento escrever sobre outra coisa. Finalmente vi "Oppenheimer". Tenho ouvido os podcasts "Alexandre" e "Collor versus Collor". Acompanho os passos — cada vez mais "intrigantes", digamos assim — da trajetória do Neymar. E já sei, graças ao ex-presidente, quase tudo sobre relógios de...
Parece que faz um século, mas foi ontem. Não podíamos tocar em nada. Não podíamos ver ninguém. Descobrimos a roda que havia no álcool gel. E transferimos para os olhos, os egos da boca e do nariz. O medo de morrer era o sentimento de todas as horas —e não de duas vezes por dia, como deve ser em...
Nunca era o momento certo. A frase, roubada do último —e fraco— filme do Wes Anderson, segue comigo. Serve para o momento de romper com os pais, como foi o caso da atriz Larissa Manoela. Serve para ficar de bem com eles, como é atualmente o meu. Serve para agora, essa chance de sempre, que às vezes...
Marlene e Emilinha. Ruth e Raquel. Anitta e Ludmilla. Marlene e Xuxa. Brigas entre mulheres são, há anos, uma peça de venda infalível. Sem erro, sem risco, e, na opinião da Barbie Climatério que vos fala, sem benefícios. Pelo menos para a gente, que ainda precisa lutar tanto por representatividade.
Ontem, enquanto escrevia a coluna de hoje, minha mãe caiu. Com ela, fomos Sinéad O'Connor —que era o tema do meu texto— Fernanda Young, eu, a seleção feminina de futebol e metade das mulheres das quais sou feita. Pela distância ou pela identificação.
Me preparo para escrever sobre a Barbie. Para dizer que me emocionei com o filme. Que o achei esperto, corajoso, transgressor. Que, sim, gosto de rosa. Que talvez desaponte feministas. E machistas. Homens, mulheres. Amigos de esquerda, cinéfilos, intelectuais, amigas radicalmente contra a boneca. E...
Na sexta, foi a Xuxa. Fui dormir sonhando com ela. Sábado e domingo, Balão Mágico. Cantei todas as músicas escondida no quarto. Sim, meus filhos estão de férias. E são grandes. A garota aqui sou eu.
Foi no dia 9 de novembro de 2022. Dia em que completei 47 anos. Tomei café da manhã com meus filhos, recebi meia dúzia de parabéns, e de repente, a noticia: Gal Costa, uma das maiores cantoras do Brasil, morre aos 77 anos. Lembro exatamente da hora: 11h11. E de como aquele instante dividiu meu dia...
Enquanto escrevo esse texto, Zé Celso não está mais aqui. "Aqui", muitas vezes, é uma palavra ampla. Dependendo da circunstância, corre o risco —e a ventura— de ser relativa. Pode ser uma cidade, um órgão do corpo, um cômodo de uma casa. Mas não nesse caso. Aqui é a data de hoje, um conceito...