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Cantora Maria Rita embala feijoada e leva quadra da Portela ao delírio

Maria Rita se apresenta durante feijoada na Portela no Rio - Júlio César Guimarães/UOL
Maria Rita se apresenta durante feijoada na Portela no Rio Imagem: Júlio César Guimarães/UOL

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

05/01/2019 23h16

A nação portelense não tinha motivos para reclamar na tarde e na noite calorosas deste sábado (5), na quadra da escola em Madureira, zona norte do Rio. Embalada por canções de samba, pagode e da cantora Maria Rita, a feijoada tradicional da Portela levou cinco mil sambistas à loucura - e trouxe uma prévia do que vai vir pela avenida durante o Carnaval 2019. (Veja imagens no álbum abaixo)

Grande estrela da noite, Maria Rita cantou um repertório de oito músicas. Ao som de cavaquinho e sob delírio do público presente, a cantora abriu a apresentação com "Meu Lugar", música de Arlindo Cruz cuja estrofe exalta Madureira, bairro que sedia a escola de samba. O show continuou com "Maltratar", agora sob acompanhamento de um conjunto de sambistas - a maioria da Velha Guarda da Portela.

A euforia tomou conta da quadra com o "pout-porri" de "O Bêbado e o Equilibrista" (clássico que ganhou fama na interpretação de sua mãe, Elis Regina) com "O Show", entoado em coro pelos presentes. "Saudade Louca", do sambista Arlindo Cruz, e "Coração Leviano", de Paulinho da Viola, deram continuidade à apresentação.

"Coração em Desalinho", de Monarco e Ratinho, interpretada pela cantora há anos, fecharia a apresentação. Mas a emoção e a interação entre a cantora e o público era tão intensa que ela emendou "O Que é o Amor"", de Arlindo Cruz, para delírio absoluto dos presentes.

"Sambo muito"

Nem a chuva do final da tarde espantou os foliões da sede da escola, cuja quadra é integralmente coberta. Caso da corretora de imóveis Isabel Cristina Teixeira, 60. Portelense desde 1974, ela transbordava alegria e emoção.

"Maria Rita, que é filha da minha ídola [Elis Regina], é muito querida pelos portelenses. Sempre é esse evento maravilhoso e magnífico, que superlotam a nossa escola, a nossa casa", comemorou.

"A Portela já é um ícone. Então a Maria Rita, esse ícone da nova geração, é muito importante para a minha geração, a mais velha. Estou emocionada porque eu não bebo, eu não fumo, mas eu sambo - e sambo muito", continuou ela, que vai desfilar na ala batizada de "Macunaíma".

Entoando todas as letras da Velha Guarda portelense, a bióloga Eduarda Gabriela Bento dos Santos da Silva, 24, sambava e se divertia junto ao namorado e aos familiares. Portelense que desfila desde a adolescência, Eduarda estará na ala "Raízes da Portela" em 2019.

"Hoje está divertidíssimo, o samba nunca decepciona!", exclamou. "A feijoada é um ambiente agradável, familiar, para curtir. Na Portela sempre há o respeito às raízes do samba, tem sempre atrações que revivem esse momento que é importante para a comunidade", prosseguiu.

A ala das baianas não estava na avenida, mas também era puro samba e energia na quadra da escola. Gilma Cardoso Ferreira, 69, vice-presidente do setor, também exaltou a feijoada tradicional.

"A feijoada tem muitos anos já. É a tradição da Portela. Quando vem uma atração boa, a quadra está sempre cheia. O que se vende aqui, a bebida, o feijão, nos ajuda a financiar o carnaval da Portela. Eu acho que neste ano seremos uma das melhores, quem sabe a escola campeã", sonha ela.

Nem as vacas magras desta edição do Carnaval carioca desanimaram a delegação que chefia a escola de samba. Neste ano, a subvenção para as agremiações será de R$ 500 mil para cada uma - um corte de 50% em relação ao valor fornecido no ano passado (que também já havia sido reduzido em relação a 2017).

"Com dinheiro ou sem dinheiro, nós vamos vencer! Temos que fazer nosso trabalho honesto e o resto a Portela inteira", declarou, sob aplausos, Luiz Carlos Magalhães, presidente da escola, que ficou em 4º lugar na classificação geral do Carnaval 2018.

Neste ano, a agremiação escolheu para o Sambódromo um tema que homenageia a cantora Clara Nunes (1942-1983), cujo enredo consiste numa ode ao vasto repertório musical da artista que vai desde canções influenciadas por religiões de matriz africana até sambas-canção, de enredo e partido alto até afoxés, forrós e xotes. A cantora, que era portelense, chegou a puxar sambas-enredos da escola na avenida.

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