Mandava um ojo de bife com purê de papas num simpático restaurante de estrada quando meu sobrinho tirou dois Messis do bolso. Havia comprado os chaveiros na base do Aconcágua, disse. Horas antes, passeávamos pelos Andes, disparávamos bolas de neve e avistávamos a montanha mais alta América com seu...
Já tem mais de década que uma sombra estranha se alastra pelo mundo. Não dá para acostumar. Tomei um susto quando vi dois caras com a "Bíblia" nas mãos fazendo pregação durante a abertura da Copa América. Virou campeonato da igreja o negócio?
O corpo de Ana, uma adolescente, foi encontrado num terreno baldio. Carbonizado e esquartejado, apresentava indícios de que poderia ter sofrido violência sexual. Ao enterrar a sua irmã, Lia se rebelou contra a religião e contra a família. Rompeu relações e se declarou ateia. Deixou a Argentina e...
Uma das tradutoras de "A Débil Mental" procurou Ariana Harwicz com um pedido: usar aspas quando a personagem chama a si mesma de retardada mental. É um termo ofensivo no meu idioma, afirmou essa tradutora. "No meu também", respondeu Ariana. Ceder seria o equivalente a usar próteses morais ou aspas...
Numa conversa, um artista disse desconfiar do poder da inteligência artificial. Contra-argumentei: não acho que essas ferramentas substituirão grandes criadores logo de cara, mas o problema é o pessoal de talento médio. O povo do trabalho protocolar, o grosso de qualquer profissão. Esses estão numa...
É curioso como relações se constroem das maneiras mais improváveis. Quando Anthony Bourdain desencanou da vida, em 2018, passei a prestar atenção ao seu trabalho. A maneira como a morte repercutiu entre pessoas próximas me fez olhar com carinho para a obra do chef de cozinha transformado em estrela...
"Ao contrário de outros tantos vícios, o dos livros é, na verdade, uma virtude. De fato, ter livros não é o mesmo que, por exemplo, ter dinheiro. Ter livros é como ter amigos, ter dinheiro é como ter com que pagar a amigos".
Em alguns casos, o peso de um dado biográfico aliado à centralidade de uma obra na carreira de um artista faz com que seja difícil pensarmos nessa pessoa sem que imediatamente lembremos de tal trabalho e de tal momento de sua vida. Escrevo isso tendo em mente o italiano Primo Levi.
"Sei muito bem que não se comparam com as vidas e os sonhos levados pelas águas. Mas eles também são uma forma de vida e de sonho. Refiro-me aos livros, tomados e destruídos pelo enxurro, aos milhões, no Rio Grande do Sul", escreveu Ruy Castro numa bonita e dolorosa coluna.
Como disse outro dia, ao escrever sobre o Pulitzer para a mexicana Cristina Rivera Garza, nós adoramos o reconhecimento gringo. O que deveria soar como um "legal que descobriram algo da gente, boa leitura aí para vocês" vira um fuzuê capaz de influenciar o olhar de muita gente por aqui. Agora...
"O futuro do romance está na América Latina, onde tudo está por ser dito, por ser nomeado, e onde, por sorte, a literatura surge de uma necessidade, não de um esquema comercial ou de uma imposição política, como muitas vezes acontece em outras partes".
Na semana passada o Pulitzer, um dos prêmios mais importantes dos Estados Unidos, anunciou seus vencedores. A mexicana Cristina Rivera Garza levou a categoria Memórias ou Autobiografia por conta de "O Invencível Verão de Liliana".
Uma manhã em que demos uma olhada na cara do Guaíba e depois fomos até o Mercado Municipal. Tomei cerveja antes do almoço, depois mandei um pastel de charque - parecia algo meio típico. Entre um corredor e outro avistei o escritor Michel Laub. Preferi não importunar, ainda não nos conhecíamos...
Foram os reis que arrastaram pedras para construir Tebas? Para onde foram os pedreiros depois que a muralha da China ficou pronta? Alexandre estava sozinho quando saiu por aí para conquistar meio mundo?
Não pretendia escrever sobre o esdrúxulo caso Tio Paulo. É deprimente ver como uma cena fúnebre se espalhou como chacota pelas redes. A perversidade e a violência andam tão banalizadas que não nos chocamos com mais nada. Todo horror vira meme.