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Vai-Vai terá Djamila Ribeiro e Valéria Santos em desfile sobre o povo negro

Djamila Ribeiro é uma das convidadas para desfilar na Vai-Vai - Marcus Leoni/Folhapress
Djamila Ribeiro é uma das convidadas para desfilar na Vai-Vai Imagem: Marcus Leoni/Folhapress

Mateus Araújo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/01/2019 04h00

A filósofa Djamila Ribeiro e a advogada Valéria Santos -algemada em fórum no Rio, no ano passado- estão entre as personalidades negras que participarão do desfile da Vai-Vai no Carnaval deste ano. A escola de samba levará ao Anhembi um enredo sobre históricas lutas do povo negro por justiça e igualdade (veja a programação dos desfiles de São Paulo). 

É a primeira vez que Djamila desfila no Carnaval. "Nunca havia sido convidada antes. Achei bastante interessante e um desafio, porque sou aquela pessoa que geralmente viaja para o meio do mato, no Carnaval", conta. "Fiquei bastante feliz porque vão levar temas interessantes e políticos, que têm a ver com tudo aquilo em que eu acredito."

"Vai-Vai, o Quilombo do Futuro", como foi batizado o enredo da escola, retrata a história da população negra, suas lutas, tradições e os feitos ao longo dos anos. "É um grito de resistência, de mostrar que a população negra avançou nos últimos anos e que a gente não pode aceitar cortes de políticas importantes. Então, ter um Carnaval como esse da Vai Vai é também para dizer que a gente vai continuar lutando e vai celebrar as conquistas", afirma a filósofa. Ela também desfilará no Rio de Janeiro pela Paraíso do Tuiuti.

Em São Paulo, Djamila Ribeiro estará em um carro alegórico ao lado da advogada Valéria Santos e de outras personalidades. A ideia da escola é fazer uma homenagem às conquistas de pessoas negras que, apesar do racismo, tiveram sucesso nas suas áreas de atuação e em suas lutas, cada uma ao seu modo. 

Valéria Santos ficou conhecida nacionalmente no ano passado, após ser algemada por policiais militares no fórum de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, durante uma audiência judicial. Ela discutiu com a juíza leiga, que chamou os policiais. A advogada foi retirada à força da sala, e os vídeos repercutiram na internet.

É também a estreia dela em desfiles de Carnaval. "Não sei nem sambar", confessa. O convite para estar na Vai-Vai surgiu depois da cerimônia de entrega do Prêmio Raça Negra, em novembro, em São Paulo. "A diretora de Carnaval [da escola de samba] disse que esteve no evento e ficou muito emocionada com o meu caso. Então, levou à escola o meu nome para participar. Confesso que fiquei orgulhosa."

Para Valéria Santos, a homenagem é um reconhecimento "das pessoas pelo seu ato de resistência". "Tudo o que eu passei para um dia ser advogada valeu a pena. Cada viagem de trem, abrir mão de ficar com meus filhos, noites sem dormir, todo o sacrifício está sendo recompensado."

Além dos convidados, a Vai-Vai também prepara uma comissão de frente com artistas senegaleses, em referência aos movimentos de diáspora contemporâneos. 

São Paulo