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Com tema sobre guerreiros, Tatuapé busca o tri no Carnaval de São Paulo

Acadêmicos do Tatuapé busca o tri no Carnaval paulistano - Ricardo Matsukawa/UOL
Acadêmicos do Tatuapé busca o tri no Carnaval paulistano Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

Daniel Lisboa

Colaboração para o UOL

04/01/2019 11h25

Imagine um time sem uma "camisa pesada" vencer o maior título que pode disputar apenas quatro anos depois de subir da segunda divisão. Algo como o Juventus da Mooca repetir a façanha do Corinthians, que voltou à elite do futebol brasileiro em 2009 para ser campeão mundial em 2012.

No universo carnavalesco, a autora desta façanha notável é a Acadêmicos do Tatuapé. A escola de samba da Zona Leste de São Paulo voltou a desfilar pelo grupo especial apenas em 2013, foi vice-campeã em 2016 e levou os títulos dos anos seguintes.

"Tudo o que está acontecendo foi planejado. Mas admito que não esperávamos conseguir esses resultados tão rápidos", diz Eduardo Santos. O presidente da escola conversou com o UOL na noite desta quinta-feira (03), quando os integrantes da escola fizeram o primeiro ensaio em 2019. 

Fundada em 1952 com o nome de Unidos de Vila Santa Izabel, a escola passou por fases difíceis ao longo de sua história. Frequentou divisões inferiores durante vários anos e chegou a paralisar as atividades por um breve período no final dos anos 80. Em 2015, só não voltou ao grupo de acesso porque superou a Mancha Verde pelos critérios de desempate.

"Acredito que dois pontos foram fundamentais para este grande momento. A seriedade com a qual planejamos e executamos as coisas e, principalmente, o resgate dos laços com a comunidade", diz Santos.

O presidente da escola cita como exemplo deste resgate o fato de a escola parar de vender fantasias a qualquer um. Quem quer desfilar pela agremiação precisa de fato se vincular a ela, escolhendo a ala pela qual deseja desfilar e frequentando os ensaios. Só aí ganha uma fantasia.

"Podemos dizer que nós meio que obrigamos a pessoa a criar um vínculo verdadeiro com a escola", diz Santos. "E mesmo assim nunca acontece de sobrar fantasia. Ao contrário, na verdade temos fila de espera de interessados em desfilar."

Santos também considera a Acadêmicos do Tatuapé uma escola democrática. Opinar sobre o tema a ser escolhido para o Carnaval, por exemplo, é "algo aberto a todos os componentes". 

Em 2018, a escola levou o título na última nota do último jurado. Para deixar Santos ainda mais nervoso, a consagração só veio nos critérios de desempate. Uma disputa tão apertada, que às vezes parece absurda para os leigos no assunto, é justamente o que leva Santos a não remoer detalhes sobre o que pode dar errado durante o desfile.

Pelo menos, é o que ele diz. "São tantos detalhes envolvidos que não há como ter controle sobre tudo. Por isso, pra gente tudo o que importa é terminar o desfile sabendo que fizemos o melhor que poderíamos ter feito. Temos que fazer a apresentação das nossas vidas. Se conseguirmos, o título só nos deixará um pouco mais contentes do que já estaremos."

A escola tentará o tricampeonato com um enredo sobre personalidades consideradas grandes guerreiros da história, tanto estrangeiros quanto brasileiros. Com o título "Bravos Guerreiros - Por Deus, pela honra, pela justiça e pelos que precisam de nós", a agremiação lembrará também o quanto cada brasileiro, mesmo anônimo, também tem seu lado "guerreiro".

Integrante da escola desde 1994, e mestre de bateria há dez anos, Higor Silva confessa que, no início, a ideia de ganhar um título era quase uma utopia. "Faltava organização, várias coisas. Mas agora a gente vem para disputar mais uma vez."

Se depender da companheira Andrea Capitulino, Silva já pode comemorar. A rainha de bateria estreou na escola em 2017 e já foi campeã. Repetiu a dose ano passado e ganhou a alcunha de "rainha pé-quente". "Estou muito confiante no tricampeonato. Os temas dos outros anos foram lindos, mas agora traremos um que vai falar com todos os brasileiros, tocar os corações de todos que estiverem no Anhembi", diz Andrea.

Assim como um jogador que acaba de chegar e já sai levantando taças, ela sabe que o sucesso traz mais responsabilidades. Nada, porém, com a qual ela já não tenha se acostumado a lidar. "Os dias antes do desfile são difíceis. Faço meditação e me agarro a todas as técnicas e orações possíveis para me acalmar e manter o foco. Mesmo assim, às vezes dá até piriri."

São Paulo